Pressão a bordo equivale à de uma altitude de 2,5 mil metros.
Em 2 de agosto, a jovem Jacqueline Ruas, de 15 anos, morreu durante o voo de volta ao Brasil após uma viagem à Disney. A adolescente embarcou debilitada por uma pneumonia e acabou morrendo dentro do avião.
Segundo especialistas ouvidos pelo G1, Jacqueline não deveria ter embarcado no voo porque o ambiente de uma aeronave altera o funcionamento do sistema respiratório. Eles explicaram o que muda no organismo em altitude elevada e fizeram recomendações para viagens longas.
“A regra básica é: se estiver doente, não viaje”, afirma Amaury Monteiro Simoni, especialista em medicina aeroespacial e ex-coordenador do serviço de emergência médica do Aeroporto Internacional de Viracopos. “Não importa o que você está sentindo. Varia de pessoa para pessoa. Se você não estiver se sentindo bem, se estiver com dor, febre ou com grande cansaço, não deve embarcar”, recomenda Simoni.
Embora aeronaves sejam pressurizadas, a pressão dentro da cabine durante o voo é mais baixa do que a do nível do mar. Em média, equivale à de uma montanha de 1,5 mil a 2,5 mil metros. É suportável, mas faz o organismo passar por um pequeno estresse. “A verdade é que o ser humano não foi fabricado para voar”, explica Simoni.
A principal mudança envolve o sistema respiratório – o que pode ter agravado o quadro de Jacqueline Ruas. “O ar na cabine tem menos oxigênio. Para compensar, o pulmão começa a trabalhar mais. A frequência respiratória acelera”, afirma o médico. Esse aumento é mínimo e não causa nenhum problema em pessoas saudáveis. Mas pode ser perigoso em casos como o da adolescente, em que os pulmões já estavam debilitados.
A adolescente Jacqueline Ruas morreu dentro de um avião de volta ao Brasil - Foto: Reprodução/TV Globo
Quem tem problemas respiratórios, como bronquite e asma, precisa procurar tratamento antes de viajar, segundo o pneumologista João Marcos Salge, do Hospital das Clínicas de São Paulo "O ideal é que a pessoa adie a viagem e só embarque depois de se tratar, para controlar os sintomas e evitar crises", recomenda.
O coração acompanha o aumento na frequência respiratória, acelerando os batimentos cardíacos. “O coração tenta levar mais oxigênio mais rápido para as células”, diz Simoni.
Além disso, o ar seco (a umidade dentro da cabine fica abaixo dos 20%) complica casos de alergias e rinites. E as mudanças de altitude fazem os gases dentro de nosso organismo se expandirem. Isso causa desconforto abdominal e aquela sensação de ouvidos “tapados”.
Quem tem dores de ouvido recorrentes precisa procurar um médico antes de viajar, para receber o remédio adequado. Em casos graves, a mudança de altitude em pessoas sensíveis pode causar a perfuração do tímpano.
Pessoas com doenças crônicas precisam carregar sua medicação. É o caso, por exemplo, de quem sofre de cálculo renal. O ambiente da aeronave não interfere no surgimento de pedras nos rins, mas é recomendável que pessoas que costumam sofrer com o problema levem remédios a bordo.
“O ideal é que a pessoa faça um tratamento completo para tratar o cálculo renal. Se for viajar, precisa pedir uma orientação médica sobre os remédios mais adequados para lidar com uma eventual crise a bordo. Se isso acontecer, o passageiro deve se medicar e procurar um pronto-socorro assim que o avião pousar”, recomenda o nefrologista Antônio Carlos Seguro, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mulheres grávidas não podem embarcar em aviões durante o terceiro trimestre de gestação - para autorizar o embarque, as companhias aéreas exigem autorização médica.
Como no caso de quem sofre de cálculo renal, o motivo não é o voo em si, mas a possibilidade de algo dar errado. “O avião não interfere na gravidez. Mas qualquer coisa que aconteça lá em cima não vai poder ser resolvida rapidamente”, afirma o obstetra José Maria Soares Jr, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Nos dois primeiros trimestres a mulher pode viajar, mas os médicos recomendam que ela só faça isso se realmente precisar. “Uma aeronave é um ambiente fechado. O risco de se contaminar por doenças como gripe, sarampo, catapora, é mais elevado. O ideal é que a gestante evite viagens aéreas”, recomenda Soares. Se ela precisar viajar, deve se alimentar de forma leve, se hidratar bem, usar meias que estimulam a circulação e procurar se movimentar de tempos em tempos nos corredores.
As pessoas saudáveis não precisam se preocupar muito. Basta aplicar o bom senso, consumir alimentos leves e beber muita água e sucos. Bebidas alcoólicas devem ser evitadas, por que seus efeitos são potencializados com a pressão reduzida da cabine. Em caso de qualquer dúvida, o passageiro precisa procurar seu médico antes de embarcar.
Fonte: Marília Juste (G1)