Criado há mais de 50 anos, Sindicato Nacional dos Aeronautas nunca teve notícia deste tipo; incidente ocorreu em Minas Gerais
Um homem foi expulso de um avião da Companhia Trip Linhas Aéreas, no Aeroporto Internacional Presidente Tancredo Neves, em Confins, na Grande Belo Horizonte.
Apesar de sua identidade não ter sido revelada pela empresa, ele foi obrigado a deixar um jato Embraer 190, que seguiu em voo para Palmas (TO), com escala em Goiânia (GO).
“Eu não voo com mulher no comando”, disse momentos antes, segundo testemunhas. O caso aconteceu na noite da última sexta-feira (18).
Após comentário, passageiro saiu do avião escoltado
Foto: Elvans/vc repórter
O presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Gelson Fochesato, lamentou a situação e a considerou “absurda”.
“Nem mesmo nos Emirados Árabes, um lugar mais restrito em relação às mulheres, existe isso. A aviação brasileira conta com mulheres há pelo menos 30 anos e é muito estranho e absurdo acontecer este tipo de situação. Há mulheres comandantes no mundo inteiro e nunca tivemos notícia de uma situação como esta. Infelizmente, este passageiro foi pioneiro. As mulheres são cuidadosas e é muito seguro voar tanto com elas quanto com homens”, destacou o comandante. O sindicato foi criado em 1946.
O empresário Paulo César de Oliveira, 66 anos, estava no voo de Confins para Goiânia e presenciou a confusão gerada pela atitude preconceituosa do passageiro. O resultado, além da expulsão do homem, que aparenta 40 anos de idade, foi o atraso de aproximadamente uma hora na viagem. Oliveira aprovou a retirada do passageiro com comportamento machista por agentes da Polícia Federal (PF), responsáveis pela segurança nos aeroportos da aviação civil.
De acordo com o empresário, os outros passageiros, ao perceberem a situação, reagiram com vaias. Após a retirada do passageiro preconceituoso da aeronave, com capacidade aproximada de 90 pessoas, o voo seguiu tranquilamente para o seu destino, sob a direção da comandante Betânia. Seu sobrenome não foi informado pela companhia aérea.
“Sempre estou neste voo para Goiânia e nunca houve atrasos. Estava marcado para sair às 20h59. Quando eram 21h15, percebi que um passageiro dizendo: 'A Trip deveria ter me avisado que a comandante era mulher. Eu não voo com mulher no comando'”, lembrou Oliveira. “Ela, a comandante, também sentiu-se no direito de não voar com o passageiro e a Polícia Federal foi acionada”, completou o empresário, que aprovou Betânia no comando.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Trip confirmou o caso, mas não permitiu que os envolvidos da tripulação fornecessem mais informações ou comentassem o assunto. Informou, ainda, que é o primeiro registro de situação como esta em um dos voos da companhia. E que o passageiro foi convidado a se retirar, acompanhado por agentes da Polícia Federal (PF). A assessoria de imprensa da PF em Minas Gerais não forneceu informações estatísticas sobre outros possíveis casos de passageiros incomodados com mulheres na cabine de comando.
Mais confiança nas mulheres
Muitas empresas aéreas vêm promovendo mulheres ao posto de comandante e, geralmente, os homens que viajam pelas rotas nacionais e internacionais aprovam a iniciativa. Não são comuns casos tão explícitos de comportamento machista, como o ocorrido no último dia 18, em Minas Gerais. Tanto assim que a Trip e o Sindicato Nacional dos Aeronautas nunca haviam registrado outro igual.
No último sábado, por exemplo, o representante comercial Rafael Stecklow, 28 anos, postou com satisfação foto da comandante de um avião em que embarcou, também no aeroporto de Confins. “Comandante do voo 4422 da Azul, de BH para Campinas, é mulher!!! Tudo pra ser um voo mais tranquilo”, postou Rafael no Twitter.
“Damas Voadoras”
Uma comandante Betânia, da Trip linhas aéreas, e sua equipe inspiraram um texto na internet, com elogios às atuações durante o serviço. A tripulação feminina da Trip, sob o comando de Betânia, recebeu o carinhoso apelido de “Damas Voadoras”. “Procedimentos firmes e manobras de aproximação da pista de pouso perfeitas”, diz trecho em um blog.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indicam que as mulheres vêm conquistando timidamente espaço neste mercado, que inclui também os pilotos particulares. Até 2010, foram emitidas somente 793 licenças de piloto para mulheres. Destas, 163 estavam válidas, ou seja, foram renovadas até 2010. Entre as profissionais, das licenças válidas foram habilitadas 51 pilotos privados de avião, 65 pilotos comerciais e 15 de linha aérea – o nível mais alto da carreira na aviação civil. De helicópteros, a Anac emitiu licenças para 6 pilotos privados, 20 pilotos comerciais e 6 de linha aérea.
Trata-se de espaço profissional predominantemente masculino até o momento. No total de licenças válidas até 2010, esmagadora minoria tinha mulheres como titulares (0,8%), enquanto que os pilotos homens somavam 54.083 licenças emitidas pela Anac, sendo 14.282 renovadas.
Fonte: Denise Motta (iG)