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quinta-feira, 14 de março de 2024

Alerta máximo: como EUA montaram plano para reagir a ataque nuclear russo

Invasão russa à Ucrânia já dura mais de dois anos (Imagem: Sergei Supinsky/AFP)
No final de 2022, os EUA começaram a se preparar "rigorosamente" para um potencial ataque nuclear da Rússia à Ucrânia. A revelação foi feita por dois altos funcionários da administração de Joe Biden à CNN norte-americana.

Como os EUA se prepararam para o cenário?


O receio de um potencial ataque nuclear não era somente hipotético: foi baseado em informações que os EUA adquiriram por meio dos seus canais de inteligência e avaliações analíticas. As informações do plano são detalhadas no livro "O Retorno das Grandes Potências", do jornalista da CNN Internacional Jim Sciutto, que será publicado em 12 de março.

Durante o final do verão (do hemisfério Norte) até o outono de 2022, o Conselho de Segurança Nacional dos EUA promoveu uma série de reuniões para formular planos de contingência. Segundo apuração da CNN, no livro, uma autoridade explica que, no caso de haver a indicação de um ataque com uma arma nuclear, o governo norte-americano estaria preparado para evitar o cenário catastrófico ou dissuadir o governo de Vladimir Putin.

Divulgação urgente. Segundo altos funcionários do governo dos EUA relataram à publicação, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, comunicou as preocupações dos EUA "muito diretamente" ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

Envolvimento de outras agências. Além disso, Joe Biden também enviou o diretor da CIA, Bill Burns, para falar com Sergey Naryshkin, chefe do serviço de inteligência estrangeiro da Rússia, para comunicar as preocupações dos EUA e avaliar as intenções russas.

Colaboração com aliados. Em meio às tensões sobre a possível ocorrência de um ataque nuclear, os EUA também contaram com o apoio de países aliados, conforme contou o funcionário do governo ao jornalista: "Realizamos uma série de conversas discretas com aliados importantes para analisar nossas reflexões."

Ajuda de países não aliados. Os EUA também teriam procurado ajuda de países não aliados, como China e Índia. "Uma das coisas que fizemos foi não apenas lhes enviar mensagens diretamente, mas instar fortemente, pressionar e encorajar outros países, aos quais eles poderiam estar mais atentos, a fazerem a mesma coisa", destacou outro funcionário.

Na época, segundo reportagem de 2022 do The New York Times, centenas de satélites e naves espaciais já monitoravam as forças nucleares da Rússia. Apesar do alerta máximo com o início do conflito na Ucrânia, nada "digno de preocupação" foi detectado desde então e em nenhum momento os EUA detectaram informações de inteligência indicando que a Rússia estava tomando medidas para mobilizar as suas forças nucleares para realizar de fato o ataque.

Ainda assim, havia motivos para continuar procurando. Segundo especialistas, a preocupação é com o que Putin poderia fazer depois de situações de reveses na guerra, com o intuito de restaurar a sua reputação.

Via UOL

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Atirar ou não atirar: o ‘véu dourado’ desenvolvido pela China pode fazer mísseis mortais parecerem aviões de passageiros

Os comandantes militares podem ser postos à prova, já que o novo véu de camuflagem folheado a ouro pode fazer com que os mísseis de cruzeiro pareçam aviões civis. 

O novo dispositivo de baixo custo e baixo peso poderia “mudar a face da guerra”, de acordo com a equipe de cientistas por trás do projeto.

Um dispositivo de véu dobrável, leve e de baixo custo desenvolvido por cientistas na China pode camuflar um míssil de cruzeiro para fazê-lo parecer um Boeing 737 nas telas de radar (Foto: Northwestern Polytechnical University)
Testes de laboratório sugeriram que o dispositivo pode aumentar a seção transversal do radar de um alvo voador de menos de um para mais de 30 decibéis por metro quadrado, disse Zong, que é professor associado de ciência de radar na Universidade Politécnica do Noroeste em Xian, província de Shaanxi.

Isto é semelhante à assinatura de radar gerada por um grande avião, como um Boeing 737 ou um Airbus A320, quando visto de determinados ângulos.

Os refletores de radar já estão sendo usados pelos EUA em alguns de seus mísseis, como o ADM-160 MALD, para fazê-los aparecer como aviões nas telas de radar.

Aeronaves militares furtivas, como o caça F-22 e o bombardeiro B2, também carregam refletores removíveis conhecidos como lentes Luneburg na maior parte do tempo, para que possam se tornar visíveis ao controle de tráfego aéreo civil e ocultar sua verdadeira assinatura de radar.

A ideia de enganar os operadores de radar não é nova. Os EUA já usam o ADM-160 MALD (Foto: Handout)
“A guerra eletrônica tornou-se mais complexa do que nunca. Novos equipamentos e ferramentas eletrônicas de contramedidas estão entrando em serviço a uma velocidade sem precedentes”, disse Zong no jornal.

“Eles estão mudando a face da guerra”, acrescentou ela.

Mas o que torna o véu diferente da tecnologia de reflexão de radar existente é a sua flexibilidade, de acordo com a equipe.

Ele pode ser implantado ou dobrado repetidamente de maneira semelhante a um guarda-chuva, para que o míssil ou a aeronave possam alternar entre os modos visível e furtivo à vontade durante o voo.

A estrutura dobrável e de suporte é feita de materiais de fibra de carbono e pode fornecer resistência suficiente para o serviço militar, disseram os pesquisadores.

O véu também pode mudar de forma e tamanho aleatoriamente, gerando alguns padrões estranhos que confundem os operadores de computador ou de radar.

Outra vantagem importante do véu é seu custo e peso relativamente baixos.

Ative a legenda em português nas configurações do vídeo

Embora existam transmissores inteligentes e poderosos que também podem gerar sinais para confundir o radar inimigo, a tecnologia é complexa e o preço da eletrônica de alto desempenho é geralmente muito alto.

O véu é feito principalmente de materiais de baixo custo e amplamente disponíveis na cadeia de produção industrial da China.

E todo o dispositivo pesa apenas cerca de 1 kg (2,3 lb) – apenas uma fração do peso da maioria dos refletores atualmente em uso ou em desenvolvimento, segundo os pesquisadores.

Esse peso menor significa que o míssil pode voar uma distância maior ou carregar uma ogiva maior. O véu também pode ser montado em navios de guerra ou veículos terrestres.

O baixo custo, o baixo peso e a versatilidade do dispositivo significam que, no futuro, a procura por ele poderá ser enorme.

Mas a equipe de Zong disse que seu próximo desafio é levar o véu à produção em massa. Será difícil alcançar um desempenho uniforme em um grande número de produtos, a menos que o processo de fabricação possa ser feito principalmente por máquinas.

A mídia estatal da China divulgou imagens incomuns no mês passado que mostravam uma fábrica autônoma para produção de mísseis de cruzeiro.

Ative a legenda em português nas configurações do vídeo

Os mísseis de cruzeiro são montados manualmente devido à sua complexidade, de acordo com informações disponíveis abertamente nos EUA e em outros países. Mas na fábrica chinesa parece que a maior parte dos empregos foi substituída por máquinas.

A fábrica de mísseis robóticos pode operar 24 horas por dia e produzir um grande número de armas a baixo custo e com padrões de alta qualidade, segundo o relatório.

O governo chinês acredita que uma nova corrida armamentista com armas de alta tecnologia e de baixo custo, incluindo mísseis de cruzeiro e drones, não só aumentaria o poder de combate do ELP, mas também poderia arrastar os oponentes à falência.

Por Jorge Tadeu com informações do South China Morning Post

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Avião espacial da China libera seis objetos misteriosos na órbita da Terra

Algumas dessas chamadas "alas misteriosas" estão emitindo sinais após terem sido liberadas em órbita pelo avião espacial Shenlong, da China.

Conceito artístico do avião espacial da China liberando um objeto na órbita da Terra,
elaborado com Inteligência Artificial (Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital)
Apenas quatro dias depois de ser lançado de surpresa em sua terceira missão, o avião espacial robótico da China, chamado Shenlong (“Dragão Divino”), parece ter colocado seis objetos na órbita da Terra.

Rastreadores amadores de espaçonaves em todo o mundo estão monitorando esses materiais (designados OBJETO A, B, C, D, E e F) e registraram emissões vindas de alguns deles.

De acordo com o rastreador de satélites e astrônomo amador Scott Tilley, do Canadá, os sinais emitidos pelo OBJETO A se assemelham aos emitidos por objetos liberados pelo avião espacial chinês em missões anteriores.

O avião espacial Shenlong, da China, pouco antes de ser lançado, no
dia 14 de dezembro de 2023 (Crédito: Reprodução redes sociais)
“A emissão do OBJETO A ou das proximidades lembra as emissões anteriores do ‘wingman’ do avião espacial chinês, no sentido de que o sinal é modulado com uma quantidade limitada de dados”, disse Tilley ao site Space.com. No X (antigo Twitter), ele se refere aos objetos como “alas misteriosas” no X (antigo Twitter).


Já os objetos D e E, por sua vez, parecem estar emitindo sinais ociosos de “espaço reservado” sem dados que os acompanhem. “Deve-se notar que, ao contrário das emissões no início das missões 1 e 2 dos aviões espaciais chineses, essas emissões são muito intermitentes e não permanecem por muito tempo”, diz Tilley. “Foram necessários dias de observações rastreando passagem após passagem com antenas parabólicas para chegar a esses dados”.

Não é a primeira vez que o avião espacial da China libera objetos em órbita

Após analisarem os sinais, os rastreadores amadores estão confiantes de que as emissões estão vindo dos objetos ou de perto deles. Esta conclusão baseia-se na observação ao longo de seus caminhos esperados no céu, no fato de que nenhum outro objeto conhecido estava no feixe das antenas dos rastreadores quando os dados foram coletados e no fato de que a modulação particular desses sinais é “única e só foi vista de missões anteriores de aviões espaciais chineses usando uma frequência de 2280MHz”, segundo Tilley.

O avião espacial da China exibiu comportamentos semelhantes no passado. Em suas duas missões anteriores – lançadas em setembro de 2020 e agosto de 2022, respectivamente – a espaçonave foi vista liberando um pequeno objeto desconhecido em órbita.

Especula-se que os objetos poderiam ser módulos de serviço, artigos de teste para praticar a colocação de cargas úteis em órbita ou talvez até pequenos satélites usados para monitorar o avião espacial.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Os aviões do apocalipse: a tríade do juízo final

Estados Unidos e Rússia contam com aviões destinados a controlar uma guerra nuclear.

Caças escoltam o Il-80 Maxdome durante show aéreo em Moscou (Foto: Divulgação)
Criados para oferecer uma chance de os chefes de Estado das duas maiores potências nucleares do mundo manterem o controle do país em caso de uma guerra mútua, os chamados doomsday planes (aviões do apocalipse) são uma extensão do gabinete presidencial de russos e norte-americanos para casos extremo.

Os Estados Unidos e a antiga União Soviética (hoje Rússia) sempre tiveram projetos análogos como resposta às ações de um em relação ao outro como medida de segurança. A estratégia valeu para quase todas as categorias de aeronaves militares e incluiu uma das mais peculiares: a dos chamados doomsday planes ou aviões do apocalipse, em tradução livre. Eles são uma extensão do gabinete presidencial das duas maiores potências nucleares do mundo. A ideia é dar aos chefes de Estado de cada um dos países a possibilidade de continuar no comando de suas respectivas nações no caso de uma guerra mútua.

Ilyushin Il-80 Maxdome



Vítima de um roubo recente de componentes ultrassecretos, o quadrimotor Ilyushin Il-80 “Maxdome” é utilizado pelos russos como plataforma avançada de comando. Maxdome é um codinome usado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para se referir ao avião, que dá ao líder do país a oportunidade de se manter à frente da nação diante de uma situação crítica. Ele é o doomsday plane dos russos.

Derivado do widebody Il-86, o Maxdome recebeu uma série de mudanças estruturais e sistêmicas capazes de mantê-lo operacional mesmo diante da conflagração de uma guerra nuclear. O avião conta com uma enorme antena montada sobre a fuselagem (daí o sugestivo nome de Maxdome), com 9,5 metros de comprimento e 1,3 metro de diâmetro, que oferece a seus ocupantes capacidade de se comunicar com qualquer instalação militar da Rússia por meio de redes de comunicação em solo, no mar e no espaço (via satélite).

Além disso, o Il-80 possui um escritório de crise para o alto comando russo se reunir com o presidente e traçar uma estratégia de resposta, incluindo um contra-ataque nuclear. A aeronave ainda dispõe de proteção contra pulso nuclear, que usualmente causa severas avarias em sistemas elétricos e eletrônicos. Os sistemas embarcados oferecem também comunicação em frequências ultrabaixas, as VLF (very low frequency), permitindo aos tripulantes do avião se comunicar com os submarinos do arsenal da marinha russa.

Boeing E-4B AACP



Os Estados Unidos, por sua vez, ostentado um poderio econômico e militar vastamente superior (são bilhões de dólares disponíveis para gastos em equipamentos militares), possuem nada menos que dois modelos de doomsday plane. O mais famoso é o E-4B AACP (Advanced Airborne Command Post), derivado do Boeing 747-200. A USAF, a força aérea dos Estados Unidos, conta com quatro aviões E-4B, que foram entregues quase simultaneamente aos dois VC-25A (também derivados do Boeing 747-200), os famosos Air Force One.

Um dos destaques do E-4E é sua capacidade de ser reabastecido em voo, o que virtualmente dá ao avião alcance e autonomia ilimitados – na verdade, limitados pela capacidade do óleo dos motores em resistir ao uso por dezenas de horas. O avião também conta com uma grande antena montada sobre o upper deck, que parece menor do que a do Il-80 pela proporção do 747. Os sistemas do avião asseguram uma comunicação integral com o Air Force One.

O presidente estará sempre, ou preferencialmente sempre, a bordo do VC-25A, enquanto o alto comando militar embarca no E-4B, cumprindo a função de Pentágono alado. Assim, o avião pode se comunicar com submarinos, silos nucleares e navios da marinha através de doze canais de voz criptografados, além de poder estabelecer contato via rádio entre 14 kHz e 8.4 GHz, ou seja, quase todo espectro de radiofrequência. O avião dispõe de uma ampla área de reuniões, datalink em vídeo para manter contado com o presidente, proteção contra pulso nuclear, área de descanso para todos a bordo, cozinha completa e assim por diante.

Recentemente, o Pentágono cogitou substituir os dois aviões E-4B pelo Northrop Grumman E-10 MC2A, uma aeronave multimissão de comando e controle baseada na fuselagem de um Boeing 767-400ER. A intenção era substituir também os RC-135 Rivet Joint, E-3 Sentry e E-8 Joint Stars, permitindo realizar missões de reconhecimento, alerta e controle aéreo (AWACS, na sigla em inglês), vigilância terrestre aerotransportada, gerenciamento de batalha e comando e controle. O programa deveria ter sido conduzido em paralelo ao KC-46 Pegasus, mas foi cancelado em meados de 2008.

Boeing E-6 Mercury



A Marinha dos Estados Unidos também possui aviões com a mesma função básica do E-4B. São 16 quadrimotores E-6 Mercury, baseados no Boeing 707, que podem se tornar aviões do apocalipse. A diferença é que estas aeronaves da Marinha têm como prioridade a comunicação com a frota norte-americana de submarinos de ataque nuclear.

Por Edmundo Ubiratan (Aero Magazine)

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Rússia lança mísseis em manobra e intercepta avião dos EUA no Ártico

Em imagem divulgada pelo Ministério da Defesa russo, navio de guerra dispara míssil de cruzeiro Vulkan durante exercício no mar de Bering, nesta segunda (18) (Foto: Ministério da Defesa da Rússia/Reuters)
Em plena crise com o Ocidente devido à Guerra da Ucrânia, a Rússia flexionou sua musculatura militar na região do Ártico, uma de suas principais fronteiras estratégicas, nesta segunda (18).

Cerca de 10 mil militares da Marinha participaram de lançamentos de mísseis de cruzeiro Vulkan, Granit e Onix em alvos simulados no mar de Bering, que separa o seu território do Alasca, estado norte-americano que foi vendido pelos russos aos EUA em 1867.

Os exercícios foram conduzidos na região de Tchukotka e também no mar de Tchuktchi, que fica acima de Bering no círculo polar ártico. Os mísseis foram disparados de terra, de navios e de submarinos, numa demonstração supervisionada pelo comandante da Marinha, almirante Nikolai Ievmenov.

O objetivo declarado da manobra era a "proteção da rota marítima da norte", um dos projetos prioritários de Vladimir Putin. Desde a aceleração do derretimento do gelo ártico no verão, devido às mudanças climáticas, foi facilitado o transporte comercial entre os portos da Rússia no mar de Barents, no extremo leste do país, e a China, passando pelo círculo polar.

A Rússia já opera a única frota de quebra-gelos de propulsão nuclear do mundo. Com menos obstáculos, os planos foram feitos para incrementar o intercâmbio comercial com a vital aliada na Guerra Fria 2.0 contra os EUA e seus aliados ocidentais.

Ao demonstrar capacidades militares, Moscou busca lembrar os adversários de que pretende garantir a segurança naquela rota. No ano passado, Putin afirmou que deverá gastar o equivalente a US$ 150 bilhões até 2035 com o desenvolvimento da infraestrutura portuária ao longo da rota do Ártico —a região já ganhou a única usina nuclear flutuante do mundo.

No mês passado, em encontro do bloco Brics (com Brasil, Índia, China e África do Sul) ao qual compareceu de forma virtual para evitar ser preso devido à ordem do Tribunal Penal Internacional, o presidente russo afirmou que novos terminais de exportação de hidrocarbonetos estão sendo construídos —já há grandes projetos de exploração de gás natural na região, como o Iamal.

Também nesta segunda, a Rússia interceptou um avião de patrulha e espionagem P-8A da Marinha dos EUA perto de seu espaço aéreo no mar de Barents. Um caça MiG-31 da Frota do Norte, baseada no porto de saída da rota marítima em Murmansk, foi empregado na ação.

O P-8A, principal modelo do tipo dos EUA e de diversos países, deu meia-volta. Nas últimas semanas, isso havia acontecido ao menos três vezes com um avião idêntico da Força Aérea da Noruega, que é vizinha da região de Murmansk.

Tais interceptações são uma realidade quase diária em pontos de atrito entre grandes e médias potências. Com a guerra, o mar Negro viu explodir a atividade aérea, com os riscos inerentes explicitados no choque entre um caça russo e um drone americano no começo do ano. Báltico, Ártico, Oriente Médio, mar do Sul da China e estreito de Taiwan veem ações frequentes.

Enquanto isso, na Ucrânia, o conflito segue em alta temperatura. Ao longo da noite de domingo para segunda, as forças locais disseram ter derrubado todos os 17 mísseis de cruzeiro lançados contra seu território, além de 18 de 24 drones suicidas. Houve explosões em vários pontos do país, e ao menos quatro pessoas morreram.

Não houve ataques relatados na região do rio Danúbio, onde destroços de drones russos têm caído na vizinha Romênia, integrante da aliança militar ocidental Otan. O país, contudo, diz que tais incidentes não configuram um ataque, o que elevaria ainda mais a crise em curso.

Nesta segunda, a Bulgária, outro membro da Otan às margens do mar Negro, afirmou ter localizado um drone armado com explosivos em uma de suas praias. Não está claro se ele caiu ou se havia sido levado pelas correntes marítimas, e também não foi divulgado se ele era russo ou ucraniano.

Em Kiev, o governo segue a mudança no comando da Defesa, com a troca dos seis vice-ministros da pasta. Há duas semanas, o titular, Oleksii Reznikov, foi substituído após o desgaste decorrente das dificuldades ucranianas na contraofensiva lançada em junho e de diversos casos de corrupção.

Desde então, o governo de Volodimir Zelenski tem focado ações mais espetaculosas, como o ataque que danificou um navio e um submarino russos em reparos numa doca seca na sede da Frota do Mar Negro, em Sebastopol, na semana passada.

Além disso, após propagandear que estaria perto de um avanço mais decisivo no sul de sua frente contra os invasores, Kiev agora parece ter focado na tentativa de reconquistar Bakhmut, bastião da região de Donetsk (leste) que os russos haviam tomado em maio.

Nesta segunda (18), as Forças Armadas de Zelenski afirmaram ter rompido uma linha de defesa próxima da cidade com a conquista de dois vilarejos em ruínas na semana passada. O Ministério da Defesa da Rússia contesta isso, dizendo que segue repelindo os ataques dos rivais.

Seja qual for a realidade, o fato é que o tempo para os ucranianos está acabando, dado que as chuvas do outono do Hemisfério Norte devem começar talvez em um mês ou menos, obstruindo movimentos de tropas e blindados. O momento para conquistar algum prêmio e manter o apoio do Ocidente, para os generais ucranianos, é agora.

Os russos, por sua vez, têm apostado na resistência e nos avanços que fazem mais ao norte, esperando a chegada do mau tempo para iniciar uma campanha de bombardeio com mísseis de longa distância semelhante à do ano passado, visando deixar a Ucrânia sem energia durante os meses de inverno.

Via Igor Gielow (Folha de S.Paulo)

sábado, 3 de junho de 2023

Em meio às tensões com a Rússia e a China, os EUA estão prontos para um possível conflito espacial

(Imagem: edobric/Shutterstock.com)
Os Estados Unidos estão preparados para potenciais conflitos orbitais em meio a tensões crescentes com a Rússia e a China, disse um alto oficial militar dos EUA ao The Guardian, acrescentando que os EUA “estão prontos para lutar esta noite no espaço, se for necessário”.

A Força Espacial dos EUA (USSF) expressou inúmeras preocupações ao longo dos anos sobre a Rússia e a China desenvolvendo ativamente uma variedade de armas destinadas à segurança espacial dos EUA, incluindo guerra cibernética, plataformas de ataque eletrônico, tecnologia a laser capaz de cegar ou danificar sensores de satélite, mísseis que pode destruir satélites do solo e sistemas de engajamento orbital que podem atingir diretamente os satélites dos EUA.

Agora, diz o funcionário do US Space Command, o país está preparado para defender seus interesses no espaço. “Se alguém ameaçar os Estados Unidos da América ou qualquer um de nossos interesses, incluindo os de nossos aliados e parceiros com quem temos tratados de apoio mútuo de defesa, estamos prontos”, disse o Brig do Exército dos EUA. O general Jesse Morehouse, responsável pelas operações espaciais, disse à publicação.

A estratégia espacial da Rússia tornou-se cada vez mais agressiva, com um ataque cibernético à empresa de satélites americana Viasat lançada apenas uma hora antes de invadir a Ucrânia em 2022 e ameaças de atingir os EUA e outros satélites comerciais ocidentais envolvidos no conflito na Ucrânia. A Rússia também foi acusada de lançar um satélite “inspetor” Kosmos-2558 para coletar informações de ativos militares dos EUA.

A China, por outro lado, está avançando em suas ambições espaciais, com a estatal China Aerospace Science and Technology Corporation (CASC) com o objetivo de igualar as capacidades da SpaceX até 2025 e superá-la até 2030. Além disso, a China sozinha possui 262 inteligência, vigilância , e satélites de reconhecimento (ISR), quase tantos quanto o resto do mundo, incluindo os EUA, juntos.

O uso de satélites na guerra cresceu exponencialmente, levando as nações a não apenas desenvolver espaçonaves avançadas, mas também operações antiespaciais. A China lançou satélites equipados com braços robóticos capazes de agarrar outros satélites e desenvolveu explosivos secretos que podem simular o mau funcionamento do motor em satélites adversários, enquanto a Rússia testou a tecnologia antissatélite (ASAT) destruindo seu próprio satélite, prática proibida pelos EUA em 2022 devido aos detritos perigosos que produz.

Nos EUA, a crescente importância do espaço na segurança nacional levou ao aumento do foco na militarização do espaço, incluindo o estabelecimento da Força Espacial dos EUA e o restabelecimento do Comando Espacial dos EUA.

Com informações do Aero Time

terça-feira, 30 de maio de 2023

Missão Shenzhou-16 leva primeiro astronauta civil da China ao espaço

Segundo a Agência Espacial Tripulada da China, o cientista Gui Haichao vai conduzir uma variedade de experimentos no laboratório orbital.

Lançamento da missão Shenzhou-16 rumo à estação espacial Tiangong, da China (Crédito: CCTV)
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, na noite de segunda-feira (29), a China lançou a missão Shenzhou-16, seu quinto voo tripulado à estação espacial Tiangong. Um foguete Long March 2F decolou do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan às 22h31 (pelo horário de Brasília), levando três astronautas a bordo – entre eles, o primeiro cientista civil do país a ir para o espaço.

De acordo com a Administração Espacial Nacional da China (CNSA), o comandante Jing Haipeng era o único veterano dos membros, já tendo participado de outras três missões anteriores ao laboratório orbital.

“É uma grande honra para mim servir como comandante pela terceira vez. Desta vez, sou o principal responsável pela organização e coordenação, incluindo a comunicação espaço-Terra e o comando da missão”, disse ele em uma conferência de imprensa realizada na véspera do lançamento, quando a tripulação foi apresentada ao público.


Além dele, estavam o engenheiro Zhu Yangzhu e o pesquisador Gui Haichao, que é professor de Aeronáutica e Astronáutica na Universidade Beihang e único taikonauta (designação para astronautas da China) que não faz parte do Exército Popular de Libertação.

Tripulação da missão Shenzhou-16: o comandante Jin Haipeng (centro), oprimeiro astronauta civil da China, professor Gui Haichao (esquerda), e o engenheiro de voos espaciais Zhu Yangzhu (direita). Crédito: CMSA

Segundo o diretor adjunto da Agência Espacial Tripulada da China (CMSA), Lin Xiqiang, o professor será responsável por conduzir “experimentos de larga escala em órbita, para estudar novos fenômenos quânticos, sistemas espaciais de tempo-frequência de alta precisão, a verificação da relatividade geral e a origem da vida”.

(Fotos: CMSE)
Cerca de seis horas após a decolagem, os três chegaram à estação em forma de T, onde vão morar e trabalhar durante aproximadamente seis meses. “O lançamento foi um sucesso completo, e os astronautas estão em boas condições”, declarou Zou Lipeng, diretor do espaçoporto de Jiuquan.

Eles foram recebidos pelos membros da missão Shenzhou-15, Fei Junlong, Deng Qingming e Zhang Lu, que estão lá desde novembro e devem retornar à Terra nos próximos dias.

China pretende levar astronautas à Lua até 2030


Com 20% da massa total da Estação Espacial Internacional (ISS), Tiangong tem uma vida útil estimada em 10 anos, que poderá ser estendida por mais cinco anos com upgrades futuros, segundo a CNSA.

Ainda de acordo com a agência, a China planeja manter seu laboratório orbital constantemente ocupado durante esse período, não apenas por taikonautas, como também para astronautas de outras nacionalidades e até mesmo visitas turísticas.

Vale destacar que a China, segunda maior economia do mundo, tem investido pesado para superar a Rússia e os EUA na corrida espacial, tendo como um dos principais objetivos enviar humanos à Lua até 2030.

sábado, 22 de abril de 2023

China desenvolve drone supersônico para possível ataque a Taiwan, dizem documentos secretos dos EUA

Aeronaves não tripuladas voam numa velocidade 3 vezes maior que o som e são capazes de obter dados em tempo real em missões de espionagem, além de executar ataques com mísseis.

Pequim deixou clara sua ambição de implantar drones avançados em 2019, quando dois drones pretos desfilaram pela Praça da Paz Celestial. Poucos analistas consideraram os drones totalmente operacionais na época (Foto: Greg Baker/AFP/Getty Images)
As Forças Armadas da China desenvolveram um esquadrão de drones supersônicos preparados para voar em altitudes altas, de olho em um possível ataque aéreo a Taiwan, indicam documentos ultrassecretos do Pentágono vazados no aplicativo Discord pelo piloto da Guarda Nacional de Massachusetts Jack Teixeira.

Um desses documentos, da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos Estados Unidos, mostra que os chineses já desenvolveram uma tecnologia militar capaz de atingir navios de guerra americanos ao redor de Taiwan, bem como bases militares na região.

Imagens de satélite gravadas em 9 de agosto mostram dois drones WZ-8, movidos por propulsão de foguetes, numa base aérea na China a 350 km de Xangai. Essas aeronaves não tripuladas voam numa velocidade 3 vezes maior que o som e são capazes de obter dados em tempo real em missões de espionagem, além de executar ataques com mísseis.

Os papéis secretos também descrevem possíveis rotas de voo para o drone, bem como para o bombardeiro bimotor H6-M Badger usado para lançá-lo. Depois de decolar de sua base aérea, o avião de guerra voaria para a costa leste da China antes de liberar o drone furtivo, que poderia então entrar no espaço aéreo taiwanês ou sul-coreano a uma altitude de 100.000 pés (30 mil metros) , em velocidade supersônica. O documento não detalha como o drone é impulsionado, mas diz que “os recursos do motor estão associados principalmente a combustível de foguete”.

Esta imagem faz parte do material classificado vazado que circulou em uma sala de bate-papo do Discord e foi obtido pelo The Washington Post. O Post informou ao Departamento de Defesa que essas imagens seriam publicadas com esta história. Um documento, marcado como segredo, destaca as capacidades e rotas de voo nocionais do drone de reconhecimento supersônico da China, juntamente com imagens de satélite de sua base no aeródromo de Liuan. (Obtido pelo Washington Post)
Um mapa de rotas possíveis do drone, rotulado como “não necessariamente confiável”, sugere maneiras pelas quais as câmeras e sensores eletro-ópticos do avião podem coletar informações sobre a ilha de Taiwan e a Coreia do Sul, incluindo Seul. O uso de radar de abertura sintética também permitiria mapear o território à noite e com neblina.

Tensão militar no Pacífico


A descoberta do drone supersônico dá uma nova dimensão às ambições militares chinesas e à corrida armamentista no Pacífico. No mês passado, o líder chinêsXi Jinping afirmou em um discurso aos comandantes militares chineses na semana passada que a modernização das Forças Armadas do país é uma das principais estratégias do governo nos próximos anos. A meta é que as Forças Armadas se modernizem até 2035para se tornarem uma potência militar “capaz de lutar e vencer guerras” até 2049, disse Xi.

Também em março, Taiwan apresentou novos modelos de drones militares, usados para fortalecer as suas defesas para caso sejam invadidos pela China. O plano é inspirado no sucesso da Ucrânia no uso de drones em ataques contra a Rússia e conta com a experiência de ponta de Taiwan na produção de semicondutores para controlar essas armas.

Os Estados Unidos, por sua vez, realizaram neste mês exercícios militares nas Filipinas, como parte de sua expansão militar no Pacíficopara conter a expansão chinesa na região. Desde então, os EUA instalaram quatro novas bases militares no Pacífico, intensificaram treinamentos, criaram novas alianças e convenceram países da região a aumentarem seus gastos de defesa.

Uma imagem de satélite feita em 17 de abril mostra a expansão de uma base aérea
na cidade chinesa de Lu'an (Planet Labs)
Outros papéis do Pentágono mostram ainda que os americanos sabem que o nível das habilidades militares e de espionagem da cima estão em um grau de desenvolvimento muito avançado e o programa que usa balões espiões já era conhecido antes de vir a público. Além disso, a inteligência americana trabalha com a hipótese de Taiwan estar mal preparado para suportar um ataque aéreo chinês em uma eventual invasão.

Recentemente, o diretor da CIA, William J. Burns, disse que Xi Jinping quer que a China seja capaz de tomar Taiwan até 2027, embora tenha acrescentado que isso não significa que o líder chinês ordenará um ataque naquele momento.

Uma ameaça cada vez maior


Para analistas, a aeronave representa um novo risco no já complicado teatro do Indo-Pacífico. O uso principal do drone não será contra Taiwan, mas contra os Estados Unidos e suas bases militares no Pacífico, disse Chi Li-pin, diretor da divisão de pesquisa de sistemas aeronáuticos do Instituto Nacional Chung-Shan de Ciência e Tecnologia, que pertencem ao exército de Taiwan. “São drones difíceis detectar e interceptar. As armas ar-ar existentes dos EUA não são boas o suficiente”, disse.

Dean Cheng, do Potomac Institute for Policy Studies, disse que a divulgação mostra que a China está desenvolvendo uma capacidade de monitorar toda a região indo-pacífica.

“Isso não visa apenas os Estados Unidos ou a Coreia do Sul”, disse Cheng. “O Japão tem que se preocupar com isso. A Índia tem que se preocupar com isso. Todo o Sudeste Asiático tem que se preocupar com isso.”

A China, observou ele, está criando uma variedade de sistemas de alta tecnologia para uso militar – desde armas hipersônicas até armas antissatélite que eles poderiam usar para tentar cegar a capacidade de monitoramento dos Estados Unidos. “Individualmente, nenhuma dessas coisas muda o jogo”, disse ele. “Juntos, estamos olhando para um Exército chinês que está desenvolvendo um complexo de ataque de reconhecimento: encontre o inimigo, acerte o inimigo, mate o inimigo.”

Dezenas de documentos altamente confidenciais vazaram online, revelando informações confidenciais destinadas a líderes militares e de inteligência. Em uma investigação exclusiva, o Washington Post também revisou dezenas de documentos secretos adicionais, a maioria dos quais não foi tornada pública.

O Washington Post obteve a avaliação do programa WZ-8 a partir de um tesouro de imagens de arquivos classificados publicados no Discord, um serviço de bate-papo em grupo popular entre os jogadores de videogame. O Ministério da Defesa Nacional da China não respondeu a um pedido de comentário enviado por fax.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Rússia quase abateu avião espião britânico perto da Ucrânia, confirma documento vazado


Um caça russo quase derrubou um avião de vigilância britânico no ano passado, de acordo com um documento militar dos EUA vazado que circula online, um incidente mais significativo do que o divulgado anteriormente e que poderia ter atraído os Estados Unidos e seus aliados da Otan diretamente para a guerra na Ucrânia.

O “quase acidente” ocorreu em 29 de setembro na costa da Crimeia, a península ucraniana fortemente defendida que a Rússia capturou em 2014 e usou para basear sua frota naval no Mar Negro e lançar ataques em outras partes da Ucrânia.

Segundo Dan Lamothe, do The Whashingt Post, o documento, um entre dezenas de documentos secretos vazados do Pentágono que desencadeou uma investigação do Departamento de Justiça, refere-se ao incidente como um “quase abate de um RJ do Reino Unido”, uma referência ao apelido “Rivet Joint” comum para RC -135 aviões de reconhecimento. A aeronave é usada para coletar transmissões de rádio e outras mensagens eletrônicas.

Um RC-135 da Royal Air Force pousa na Base Aérea de Offutt, Neb., em 2017
(Foto: Delanie Stafford/Força Aérea dos EUA)
O ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, divulgou o incidente à Câmara dos Comuns britânica em outubro, dizendo que dois caças russos Su-27 haviam interceptado o RC-135 no espaço aéreo internacional sobre o Mar Negro, voando “imprudentemente”, com um avião chegando perto, cerca de 15 pés da aeronave britânica.

Um dos jatos russos “lançou um míssil” à distância, Wallace disse aos legisladores na época – mas ele não descreveu o incidente como um quase abate, atribuiu o lançamento do míssil a um “mau funcionamento técnico” e disse que conversou com oficiais do alto escalão da Rússia sobre isso.

O incidente destaca o ato de equilíbrio que os oficiais militares ocidentais têm procurado manter enquanto tentam ajudar os militares ucranianos e coletar informações sobre a guerra sem serem atraídos diretamente para o conflito com Moscou. As autoridades russas tentaram retratar os países da Otan como agressores, enquanto os Estados Unidos e seus aliados disseram que estão apoiando a Ucrânia, mas não estão em guerra com a Rússia.

De acordo com o tratado da OTAN, se um membro da aliança militar for vítima de um ataque armado, todos os membros da aliança considerarão isso um ataque e responderão coletivamente.

As autoridades de defesa dos EUA se recusaram a comentar sobre o conteúdo do documento vazado, assim como fizeram com outras informações encontradas em aplicativos de mensagens, incluindo Discord, Telegram e Twitter. Um funcionário da embaixada britânica em Washington também se recusou a comentar, e a embaixada russa não respondeu a um pedido de comentário.

O documento foi impresso com cabeçalhos para o Estado-Maior Conjunto do Pentágono e detalha os voos de vigilância sobre o Mar Negro desde o dia do quase abate até 26 de fevereiro.

O documento é rotulado como “SECRET/NOFORN”, uma classificação que indica que não deve ser compartilhado com cidadãos não americanos. Ele detalha uma série de outras reações russas a voos de vigilância de aeronaves americanas, britânicas e francesas entre outubro e o final de fevereiro, incluindo uma em 30 de dezembro, na qual outro British Rivet Joint, acompanhado por dois caças britânicos Typhoon, foi interceptado por Jatos russos que chegaram a 30 metros.

Su-27 Flanker da Força Aérea Russa
Em outro caso, um drone de vigilância MQ-9 dos EUA foi interceptado em 22 de fevereiro , com aeronaves russas chegando a 30 metros. Cerca de duas semanas depois, em 14 de março, dois jatos russos Su-27 interceptaram um MQ-9 americano , despejando combustível no veículo aéreo não tripulado e eventualmente colidindo com ele. A colisão levou o pessoal dos EUA pilotando remotamente o veículo a derruba-lo no Mar Negro, a cerca de 56 milhas da costa da Crimeia, disseram autoridades dos EUA.

Um mapa no documento mostra um limite traçado sobre seções do Mar Negro para marcar onde os aviões de vigilância podem voar. Parece começar a cerca de 12 milhas da costa da Crimeia, atendendo à lei internacional. O mapa também inclui uma segunda linha a cerca de 50 milhas da costa denominada “SECDEF Directed Standoff”, indicando que o secretário de Defesa Lloyd Austin pode ter ordenado aos pilotos americanos que mantivessem as aeronaves mais distantes da península.

Austin disse em março que os Estados Unidos continuarão a voar “para onde a lei internacional permitir”, rejeitando a reivindicação de Moscou de uma zona de exclusão autodeclarada em partes extensas do Mar Negro.

As interceptações pelos caças russos são sempre relatadas como “pouco profissionais”
Aeronaves francesas e britânicas fizeram voos de vigilância tripulados sobre o Mar Negro entre 29 de setembro e 26 de fevereiro, segundo o documento, enquanto os americanos contavam com drones que incluem o RQ-4 Global Hawk, o RQ-170 Sentinel e o MQ- 9 Reaper. Um punhado desses voos ocorria a cada mês, disse o documento.

O general Mark A. Milley, presidente do Joint Chiefs of Staff, em março chamou o comportamento russo na derrubada do MQ-9 em março como parte de um padrão de atos agressivos contra os Estados Unidos, Grã-Bretanha e outras nações.

“Temos que descobrir exatamente qual é o caminho a seguir”, disse ele na época, falando em uma entrevista coletiva no Pentágono. Ele caracterizou o comportamento dos pilotos russos como “muito pouco profissional e inseguro”.

Um porta-voz do Pentágono, Brig. O general Patrick Ryder disse no mês passado que é importante manter o Mar Negro e os céus abertos a todas as nações.

“O Mar Negro”, disse ele, “é uma via marítima internacional crítica que apoia muitos de nossos aliados da OTAN, incluindo Romênia, Bulgária e Turquia, e não pertence a nenhum país”.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Finlândia na OTAN: quais são as consequências para a defesa aérea no Báltico?

(Foto: USAF)
Durante décadas, a Finlândia manteve uma política de não-alinhamento, recusando-se a aderir a qualquer aliança militar. No entanto, com crescentes preocupações com o comportamento agressivo da Rússia após a invasão da Ucrânia, o país nórdico solicitou adesão acelerada à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e aderiu oficialmente à aliança em 4 de abril de 2023.

A integração da Finlândia na OTAN pode ter implicações significativas para a estratégia de defesa aérea da aliança como um país com capacidades avançadas de defesa aérea e uma localização estratégica no Extremo Norte. Ao ingressar na OTAN, a Finlândia aumenta a capacidade da aliança de monitorar e responder a possíveis ameaças aéreas na região.

A Força Aérea Finlandesa é uma força moderna e capaz com tecnologia avançada e uma forte ênfase na interoperabilidade com as forças da OTAN.

Desde 1992, sua frota de caças é composta por jatos F/A-18 Hornet. Eles serão progressivamente eliminados entre 2025 e 2030 e substituídos pelo caça Lockheed Martin F-35A Block 4 de quinta geração. Em dezembro de 2021, o Ministério da Defesa da Finlândia optou por adquirir 64 deles.

A Finlândia, juntamente com a Suécia, que também se candidatou à adesão à OTAN, não esperou pela adesão à OTAN para operar ao lado das forças aéreas da aliança. Em março de 2023, quatro caças finlandeses F/A-18 Hornet foram implantados na Base Aérea de Ämari, na Estônia, para treinar com aeronaves da Alemanha, Reino Unido, Estônia, França, Estados Unidos e Holanda.

“As forças aéreas finlandesas e suecas treinaram e se desdobraram ao lado das forças aéreas da OTAN por muitos anos”, disse um oficial da OTAN ao AeroTime em um comunicado por e-mail. “A Finlândia e a Suécia têm capacidades militares consideráveis, incluindo caças avançados que são totalmente interoperáveis ​​com a OTAN.”

(Foto: Comando Aéreo da OTAN)
A aceitação da Suécia na OTAN ainda está aguardando a aprovação da Turquia e da Hungria.

“Estou absolutamente confiante de que a Suécia também se tornará membro”, disse o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, em 3 de abril de 2023. “É uma prioridade para a OTAN, para mim, garantir que isso aconteça o mais rápido possível.”

Além de uma melhor integração de suas capacidades de defesa aérea com a aliança, a Finlândia e a Suécia não descartam a possibilidade de abrigar bombas nucleares como parte do acordo de compartilhamento nuclear da OTAN.

Via AeroTime

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Irã afirma que expulsou um "avião espião" dos Estados Unidos que sobrevoava seu espaço aéreo


O Irã afirma que alertou e expulsou o "avião espião" Lockheed EP-3E Orion II, número de cauda 160764, da Marinha dos EUA, que entrou no espaço aéreo iraniano perto do golfo de Omã.

A alegação é que o avião de reconhecimento EP-3E da Marinha dos EUA deixou a fronteira do espaço aéreo do Irã e voltou para um intl. rota depois de receber um aviso da marinha iraniana.

Via FL360aero

segunda-feira, 13 de março de 2023

Os erros nucleares que quase levaram à 3ª Guerra Mundial

Na crise de Suez, 'objetos voadores não identificados' foram detectados
sobrevoando a Turquia - eram cisnes (Foto: Getty Images)
Era o meio da noite de 25 de outubro de 1962, e um caminhão corria por uma pista de decolagem no Wisconsin, nos Estados Unidos. Seu motorista tinha muito pouco tempo para impedir que os aviões levantassem voo.

Alguns minutos antes, um guarda do Centro Diretor do Setor de Defesa Aérea de Duluth, em Minnesota (também nos Estados Unidos), havia avistado uma figura sombria tentando escalar a grade do perímetro da instalação.

A história dos sobreviventes do 1º teste de bomba atômica: 'Dos 10 irmãos, só restou eu'

Ele atirou no invasor e fez soar o alarme, temendo que fosse parte de um ataque soviético de maiores proporções. Imediatamente, alarmes de intrusos soaram em todas as bases aéreas da região.

A situação progrediu muito rapidamente. Na base aérea de Volk, no Wisconsin, alguém moveu a chave errada e, em vez do alerta de segurança padrão, os pilotos ouviram uma sirene de emergência para que eles corressem. Pouco depois, a atividade na base era frenética, com os pilotos correndo para levantar voo, munidos de armas nucleares.

Na época, a crise dos mísseis cubanos estava no seu ápice e os nervos de todos estavam à flor da pele.

Onze dias antes, um avião espião havia fotografado lançadores, mísseis e caminhões secretos em Cuba, o que indicava que os soviéticos estavam se mobilizando para atingir alvos nos Estados Unidos.

O mundo inteiro sabia muito bem que era necessário apenas um ataque de uma das nações para acionar uma escalada imprevisível.

Na verdade, neste caso não havia em Duluth nenhum invasor - ou, pelo menos, nenhum invasor humano. Acredita-se que a figura esgueirando-se pela grade tenha sido um grande urso. Tudo não passava de um engano.

Volk Field, onde um urso 'invasivo' causou caos em 1962 (Foto: Alamy)
Mas, no campo de Volk, o esquadrão ainda não sabia disso. Eles haviam sido informados que não era um treinamento e, enquanto embarcavam nos seus aviões, estavam totalmente convencidos de que havia chegado a hora - a Terceira Guerra Mundial havia começado.

Por fim, o comandante da base percebeu o que estava acontecendo. Os pilotos foram interceptados enquanto ligavam os motores na pista de decolagem por um agente que, pensando rapidamente, tomou um caminhão e dirigiu-se a eles.

De lá para cá, a ansiedade atômica dos anos 1960 foi totalmente esquecida. Os abrigos nucleares preservaram a memória de megarricos e excêntricos tentando sobreviver e as preocupações existenciais voltaram-se para outras ameaças, como as mudanças climáticas.

Nós esquecemos facilmente que existem cerca de 14 mil armas nucleares em todo o mundo, com poder combinado de eliminar a vida de cerca de 3 bilhões de pessoas - ou até causar a extinção da espécie, caso acionem um inverno nuclear.

Pasta contendo sistema de controle para o arsenal nuclear da Rússia (Foto: Stanislav Kozlovskiy)
Sabemos que a possibilidade de qualquer líder detonar intencionalmente uma delas é extremamente remota. Afinal, esse líder teria que ser maluco.

O que não calculamos nessa equação é a possibilidade de que isso aconteça por acidente.

Ao longo do tempo, já escapamos pelo menos 22 vezes de guerras causadas por engano desde a descoberta das armas nucleares.

Já fomos levados à iminência da guerra nuclear por eventos inofensivos como um bando de cisnes voando, o nascer da Lua, pequenos problemas de computador e anormalidades do clima espacial.

Em 1958, um avião despejou acidentalmente uma bomba nuclear no quintal de uma casa de família. Milagrosamente, nenhum ser humano morreu, mas suas galinhas, criadas soltas, foram vaporizadas.

E esses contratempos continuam ocorrendo: em 2010, a Força Aérea dos Estados Unidos perdeu temporariamente a comunicação com 50 mísseis nucleares, o que significa que eles não teriam conseguido detectar e suspender eventuais lançamentos automáticos.

O susto de Yeltsin


"Ontem, usei pela 1ª vez minha pasta preta com botão (nuclear)', disse o russo Boris Yeltsin
em 26 de janeiro de 1995 (Foto: Getty Images)
Apesar dos vertiginosos custos e da sofisticação tecnológica das armas nucleares modernas (estima-se que os Estados Unidos gastem US$ 497 bilhões (R$ 2,5 trilhões) em suas instalações entre 2019 e 2028), os registros mostram a facilidade com que as salvaguardas estabelecidas podem ser confundidas por erro humano ou por animais silvestres curiosos.

Em 25 de janeiro de 1995, o então presidente russo Boris Yeltsin tornou-se o primeiro líder mundial da história a ativar uma "maleta nuclear" - uma mochila que contém as instruções e a tecnologia para detonar bombas nucleares.

Os operadores de radar de Yeltsin observaram o lançamento de um foguete na costa da Noruega e assistiram apreensivos à sua elevação nos céus. Para onde ele se dirigia? Era um foguete hostil?

Com a maleta nas mãos, Yeltsin consultou freneticamente seus principais conselheiros para saber se deveria lançar um contra-ataque. Faltando minutos para decidir, eles perceberam que o foguete se dirigia para o mar e, portanto, não era uma ameaça.

Posteriormente, veio a informação de que não era um ataque nuclear, mas sim uma sonda científica, que havia sido enviada para pesquisar a aurora boreal.

Autoridades norueguesas ficaram perplexas quando souberam da comoção causada pelo lançamento, já que ele havia sido anunciado ao público com pelo menos um mês de antecedência.

Fundamentalmente, não importa se um ataque nuclear for iniciado por equívoco ou devido a uma ameaça real - depois de iniciado, ele é irreversível.

"Se o presidente reagir a um alarme falso, ele terá acidentalmente iniciado uma guerra nuclear", afirma William Perry, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos no governo Bill Clinton e ex-subsecretário de Defesa do governo Jimmy Carter.

"Não há nada que ele possa fazer a respeito. Os mísseis não podem ser chamados de volta, nem destruídos."

Por que já escapamos desse perigo por um triz tantas vezes? E o que podemos fazer para evitar que aconteça de novo no futuro?

Como ocorrem os ataques nucleares


Lançamento de um foguete científico semelhante ao que assustou a Rússia (Foto: Alamy)
Os primeiros sistemas de alerta criados durante a Guerra Fria estão na raiz desse potencial de erros.

Em vez de esperar que os mísseis nucleares atinjam o seu alvo (o que, é claro, forneceria prova concreta de um ataque), esses sistemas os detectam com antecedência para permitir que os países atacados possam retaliar antes que suas próprias armas sejam destruídas.

Para isso, é necessário obter dados. Muitos norte-americanos desconhecem que os Estados Unidos possuem diversos satélites observando a Terra silenciosamente todo o tempo.

Quatro desses satélites encontram-se a 35,4 mil km acima do planeta. Eles estão em "órbita geoestacionária" - em um local adequado, onde nunca mudam de posição com relação ao planeta que estão circundando.

Isso significa que eles têm uma visão mais ou menos constante da mesma região e podem detectar o lançamento de qualquer possível ameaça nuclear, sete dias por semana, 24 horas por dia.

Mas os satélites não conseguem rastrear os mísseis depois de lançados. Para isso, os Estados Unidos também mantêm centenas de estações de radar, que podem determinar a posição e a velocidade dos mísseis, calculando suas trajetórias.

10 minutos é o tempo que líderes geralmente têm para decidir se vão desencadear
evento de destruição nuclear (Foto: Getty Images)
Se houver indicações suficientes de um ataque em andamento, o presidente é informado.

"Assim, o presidente será alertado talvez cinco a dez minutos após o lançamento dos mísseis", segundo Perry. E ele e seus assessores têm a tarefa nada invejável de decidir se devem contra-atacar ou não.

"É um sistema muito complicado que fica em operação praticamente todo o tempo", afirma Perry. "Mas estamos falando de um evento de baixa probabilidade com altas consequências".

Um evento que, aliás, só precisa acontecer uma vez.

Tecnologia traiçoeira


Uma vez lançados, os mísseis nucleares não podem ser interrompidos (Foto: Getty Images)
Existem dois tipos de erros que podem gerar alarmes falsos: o erro humano e o tecnológico. Ou, se estivermos em uma grande maré de azar, ambos ao mesmo tempo.

Um exemplo clássico de erro tecnológico aconteceu enquanto Perry trabalhava para o presidente americano Jimmy Carter, em 1980. "Foi um choque muito grande", segundo ele.

Tudo começou com uma ligação telefônica às 3h da madrugada, quando o escritório de observação do comando de defesa aérea dos Estados Unidos informou a ele que computadores do sistema de vigilância haviam descoberto 200 mísseis dirigidos diretamente da União Soviética para os Estados Unidos.

Mas, naquele momento, eles já haviam percebido que não se tratava de um ataque real. Os computadores haviam feito alguma coisa errada.

"Eles na verdade haviam telefonado para a Casa Branca antes de mim - eles ligaram para o presidente. A ligação caiu direto no seu conselheiro de segurança nacional", relembra Perry.

Por sorte, ele levou alguns minutos para acordar o presidente e, nesse período, eles receberam a informação de que se tratava de um alarme falso.

Mas, se ele não tivesse esperado e acordasse Carter imediatamente, o mundo hoje poderia ser um lugar muito diferente.

"Se o próprio presidente houvesse atendido a ligação, ele teria tido cerca de cinco minutos para decidir se contra-atacaria ou não - no meio da noite, sem poder consultar ninguém", explica Perry.

A partir dali, Perry nunca mais pensou na possibilidade de um lançamento de mísseis por erro como um problema teórico - era, isso sim, uma possibilidade realista verdadeira e alarmante. "Foi por muito pouco", afirma ele.

A tecnologia é um dos perigos (Foto: Getty Images)
Naquele caso, o problema acabou sendo um chip com defeito no computador que executava os sistemas de alerta precoce do país. Ele acabou sendo substituído por menos de um dólar (menos de R$ 5).

Mas, um ano antes, Perry havia vivido outra situação extrema, em que um técnico inadvertidamente carregou o computador com uma fita de treinamento. Ele transmitiu acidentalmente os detalhes de um lançamento de míssil muito realista (mas totalmente fictício) para os principais centros de alerta.

Isso nos leva à questão de como envolver os cérebros profundamente inadequados de macacos bípedes em um processo que envolve armas com o poder de arrasar cidades inteiras.

E, além dos técnicos desajeitados, as principais pessoas com quem precisamos nos preocupar são aquelas que realmente detêm o poder de autorizar um ataque nuclear - os líderes mundiais.

Um assistente militar dos EUA carrega códigos de lançamento nuclear (Foto: Reuters)
"O presidente dos Estados Unidos tem total autoridade para lançar armas nucleares e é a única pessoa que pode fazê-lo - é a única autoridade", afirma Perry.

Esse poder vem desde o tempo do presidente Harry Truman, que governou os Estados Unidos entre 1945 e 1953.

Na época da Guerra Fria, a decisão foi delegada aos comandantes militares, mas Truman acreditava que as armas nucleares são uma ferramenta política e, por isso, deveriam estar sob o controle de um político.

Todos os presidentes norte-americanos que o sucederam sempre foram seguidos em todos os lugares por um auxiliar carregando a "bola de futebol" nuclear, que contém os códigos de lançamento das armas nucleares do país.

Esteja ele em uma montanha, viajando de helicóptero ou atravessando o oceano, o presidente detém a capacidade de lançar um ataque nuclear.

Tudo o que ele precisa fazer é dizer as palavras e a destruição mútua garantida (MAD, na sigla em inglês) - a total aniquilação do atacante e do defensor - poderá ser atingida em questão de minutos.

Como muitas organizações e especialistas já indicaram, a concentração desse poder em um único indivíduo é um alto risco.

"Já aconteceu algumas vezes de um presidente beber muito ou estar tomando medicação. Ele pode sofrer de uma doença psicológica. Tudo isso já aconteceu no passado", afirma Perry.

Putin colocou seu arsenal em alerta máximo (Foto: Getty Images)
Quanto mais você pensa nisso, mais perturbadoras são as possibilidades. Se for à noite, o presidente estaria dormindo?

Com poucos minutos para decidir o que fazer, ele e seus assessores teriam pouco tempo para acordar completamente, que dirá tomar uma xícara de café.

Em agosto de 1974, quando o presidente norte-americano Richard Nixon envolveu-se no escândalo Watergate e estava à beira de renunciar ao cargo, ele foi diagnosticado com depressão e estava emocionalmente instável.

Houve rumores de que ele estava esgotado, bebendo em excesso e apresentando comportamento estranho. Aparentemente, um agente do Serviço Secreto flagrou-o uma vez comendo um biscoito para cães.

Nixon sempre foi conhecido por seus acessos de raiva, bebidas e por tomar fortes medicamentos controlados, mas isso era muito mais sério. Mesmo assim, ele ainda tinha o poder de lançar armas nucleares.

Embora emocionalmente instável, Nixon manteve a autoridade para lançar armas nucleares (Foto: Getty Images)
E o uso de entorpecentes também é um problema entre os militares que protegem o arsenal nuclear do país.

Em 2016, diversos membros da força aérea dos Estados Unidos que trabalhavam em uma base de mísseis admitiram o uso de drogas, incluindo cocaína e LSD. Quatro deles foram posteriormente condenados.

Como evitar um acidente catastrófico


Com tudo isso em mente, Perry escreveu um livro - The Button: The New Nuclear Arms Race and Presidential Power from Truman to Trump ("O botão: a nova corrida armamentista nuclear e o poder presidencial de Truman a Trump", em tradução livre) - em conjunto com Tom Collina, diretor de políticas da organização contra a proliferação nuclear Ploughshares Fund.

No livro, eles descrevem a precariedade da nossa atual proteção nuclear e sugerem possíveis soluções.

Antes de tudo, eles gostariam de ver o fim da autoridade única, de forma que as decisões sobre o lançamento ou não dessas armas de destruição em massa sejam tomadas democraticamente e o impacto de dificuldades mentais sobre a decisão seja diluído.

Nos Estados Unidos, isso significaria uma votação no Congresso. "Isso tornaria a decisão sobre o lançamento [de mísseis] mais lenta", segundo Perry.

Considera-se normalmente que a reação nuclear precisa acontecer com rapidez, antes que seja perdida a capacidade de contra-ataque.

Mas, mesmo se várias cidades e todos os mísseis dos Estados Unidos em terra fossem varridos por armas nucleares, o governo sobrevivente poderia ainda autorizar o lançamento de submarinos militares.

Uma forma de contra-atacar ataques nuclears é com submarinos (Foto: Getty Images)
"A única forma garantida de retaliação ocorre quando você sabe [com certeza] que eles estão atacando. Nós nunca devemos reagir a um alarme que poderá ser falso", segundo Collina. E a única forma realmente confiável de garantir que uma ameaça é real é esperar que ela atinja a terra.

Reduzir a velocidade de reação faria com que os países mantivessem os benefícios de dissuasão oferecidos pela destruição mútua garantida, mas com redução significativa da possibilidade de iniciar uma guerra nuclear por engano, por exemplo, quando um urso começar a subir uma cerca.

Em segundo lugar, Perry e Collina defendem que as potências nucleares comprometam-se a usar armas nucleares apenas em retaliação, sem nunca serem as primeiras.

"A China é um exemplo interessante porque ela já tem uma política de não ser a primeira a usá-las", afirma Collina.

"E existe alguma credibilidade nessa política, já que a China separa suas ogivas [que contêm o material nuclear] dos mísseis [o sistema de lançamento]."

A China e a Índia são as duas únicas potências nucleares que se comprometeram
com a política da NFU (Imagem: Getty Images)
Isso significa que a China precisaria reunir os dois antes de lançar um ataque e, com tantos satélites observando constantemente, é de se supor que alguém notaria esse movimento.

Curiosamente, os Estados Unidos e a Rússia não têm essa política. Eles se reservam o direito de lançar armas nucleares, mesmo em resposta a métodos de combate convencionais.

A adoção da política de "não usar primeiro" foi analisada pelo governo de Barack Obama, mas eles nunca conseguiram chegar a uma decisão a respeito.

Por fim, os autores do livro argumentam que seria benéfico que os países se desfizessem por completo dos seus mísseis balísticos intercontinentais em terra.

Por poderem ser destruídos por ataques nucleares inimigos, eles são as armas que seriam mais provavelmente lançadas às pressas em caso de suspeita de um ataque sem confirmação.

Outra possibilidade seria permitir o cancelamento dos mísseis nucleares, caso se descubra que uma provocação é, na verdade, um alarme falso.

"É interessante, pois, quando fazemos voos de teste, eles conseguem fazer isso", afirma Collina. "Se saírem do curso, eles podem autodestruir-se. Mas não fazemos isso com mísseis vivos, com receio de que o inimigo consiga de alguma forma o controle remoto e possa desarmá-los."

E existem outras formas em que a tecnologia de um país pode ser usada contra ele próprio.

À medida que nos tornamos cada vez mais dependentes de sofisticados computadores, existe a preocupação crescente de que hackers, vírus ou robôs possam iniciar uma guerra nuclear.

"Acreditamos que a possibilidade de alarmes falsos tenha aumentado com o crescimento do risco de ciberataques", afirma Collina.

Um sistema de controle poderá, por exemplo, ser levado a acreditar que um míssil está a caminho, o que poderia convencer o presidente a contra-atacar.

O maior problema, naturalmente, é que as nações querem que suas armas nucleares reajam rapidamente e sejam fáceis de usar - disponíveis a apenas um botão de distância. Isso inevitavelmente dificulta o controle do seu uso.

Embora a Guerra Fria tenha terminado há muito tempo, Collina indica que ainda estamos preparados para um ataque não provocado vindo do nada - quando, na realidade, passamos anos vivendo em um mundo radicalmente diferente.

Ironicamente, muitos especialistas concordam que a maior ameaça ainda vem dos próprios sistemas de lançamento projetados para nos proteger.

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Por Zaria Gorvett (BBC Future)