Faz 2 mil quilômetros em menos de 20 minutos e pode ser, já em 2015, a resposta não nuclear a ataques de grande precisão e rapidez
No dia 20 de Agosto de 1998 as agências secretas americanas localizaram Osama Bin Laden num campo de treino da Al-Qaeda no Afeganistão. Aos comandos políticos e militares abria-se uma oportunidade praticamente 'irrepetível' para eliminar aquele que, muito antes do 11 de Setembro, era já um dos principais inimigos da América. Estacionado no mar Arábico, o USS Abraham Lincoln recebe ordens para lançar mísseis cruzeiro Tomahawk. A viagem (mesmo à velocidade de 880 quilômetros hora) demorou duas horas e quando os Tomahawk começaram a roncar nos céus afegãos já Bin Laden se tinha evaporado.
É verdade que as forças americanas têm no seu arsenal mísseis balísticos capazes de destruir qualquer alvo numa questão de minutos. Mas o problema destas armas é que a sua capacidade destrutiva é de tal modo excessiva que o seu uso é mais que improvável. Falamos, claro, das armas nucleares. "No ambiente estratégico atual, só temos zeros e uns. Podemos decidir usar armas nucleares ou não", confessa o capitão Terry Benedict, da marinha norte-americana.
Nos Estados Unidos nenhum estrategista militar esquece o episódio de 1998. Por isto, e também por estar comprometida com um mundo livre do nuclear militar, a administração Obama está a trabalhar numa nova classe de armas convencionais capazes de atingir qualquer ponto do globo em menos de 60 minutos - ao mesmo tempo que mantém o poder de dissuasão americano.
No âmbito do programa Prompt Global Strike (Ataque Global Imediato), liderado pelo Departamento da Defesa, está a ser desenvolvido um novo míssil: o X-51. Utilizando tecnologia espacial da NASA, esta será a única arma não nuclear capaz de atingir velocidades Mach-5 (5793 quilômetros por hora) e que transforma em vantagens os efeitos brutais da velocidade hipersônica, destruindo os alvos aliando a força cinética a uma ogiva convencional.
"No papel estamos perante uma evolução tecnológica brutal. Mas os 'ses' só começam a aparecer na vertente operacional", explica ao i Francisco Galamas, investigador na área do armamento. De acordo com o Pentágono, este sistema nunca estará operacional antes de 2015 e o mais provável é que o seu desenvolvimento se prolongue até 2020. A nova arma pode ser lançada de um bombardeiro B-52 e é capaz de estilhaçar uma central nuclear iraniana ou norte-coreana, destruir um navio carregado de armamento no Médio Oriente ou ainda rebentar com o esconderijo de Bin Laden. Tudo com precisão extrema, em poucos minutos e com uma potência localizada equiparada à de uma bomba nuclear - sem a chacina inerente a uma bomba radiológica.
"A grande novidade deste sistema é combinar uma precisão quase cirúrgica com potência e uma capacidade quase instantânea de reação", sustenta Galamas, alertando, contudo para os problemas estratégicos que a implementação de um sistema deste tipo pode apresentar às potências rivais. "A Rússia já deu sinais de que pode vir a desenvolver o seu próprio sistema antimíssil."
Na força aérea americana espera-se que o X-51 seja mesmo uma realidade. "Tenho imensa confiança que vai funcionar", diz Mark Lewis, o cientista chefe da força aérea.
Apoio político, à partida, não faltará. Robert Gates, o secretário da Defesa, expressou na ABC o "acolhimento" que a administração deu ao Prompt Global Strike. Prova disso são os 250 milhões de dólares que Obama pediu ao Congresso para explorar esta alternativa, que combina tecnologia militar e aeroespacial de topo. John McCain, candidato presidencial republicano em 2008, também já manifestou o seu apoio a um programa que tem tanto de "caro como de essencial".
As reservas relativas à nova geração dos mísseis Trident, inicialmente pensados para incorporar o "Prompt Global Strike", fez com que muita gente no Departamento de Defesa se virasse para alternativas. A resposta deverá ser o X-51: uma arma que nos radares de Pequim ou Moscou não é confundida com um míssil nuclear. Por isso, e como sustenta um oficial americano de topo, "ninguém se vai ter de preocupar em começar uma terceira guerra mundial."
Fonte: Gonçalo Venâncio e Joana Azevedo Viana (i-online - Portugal) via Blog Hangar do Vinna - Imagens: Divulgação