Em setembro, educadores - a bordo de um Boeing 727 modificado - experimentaram a gravidade zero
Os professores desempenharam uma série de experimentos e brincadeiras, como realizar flexões com os outros sentados em suas costas e abocanhar confetes que flutuavam em linha reta, na esperança de que isso ajudasse a explicar melhor aos alunos as leis do movimento que Isaac Newton deduziu séculos atrás. "Vejam que a bola simplesmente paira", disse Coutoure. "Isso é demais", um aluno afirmou.
A Fundação Northrop Grumman tem enviado professores de ciências a esses voos que simulam a ausência de peso nos últimos quatro anos para despertar o entusiasmo de professores e alunos em relação à ciência e à matemática. "De repente, esse professor se torna um super-herói", disse Sandra Evers-Manly, presidente da fundação.
Quando a fundação fez uma pesquisa com 205 professores que voaram em 2005 e 2006, quase 92% relataram um aumento no interesse geral por ciências entre os alunos. Cerca de 75% disseram que mais alunos expressaram desejo em continuar estudando matemática e ciências.
O voo de 29 de setembro, a bordo de uma nave 727 modificada e operada pela ZeroGravity Corp., que oferece voos comerciais que simulam a ausência de peso ao custo de US$ 5 mil por cabeça, decolou do aeroporto internacional Stewart em New Windsor, Nova York, e rumou em direção ao sul. No litoral de Nova Jersey próximo a Atlantic City, o jato começou a fazer seus movimentos circulares para cima e para baixo - uma parábola em gravidade marciana, duas na gravidade inferior da lua e então doze simulações de ausência de peso.
Qualquer um pode sentir a ausência de peso numa queda. Durante a porção de gravidade zero do voo, o avião voa em direção ao solo à mesma velocidade e aceleração de queda livre dos passageiros. O avião possui poucas janelas que permitem observar sua aproximação do solo e os passageiros sentem como se estivessem flutuando nos ares e não em uma queda livre. Quando o avião ascende do mergulho, os passageiros, que são instruídos deitarem-se no chão rapidamente, sentem o dobro de seu peso normal.
Para a maioria dos professores como Coutoure, essa experiência "boquiaberta" é o mais próximo que eles chegarão do espaço. No entanto, a professora do ginásio Rachael Manzer, de Suffield, Connecticut, pode conseguir viver a experiência espacial. Ela foi escolhida como candidata a voar em uma nave suborbital projetada e construída por companhias privadas.
Como fez o presidente Barack Obama no mês passado ao anunciar US$ 260 milhões em iniciativas público-privadas na educação para gerar interesse em matemática e ciências, os professores no voo falaram repetidas vezes sobre se envolver e inspirar os alunos. Eles falaram especificamente sobre os alunos da 6ª à 8ª séries, que tipicamente parecem perder interesse e proficiência.
Geoffrey Bergen, do Ginásio Whisconier, em Brookfield, Connecticut, um dos professores no voo, disse que era difícil prender o interesse dos estudantes com os métodos tradicionais de ensino na era dos videogames e da tecnologia de ritmo acelerado. "É realmente difícil ensinar com um livro didático quando pensamos no mundo em que vivemos", disse Bergen. O voo de gravidade zero, ele disse, "nos dá uma nova ferramenta para as leis de Newton."
Ao ver seus professores desempenhando atividades de astronautas, os alunos, ele afirmou, "certamente se envolvem."
Depois do voo, Adrienne Manzone, professora da Escola Captain Nathan Hale, em Coventry, Connecticut, estava radiante. "Minha imagem de descolada vai aumentar 100%", disse ela.
Francis Q. Eberle, diretor-executivo da Associação Americana dos Professores de Ciências, disse que programas como os voos de gravidade zero da Northrop Grumman ajudam a melhorar o ensino de ciências. "Isso ajuda a revitalizar a paixão por ciências dos educadores", disse Eberle. "O objetivo é ajudá-los a levar esse entusiasmo de volta e trabalhar isso com seus alunos."
Porém, outros, como Grover J. Whitehurst, membro sênior da Instituição Brookings e ex-chefe do Instituto Federal de Ciências da Educação, questionam se a ênfase no envolvimento e inspiração dos estudantes é realmente adequada. "Certamente, não há mal em fazer isso", disse Whitehurst sobre o programa da Northrop Grumman. Contudo, ele afirmou, os US$ 5,1 milhões que a fundação gastou no programa nos últimos quatro anos talvez pudessem ter sido mais efetivos em outra coisa. "Se eles tivessem me contratado como consultor, não teria imaginado gastar isso em voos de gravidade zero", ele disse. "A pergunta é, isso realmente melhora o ensino? Isso tem um impacto? Essas perguntas não são feitas e respondidas com frequência suficiente."
Whitehurst disse que as iniciativas para fazer com que matemática e ciências sejam mais atraentes aos estudantes poderiam ser contraprodutivas se isso enfraquecer a mensagem de que é preciso se esforçar para aprender as matérias. Ele mencionou os testes chamados Tendências na Matemática e no Estudo de Ciências Internacionais, ou Timss, na sigla em inglês. Países nos quais uma fração maior de alunos disse gostar de matemática em geral tiveram desempenho ruim, enquanto outros países como Coreia, em que os estudantes não gostavam de matemática, tiveram as melhores pontuações. (Existem algumas exceções, como Cingapura, onde os estudantes gostam de matemática e também vão bem na matéria)
A noção de que o ensino americano de ciências e matemática esteja em crise é exagerada, segundo Whitehurst. Nos testes Timss mais recentes, os alunos americanos tiveram um desempenho muito acima da média e melhoraram ao longo da última década, embora algumas das demais comparações internacionais mostrem que os alunos americanos estejam na média.
Na turma de Coutoure, o vídeo sobre o voo de ausência de peso foi mostrado no final da aula, depois que ele já havia falado sobre a física do movimento, partindo da crença equivocada de Aristóteles de que objetos em queda têm a mesma velocidade e chegando às observações e deduções mais rigorosas de Galileu. Ele também realizou demonstrações simples para ilustrar os conceitos, deixando cair uma bola de softball e um pedaço de papel, então amassando o papel e fazendo uma bola para mostrar que ela caía com a mesma rapidez que a bola de softball.
Jamie Heverin, um dos alunos, disse, "Estou curioso para ver o que ele vai inventar da próxima vez."
Fonte: Kenneth Chang (The New York Times) via Terra - Tradução: Amy Traduções - Foto: Damon Winter / The New York Times