Tripulação inclui físico que vai ao observatório pela terceira vez; maratona de trabalhos será filmada em 3-D para documentário
Não será uma viagem sem preocupações, mesmo levando em conta o risco inerente a qualquer missão espacial. A Nasa (agência espacial americana) pretendia conduzir a missão em 2004, mas cancelou o voo na época. Após a explosão do ônibus espacial Columbia, em 2003, engenheiros temiam que as outras espaçonaves da mesma classe pudessem enfrentar problemas também.
Só após reformular os procedimentos de segurança para voos espaciais a Nasa voltou a usá-los, e o conserto do Hubble foi remarcado para 2009.
A primeira dificuldade em visitar o telescópio espacial é que ele fica numa órbita muito mais alta que a da ISS (Estação Espacial Internacional). Quando o ônibus espacial Atlantis chegar lá, os astronautas correrão um risco relativamente grande (de 1 em 229, diz a Nasa) de colidir com lixo espacial ou meteoros pequenos. E, para tornar a coisa ainda mais difícil, se algo der errado, os astronautas não poderão se abrigar na ISS, e terão de esperar por socorro. O ônibus espacial Discovery estará a postos para decolar a qualquer momento até a missão acabar.
Peças fora de linha
A Atlantis deve levar dois dias para chegar ao Hubble, ficará uma semana acoplada e levará mais dois dias para voltar. Alguns trabalhos de reparos, como a instalação de um espectrógrafo (instrumento que separa a luz em diversas frequências e a analisa), serão relativamente fáceis, como retirar e recolocar uma gaveta.
Outras peças, porém, como a fonte de energia de uma das câmeras, que quebrou, não foram feitas para serem consertadas no espaço, e os astronautas terão de improvisar.
Além dos reparos principais, será preciso trocar baterias, repor giroscópios (sistemas que guiam o telescópio) e reinstalar escudos térmicos.
"Isso está no limite daquilo que eu acho que as pessoas podem fazer", diz John Grunsfeld, um dos integrantes da missão. Astronauta com com doutorado em astrofísica, ele participará pela terceira vez de uma missão ao Hubble.
Originalmente projetado para passar po reparos de três em três anos, desta vez o telescópio está agora há sete anos sem ver ninguém. "O Hubble precisa de um abraço", afirma Grunsfeld.
No ano passado, o computador do telescópio responsável por coordenar os instrumentos e transmitir imagens à Terra pifou. Desde então, o Hubble opera com um sistema de becape, menos robusto, e o original só será consertado agora.
Carona complicada
Não bastasse os astronautas terem de quebrar a cabeça para reformar o telescópio durante a missão, o ônibus espacial também terá de passar por cuidados especiais. Na última vez que astronautas tinham viajado até o Hubble, em 2002, voar de ônibus espacial era considerado uma negócio relativamente seguro. Depois de 2003, com o acidente da Columbia, cada voo requer uma checagem da espaçonave antes do retorno.
"Na última vez que voei até o Hubble, não tínhamos de fazer tudo isso", diz Scott Altman, comandante da missão que parte amanhã. "Acho que eu não deveria ter sentido tanto conforto quando estava voando até lá daquela vez. Agora estamos um pouco mais espertos para os riscos envolvidos."
Nenhum astronauta, porém, duvida de que o US$ 1,1 bilhão que a Nasa está gastando na missão vale a pena. O Hubble é telescópio que mais contribuiu para o avanço da ciência até hoje, e os US$ 10 bilhões que esse observatório orbital consumiu até agora cativaram muito mais a opinião pública do que a ISS, que já consumiu uma cifra da ordem de US$ 100 bilhões.
Conquistar o público, aliás, é uma das tarefas da atual missão, que está levando câmeras de imagens 3-D para cinema Imax. Os astronautas filmarão os próprios trabalhos para um documentário que a produtora de filmes Warner Bros. pretende lançar no ano que vem.
Fonte: Jornal Folha de S.Paulo (com agências internacionais) - Foto: John Raoux (Associated Press)