domingo, 10 de maio de 2009

Cientistas estudam danos da poeira lunar nas naves

Análise permitirá determinar de que maneira a poeira lunar pode afetar missões espaciais

Uma nova análise conduzida com base em cópias preservadas por um cientista de dados perdidos pela Nasa permitirá determinar de que maneira a grudenta e abrasiva poeira lunar pode afetar futuras missões espaciais de longa duração ao satélite.

O autor do novo estudo, Brian O'Brien, era o diretor de pesquisa encarregado dos detectores de poeira que foram deixados na Lua pelas duas primeiras missões tripuladas ao satélite terrestre, a Apollo 11 e a Apollo 12. O'Brien era professor de ciência do espaço na Universidade Rice, em Houston, Texas.

Poeira lunar altamente abrasiva era movimentada por ação dos foguetes dos módulos lunares do programa Apollo, quando estes decolavam da superfície do satélite. As labaredas dos foguetes chegavam a chamuscar equipamentos posicionados a mais de 100 metros de distância do local de pouso.

"No futuro, estamos planejando construir um posto avançado na Lua, e estaremos retornando ao mesmo lugar muitas vezes", diz Philip Metzger, cientista no Centro de Vôo Espacial Kennedy, da Agência Espacial Americana (Nasa), na Flórida. "Por isso, precisaremos proteger a nossa base contra danos". Metzger e seus colegas estavam tentando modelar a interação entre os gases de escape de um foguete e a superfície lunar.

Em 2006, O'Brien foi informado por um amigo de que a Nasa havia perdido as fitas que continham os dados originais sobre suas experiências com detectores de poeira. "Por isso, decidi telefonar a Dave Williams (o curador científico da organização)", conta o pesquisador, que confirma a história.

O'Brien, que hoje trabalha como consultor ambiental independente em Perth, no Estado da Austrália Ocidental, saiu em busca de suas cópias pessoais das fitas magnéticas de sete trilhas que a Nasa lhe havia enviado depois que o programa Apollo foi encerrado.

Já que o leitor de fitas de sete trilhas da Nasa quebrou alguns anos atrás, O'Brien está trabalhando com a SpectrumData, uma empresa australiana sediada em Perth, para extrair os dados gravados nas fitas. Felizmente, ele havia imprimido cerca de 100 páginas de dados ao receber as fitas originalmente, de modo que foi capaz de executar uma análise preliminar dos resultados. As conclusões a que O'Brien chegou com seu estudo serão publicadas pela revista Geophysical Research Letters.

Exaurindo as possibilidades

Os dados de O'Brien sobre a poeira lunar são um acréscimo que se provará útil, afirmou Metzger. O primeiro detector de poeira lunar foi posicionado a 17 metros do local de decolagem do módulo lunar da Apollo 11, mas o segundo estava a mais de 100 metros de distância da posição de que a Apollo 12 decolou.

O'Brien analisou a energia produzida pelos três painéis solares dos detectores de poeira durante e imediatamente depois que os módulos lunares de ambas as missões deixaram a superfície da Lua. As ignições dos foguetes parecem ter levado poeira a se empilhar sobre alguns dos painéis solares, mas não sobre todos eles, o que sugere que a terra da Lua não é arremessada ao ar de maneira simétrica pela ignição de um motor-foguete. "Isso oferece aos cientistas da Nasa dados sólidos e contínuos obtidos a duas distâncias diferentes, algo com que eles não contavam anteriormente", afirmou O'Brien.

Metzger afirmou que um estudo recente dos destroços da sonda lunar não tripulada Surveyor 3, que colidiu com a superfície do satélite perto local de pouso da Apollo 12, havia demonstrado marcas semelhantes no solo. Tendo em vista essa descoberta recente, Metzger afirma, "faz sentido que Brian tenha obtido resultados tão dramaticamente diferentes nas células solares".

Ainda que a gravidade lunar tenha levado toda a poeira a cair dos painéis solares, não está claro porque alguns dos painéis terminaram limpos mais rápido. O'Brien sugere em que seu estudo que a poeira lunar talvez se torne mais aderente durante o dia do satélite, que dura 710 horas, porque a luz do sol removeria elétrons e criaria eletricidade estática. Ele acredita que isso talvez explique por que a célula solar que recebe menos luz solar direta apresenta o tempo mais rápido de queda da poeira lunar quando o sol se põe.

Os astronautas das missões Apollo chegaram e partiram durante as manhãs lunares, que são relativamente frias e oferecem sombras que ajudam na navegação. Missões futuras permanecerão no satélite ao longo de suas horas diurnas, e podem necessitar do desenvolvimento de métodos que permitam conviver com poeira mais aderente, caso a análise de O'Brien se prove correta.

"Os trajes dos astronautas, que estão armazenados há mais de 40 anos, continuam pretos de fuligem", diz Mihaly Horanyi, físico da Universidade do Colorado em Boulder. Mas nem todo mundo concorda com a interpretação proposta por O'Brien para os dados obtidos pelos sensores de poeira, ele acrescenta. "Creio que os dados apresentados em seu estudo serão recebidos de maneira positiva, mas os argumentos teóricos que ele expõe precisam ser mais refinados", disse o físico.

Cápsula de dados

Os curadores do Centro Nacional de Dados de Ciência Espacial, parte do Centro de Vôo Espacial Goddard da Nasa, em Greenbelt, Maryland, começaram a procurar por conjuntos de dados órfãos sobre as missões do programa Apollo não muito depois que foram anunciados os projetos para uma nova série de missões espaciais, cerca de três anos atrás, diz David Williams, o curador científico com quem O'Brien fez contato em 2006. Normalmente, o centro cuidado de transferências rotineiras de dados entre pesquisadores conectados à Nasa, ele afirmou.

"Nos dias do programa Apollo, não existia um acordo sistemático como o que mantemos atualmente", disse Williams, e ainda que muitos dos pesquisadores ofereçam acesso aberto aos seus dados, outros jamais o fizeram, e a Nasa não tinha normas formais que os forçassem a fazê-lo. Os dados relacionados a experiências realizadas nas missões finais do programa têm menor probabilidade de terem sido transmitidos à organização, ele diz, "especialmente porque o projeto Apollo foi encerrado com muita rapidez".

O serviço comandado por Williams continua a receber caixas de fitas de cientistas envolvidos com experiências no programa Apollo, por exemplo, dados sobre experiências relacionadas a fluxo de calor recentemente localizadas no Observatório Astronômico Lamont-Doherty, na Universidade Colúmbia, em Nova York.

Os formatos de dados podem variar amplamente e muitas vezes chegam com pouca explicação, ele acrescenta, e pode ser "um pouco parecido com trabalho de detetive" encontrar pessoas que sejam capazes de ajudar em sua interpretação. "É claro que queremos realizar essas tarefas antes que todo mundo se aposente, ou pior", diz Williams.

Assim que os dados são lidos - processo que envolve o envio de fitas a uma empresa canadense, desde que o leitor da Nasa quebrou-, Williams e seus colegas os acrescentam a um banco de dados de acesso aberto. "Creio que muita gente aprecie a oportunidade de estudar os dados brutos a fim de poder extrair suas próprias conclusões", afirma.

O'Brien espera que os futuros planejadores de missões aprendam tanto com seus dados quanto uma lição mais ampla sobre armazenagem dedados. "O trabalho científico era difícil no projeto Apollo", diz, "porque ainda estava em modo de exploração. Espero que a segunda geração tenha ciência e engenharia mais integradas".

Fonte: Nature via Terra - Tradução: Paulo Migliacci

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