Para os presidentes das duas empresas, com o combustível subindo e a alta do dólar, será inevitável um reajuste nos preços
Depois de prejuízos milionários no segundo trimestre do ano, as companhias aéreas Gol e TAM estão redobrando esforços para elevar os preços das passagens e recuperar a lucratividade. Os presidentes da Gol, Paulo Kakinoff, e da TAM, Marco Antonio Bologna, disseram nessa terça-feira, 21, que o aumento de custos no setor aéreo faz com que a tendência atual seja de alta das tarifas no Brasil.
"Não temos nenhuma projeção de curto prazo, mas, se permanecermos nesse patamar elevado de custo de combustível, é uma questão de tempo para vermos uma posição inevitável de aumento de tarifas", disse Kakinoff. "Persistindo a alta de custos dessa maneira, uma recuperação tarifária poderá acontecer", afirmou Bologna.
Para justificar a intenção das empresas de aumentar o preço das passagens, o presidente da TAM afirmou que as companhias aéreas sofreram um choque de custos "bastante relevante" nos últimos meses.
O principal deles foi o aumento das despesas com querosene de aviação, que representam cerca de um terço do custo das companhias. O custo do combustível é atrelado ao dólar e ficou maior com a valorização da moeda americana – o dólar subiu cerca de 11% entre abril e junho ante o real. "É muito difícil ver um retrocesso nesse cenário", completou Bologna.
O cenário adverso se traduziu em perdas nos balanços do segundo trimestre das duas companhias aéreas. O prejuízo da TAM somou R$ 928 milhões e, o da Gol, R$ 715 milhões. "O setor não pode conviver com resultados tão negativos", concluiu o presidente da Gol.
Desafio
Apesar de insistirem na necessidade de repassar os custos no preço das passagens, os executivos das duas empresas aéreas evitaram dar prazos de quando as tarifas começarão a subir. Segundo eles, o aumento só ocorrerá se o mercado for capaz de absorvê-lo. Até o momento, as companhias aéreas têm enfrentado dificuldade em elevar as tarifas.
"Se as companhias aumentarem o preço, terão menos passageiros", disse o diretor do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, Elones Ribeiro. "O passageiro que viaja a lazer vai deixar de viajar ou vai voltar a andar de ônibus se achar que a passagem aérea está muito cara.
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No primeiro semestre deste ano, Gol e TAM tiveram uma redução na demanda por voos domésticos de 2,44% e 0,38%, respectivamente, de acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Apesar da retração das duas líderes, o tráfego de passageiros no Brasil cresceu 7,3% no período.
O consultor em aviação e ex-diretor de operações da Varig Nelson Riet lembra que, para as empresas aéreas, o assento vazio é prejuízo. Segundo ele, as companhias tentam repassar os custos mais altos no preço, mas a competição entre elas dificulta o processo. "Ela acaba segurando o preço para encher o avião, mas realiza um voo que não paga seus custos", disse Riet. "Porém, o custo de vender passagem aérea sem fazer caixa vai se refletir em prejuízo no balanço", conclui o consultor.
A solução encontrada por Gol e TAM para voltar ao lucro foi enxugar a operação. As duas empresas pretendem encerrar o ano oferecendo um volume de passagens menor do que no ano passado – de até 4,5% para a Gol e de até 3% para a TAM. Isso significa, na prática, que elas vão eliminar os voos menos rentáveis e concentrar sua operação nos mercados mais maduros.
"Outra solução para recuperar a rentabilidade é cortar ainda mais os custos. Mas as companhias já vêm eliminando despesas e há cada vez menos espaço para isso", disse Riet.
A Azul, segundo ele, teria uma vantagem nesse cenário. A empresa está no meio de um processo de fusão com a companhia de aviação regional Trip e deve encontrar espaço para reduzir custos com a integração de áreas.
Fonte: Anne Warth e Marina Gazzoni, de O Estado de S. Paulo