Um zumbido elétrico enche o ar do elevado vale desértico quando o cartógrafo Jeff Sloan, do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, lança ao céu um pequeno avião de controle remoto. A 120 m de altura, o AreoVironmentRaven, de 2 kg, inicia uma trajetória em vaivém, tirando milhares de fotos em alta resolução de um brejo cheio de patos, gansos e grous-canadenses. O Raven, com 140 cm de envergadura, é um sistema aéreo não tripulado, mais conhecido como “drone”.
A tecnologia dos “drones”, corriqueira em operações militares, está atualmente atraindo cientistas por propiciar análises mais baratas, seguras, certeiras e detalhadas do mundo natural.
“Isso é realmente algo de ponta para nós”, disse o biólogo Jim Dubovsky, especialista em aves migratórias, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA.
Ravens antigos, produzidos por volta de 2005 com a função de monitorar posições inimigas à distância e que custam US$ 250 mil por sistema, estavam destinados à destruição quando um coronel do Exército pensou que eles poderiam ter melhor uso em pesquisas científicas. Os equipamentos foram doados ao Departamento Geológico e adaptados à vida civil, com novas câmeras e outros instrumentos. A primeira missão deles foi contar grous.
Tradicionalmente, contagens de espécies são feitas por um biólogo sobrevoando a área em um aviãozinho ou helicóptero. Os “drones” oferecem vantagens, como a possibilidade de chegar bem perto sem assustar os bichos.
Os grous-canadenses se instalam no brejo todas as noites e raramente se mexem até de manhã, o que faz deles um alvo fácil para um “drone” com uma câmera térmica. Nos vídeos, as aves apareceram como “um punhado de grãos de arroz sobre um pedaço de papel preto”, segundo Dubovsky.
Imagem térmica dos pássaros empoleirados
Desde aquele voo, os “drones” já varreram o interior de Idaho atrás de coelhos-pigmeus, foram açoitados por chuvas e ventos tropicais no Havaí ao monitorar uma cerca que protege espécies vegetais e avaliaram a restauração do rio Elwha, recentemente liberado de uma barragem, no noroeste de Washington.
O maior problema agora é a falta de pilotos treinados e de equipamentos. Outro obstáculo é receber autorização para voar. O aval da Administração Federal de Aviação para o estudo deste ano com as grous chegou tarde demais para o auge da migração rumo ao Colorado.
O biólogo Phillip Groves, da empresa elétrica Idaho Power, que opera barragens no rio Snake, está usando um helicóptero teleguiado para estudar áreas ameaçadas de desova de um tipo de salmão.
Embora demore mais —dois a três dias com duas pessoas operando um “drone”, em vez de um só dia com um biólogo num helicóptero—, o custo total é menor e os dados capturados por câmeras em vez do olho humano são bem mais precisos, segundo ele.
Também é mais seguro. Há três anos, um biólogo e piloto que Groves conhecia morreu num acidente de helicóptero estudando salmões.
Embora os “drones” também tenham senões —como a curta duração das baterias—, eles podem voar com tempo ruim.
Groves disse que já colocou seus “drones” em cânions com rajadas de vento a 64 km/h, o que seria suficiente para abreviar o voo de um helicóptero tripulado. O aparelho sofreu, mas voou, e nenhuma vida ficou em perigo.
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Fonte: Sean Patrick Farrell (The New York Times) via O Povo - Imagens: Reprodução