Para entender o conflito, é preciso levar em conta que a Ucrânia é um país dividido tanto do ponto de vista étnico quanto cultural.
A população do leste do país, perto da fronteira russa, tem maioria russa, é influenciada pela cultura russa, fala russo e tende a ser pró-Moscou.
Já a população da região central e oeste é de origem ucraniana, fala ucraniano e, desde que o país se tornou independente em 1991 com o fim da União Soviética, quer fazer parte da União Europeia.
A crise atual tomou corpo a partir de novembro do ano passado, quando o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich foi pressionado pela população da capital, Kiev, a priorizar relações comerciais com a União Europeia em detrimento de acordos com a Rússia.
De etnia russa, Yanukovich preferiu fechar com Moscou, pedindo um empréstimo bilionário à potência europeia-asiática.
Levantes populares começaram a tomar as ruas de Kiev, capital da Ucrânia, e foram reprimidos com mão de ferro pelo governante. A repressão acabou alimentando a revolta dos manifestantes, desencadeando violentos conflitos urbanos.
Em fevereiro, Yanukovich foi expulso do país e forças pró-União Europeia assumiram o poder após se autoproclamarem os novos governantes.
A população aprovou a troca e votou a favor da permanência do novo governo pró-Ocidente nas eleições realizadas em regime de urgência.
Vladimir Putin não reconheceu a troca de governo, enquadrando-a como golpe de Estado.
Ao mesmo tempo, milhares de soldados sem identificação começaram a tomar bases militares na península da Crimeia, no leste do país, para apoiar os insurgentes pró-Rússia. É claro que Putin nunca assumiu que as tropas não-identificadas eram russas, mas é consenso que os militares são enviados de Moscou.
As tensões culminaram na anexação da Crimeia pela Rússia em março deste ano, após um referendo não reconhecido internacionalmente realizado na região, com vitória dos separatistas.
Lembre-se que a Crimeia originalmente era parte da União Soviética, e foi transferida à Ucrânia há pouco mais de 50 anos por Nikita Khrushchev, sucessor de Stálin e ucraniano.
Em resposta à anexação forçada da Crimeia em março, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram uma série de sanções a empresas e homens fortes do governo russo. No momento, as relações entre a Rússia e as potências do Ocidente estão totalmente fragilizadas pelo impasse.
Depois que a Rússia anexou a Crimeia, outras regiões e cidades de maioria russa também manifestaram interesse em se separar da Ucrânia. Os conflitos entre tropas oficiais e separatistas pró-russos já deixaram mais de 400 mortos no leste da Ucrânia.
O governo da Ucrânia acusa Moscou de apoiar e armar os rebeldes separatistas, o que é negado pelo presidente russo, Vladimir Putin.