O australiano Julian Assange (foto acima), que tornou-se famoso divulgando milhares de documentos confidenciais americanos sobre a guerra no Afeganistão, voltou à cena nesta sexta-feira, com uma série de documentos sobre a guerra do Iraque; mas em relação à própria vida é um verdadeiro partidário da arte do segredo.
Criador e figura emblemática do Wikileaks, o site especializado em vazar informações da inteligência, este homem de 39 anos acumulou muitas revelações nos últimos anos, do Iraque ao Quênia, passando pela Islândia, pelo Afeganistão e agora pelo Iraque.
Nesta sexta-feira, a rede de televisão Al-Jazeera divulgou as "principais revelações" do site WikiLeaks, anunciando que o Exército dos Estados Unidos "encobriu" torturas no Iraque e causou a morte de centenas de civis em seus postos de controle militar.
"Queremos três coisas: liberar a imprensa, revelar os abusos e salvaguardar documentos que fazem História", explicou anteriormente Assange à AFP sobre sua decisão de publicar documentos confidenciais sobre a guerra do Afeganistão.
Em pouco tempo, Assange se converteu no homem que fez a CIA tremer, o grande revelador de abusos, o apóstolo da transparência... mas, ao mesmo tempo, manteve um grande enigma em torno de sua pessoa.
Por exemplo, ele se nega a dizer para onde vai ou de onde vem, viaja de capital em capital hospedando-se em casa e simpatizantes ou conhecidos, não dá o número do seu celular e também não fornece a data exata de seu nascimento.
"Estamos ante organizações que não obedecem às regras. Estamos ante agências de inteligência", assegura.
Nascido em 1971, sem que se saiba a data, em Magnetic Island, nordeste da Austrália, Assange teve uma infância agitada, passando por 7 escolas, segundo a imprensa australiana.
Em sua adolescência, Assange se destacou como hackker até ser descoberto pela polícia de Melbourne. Para escapar da justiça, teve que pagar uma multa e jurar que manteria boa conduta.
A polícia jamais conseguiu estabelecer se esteve envolvido num incidente, em outubro de 1989, no qual as telas dos computadores da Nasa s viram repentinamente cobertas pela palavra "WANK" (masturbação) pouco antes do lançamento do ônibus espacial Atlantis.
Assange conta que foi "conselheiro de segurança, fundador de uma das primeiras companhias de serviços informáticos na Austrália, assessor tecnológico, investigador jornalístico, coautor de um livro".
Em 2006, fundou a Wikileaks com "umas dez pessoas procedentes dos âmbitos dos direitos humanos, da imprensa e da alta tecnologia".
A Islândia e a Suécia, onde conta com apoios e está amparado por legislações favoráveis, são escalas privilegiadas em seu constante ir e vir por todo o mundo, de Londres a Nairóbi, da Holanda à Califórnia.
Na Islândia foi onde se encerrou durante semanas em uma casa com as persianas sempre fechadas, para combinar com alguns companheiros do Wikileaks sua primeira grande "exclusiva": um vídeo gravado pela câmera de um helicóptero militar americano em Bagdá, em 2007, que mostra uma incursão que causou a morte de dois empregados da agência de notícias Reuters e de vários civis.
Segundo a revista americana New Yorker, Assange foi quem decodificou o vídeo militar, classificando a tarefa de "moderadamente difícil".
Assange milita, além disso, por um novo jornalismo.
"Geralmente nos perguntam: vocês verificam suas fontes? O que verificamos são documentos. Ligamos e perguntamos: esses documentos são seus? E acho que temos um padrão muito mais elevado".
Em meio às críticas do Pentágono sobre a divulgação de documentos e o perigo que ela pode trazer aos americanos, Assange afirma que "encaramos nossa responsabilidade de publicação com seriedade".
Fonte: AFP