As três aeronaves foram doadas pela Polícia Federal e serão utilizadas para as aulas do curso de mecânica de aviação
Para muitos, sucata é sinônimo de algo velho e que não possui mais qualquer utilidade. Entretanto, esse conceito mudou no Aeroclube de Bauru após a doação de três aviões apreendidos pela Polícia Federal (PF). As aeronaves, que estão sucateadas, serão bastante úteis e representarão um diferencial ao curso de mecânica de aviação no local.
Os aviões doados foram construídos na década de 70 e são dos modelos Sertanejo - com capacidade para quatro pessoas - e um Navajo - para oito. “Eram aeronaves executivas, que foram apreendidas pela Polícia Federal pelo envolvimento com o crime, provavelmente contrabando. Após ficarem apreendidas por muito tempo, acabaram ficando sucateadas”, explica o responsável técnico de manutenção do Aeroclube, Paulo Francisco da Silva.
Ele explica ainda que as aeronaves não possuem qualquer condição de voltar a voar, porém, informa que terão imensa utilidade em solo. Desde o começo desta semana, as aeronaves já passaram a ser utilizadas nas aulas do curso de mecânica de aviação realizadas no Aeroclube, que é autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Para Paulo Francisco, os alunos irão poder “desmontar e montar” esses aviões e, com isso, haverá melhorias qualitativas no processo de formação. “Nunca tivemos um avião completo para isso. Os alunos podem ver as estruturas, trens de pouso, motores e tudo mais. É muito importante que tenham contato com tudo o que aprendem nos livros”.
O responsável técnico de manutenção do Aeroclube complementa que “esses aviões trarão um diferencial ao curso de mecânica, pois, pelo custo, quase nenhum curso possui uma aeronave para ser analisada na prática”.
O curso de mecânica é realizado em 20 meses e dividido em três módulos: básico, habilitação em célula (CEL) e habilitação em grupo motopropulsor (GMP). A turma atual, que já é a quarta, está no segundo módulo das aulas.
Para o professor do curso, José Renato Andreoli, a aquisição dos três aviões representará um ganho qualitativo no ensino. “Quando o curso termina, os alunos precisam fazer um estágio de três anos em uma oficina de aviação. É lá que muitos entram em contato com os aviões de verdade. Essa vai ser uma oportunidade para que conheçam as estruturas e mexam nelas durante as aulas mesmo”.
Finalizado o curso, há uma prova teórica e um teste prático da Anac, conhecido como “check”. Na avaliação, o candidato precisa inspecionar uma determinada aeronave de acordo com todos os itens indicados no manual do fabricante. “Com essa experiência, eles estarão mais preparados para a prova”, completa o professor.
Informação
Quem comemorou bastante a doação das três aeronaves foi o aluno do curso José Hygino, 24 anos. O jovem, que se formou em dezembro do ano passado em engenharia mecatrônica, veio fazer o curso em busca de mais informações técnicas.
“Podendo trabalhar nesses aviões, tenho certeza que vou conseguir muito mais esse complemento de informação que vim buscar. É exatamente essa prática que eu queria. Na faculdade, vemos muitos cálculos e, por isso, quis fazer esse curso. Para conhecer esse ambiente”, conta Hygino.
Alex Sandro Murari, 31 anos, já trabalha como auxiliar mecânico de aviação. Ele conta que já fez vários outros cursos menos aprofundados, porém, todos bastante teóricos. “Sempre senti essa falta. Nos cursos, vemos muitas coisas nos livros. Mas, quando entramos em uma oficina é bem diferente. Então, é muito bom já ver e saber mexer nesses aviões que foram doados”, finaliza.
Mercado de trabalho
Para os mecânicos de aviação, o mercado de trabalho na área é bastante positivo. Segundo eles, além dos grandes eventos sediados no Brasil nos próximos anos - Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016 -, a mão-de-obra ainda é escassa.
“A formação de mecânicos de avião é muito pequena. Então, falta mão-de-obra na área. Quem se formar, terá muitas oportunidades no mercado de trabalho”, conta o responsável técnico de manutenção do Aeroclube, Paulo Francisco da Silva.
Para o professor do curso de aviação mecânica, José Renato Andreoli, “a expansão das empresas aéreas e o aumento das pessoas que utilizam o avião como meio de transporte trazem consequência ao setor de mecânica e também ampliam o mercado de trabalho. Por isso é importante uma formação de qualidade”.