Jacqueline Ruas morreu na volta de viagem à Disney.
Governo diz que cadastro é obrigatório, mas não há punição prevista.
O Cadastur, cadastro do Ministério do Turismo no qual constam os profissionais da área registrados, não inclui o nome de Gisele Martins dos Santos, apontada pela Tia Augusta Turismo como a pessoa que acompanhou o grupo que foi à Disney no mês passado e no qual estava a estudante Jacqueline Ruas, de 15 anos. Durante a viagem, Jacqueline ficou doente e acabou morrendo no voo de volta para o Brasil.
A informação de que Gisele Martins dos Santos não consta do Cadastur foi confirmada ao G1 pela Federação Nacional de Guias de Turismo (Fenagtur) e pelo próprio Ministério do Turismo. “Com esse nome, dessa forma, ela não aparece (no cadastro)”, disse na terça-feira (11) Mariana Xavier, chefe da Divisão de Serviços Turísticos do ministério.
“Estar nesse cadastro é obrigatório. É o que confere à pessoa atuar profissionalmente”, explicou Ricardo Moesch, diretor de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico do Ministério do Turismo. “Isso é exercício ilegal da profissão”, contou ele, se ficar comprovado que Gisele e a Tia Augusta cometeram a irregularidade.
Apesar disso, segundo Moesch, o Ministério do Turismo não pode, no momento, aplicar qualquer multa ou fazer advertência em relação à Tia Augusta Turismo porque a Lei do Turismo (11.771/08), que prevê as penalidades, ainda não foi regulamentada pelo governo federal, o que deve ocorrer até o fim do ano.
O que diz a Tia Augusta
Por meio de nota, a Tia Augusta informou que Gisele é funcionária da empresa há 19 anos e, desde então, atua como “coordenadora de grupos ou ‘tour conductor’”. Segundo a agência, esse é o profissional que “acompanha, coordena e lidera o grupo”. Ainda de acordo com o comunicado, esta nomenclatura “não faz distinção entre guia, coordenador de grupos ou ‘tour conductor’ ou até mesmo monitor”.
A Tia Agusta informa que capacita seus profissionais com o chamado "Manual do Tour Conductor (coordenador de grupos)", que fala especificamente da condução de grupos para os Estados Unidos, existe desde 1980, e contém um "roteiro de procedimentos desde o embarque, passando por todas as atrações, até o retorno para o Brasil".
De acordo com a agência, o objetivo é padronizar as ações desses profissionais. A capacitação ocorre uma vez por ano e, nas excursões, a Tia Augusta diz levar sempre um coordenador principal e um auxiliar. Segundo a assessoria de imprensa da agência, a profissão de coordenador de grupo ainda não está regulamentada, o que não impediria que fosse exercida no exterior.
Questionado sobre a função de "coordenador de grupo", Moesch, do Ministério do Turismo, diz: “Não conheço essa profissão. A única função regulamentada por lei na área de turismo é a de guia”.
A informação de que Gisele não é habilitada para exercer oficialmente a profissão de guia de turismo também chegou à Federação Nacional de Guias de Turismo (Fenagtur). “Alguns guias me ligaram solicitando essa informação. Esse nome (Gisele Martins dos Santos) fornecido pela Tia Augusta não aparece no Cadastur neste momento”, disse a presidente da entidade, Cristina Baumgarten.
Regras
O Cadastur é o único cadastro do Ministério do Turismo que serve como base para consulta dos profissionais do setor, explicou Moesch. É o ministério quem fornece o crachá de guia, depois que a pessoa faz um curso profissionalizante, que precisa ter 800 horas no mínimo e ser reconhecido pelo Ministério da Educação. O crachá vale por dois anos e pode ser renovado. Para se formar nesse ofício, basta ter o ensino médio completo.
“O guia tem que ter um curso, tem que ser cadastrado. O acompanhante não faz o mesmo trabalho”, diz Mariana Xavier, do Ministério do Turismo. Entre outras coisas, os profissionais que fazem os cursos têm aulas de história, geografia, formatação de roteiros e até primeiros-socorros.
Bahia
O G1 está tentando contato com Gisele desde a semana passada. Na primeira vez que conseguiu falar com ela por telefone, ela pediu que a reportagem procurasse a assessoria de imprensa da Tia Augusta.
Na quinta-feira (6), em outro telefonema, uma mulher que se identificou como a irmã de Gisele informou que ela não estava mais em São Paulo com aquele celular e sim na Bahia, onde mora. “Ela está muito tranquila porque falou a verdade sobre o que aconteceu. Está em um lugar que não tem acesso (a meios de contatá-la)”, afirmou.
A reportagem ligou sete vezes, entre segunda (10) e quarta (12), na tentativa de falar com Gisele em um albergue no sul da Bahia do qual ela seria dona. A informação era a de que ela não estava nos momentos em que o G1 telefonou. Nas ligações, uma funcionária pedia que a assessoria de imprensa da Tia Augusta fosse procurada para qualquer esclarecimento sobre o caso.
Morte em voo
De acordo com o comunicado da Tia Augusta Turismo, divulgado no dia 3 de agosto, os problemas de Jacqueline Ruas na Disney começaram no dia 28 de julho, quando ela sentiu sintomas de gripe, como tosse e febre. Filha única, a estudante viajava acompanhada de uma amiga e de outras 27 pessoas.
No dia 28, ela foi atendida no hotel por uma médica americana, acionada pelo seguro-saúde. Segundo a agência, a mulher receitou o antiviral Tamiflu, indicado para casos de nova gripe, analgésico e um antibiótico.
Jacqueline quis continuar com os passeios, apesar de não ter melhorado. No dia 31, precisou ir a um hospital, onde ficou por seis horas. Fez exames de sangue - o teste para influenza A (H1N1), o vírus da nova gripe, teria dado negativo - e raio-x de pulmão.
Segundo a agência, o hospital liberou a adolescente para viajar. Procurado, o hospital não quis falar sobre o assunto por afirmar que a legislação americana garante a privacidade dos pacientes. A família disse que não foi avisada pela empresa sobre o diagnóstico de princípio de pneumonia.
Após a liberação, o grupo pegou o primeiro avião de volta no dia seguinte, 1º de agosto. Na escala no Panamá, Jacqueline teria piorado. Meninas que estavam com ela na viagem chegaram a dizer que a jovem, nos últimos dias, estava muito debilitada e nem tinha condições de fazer a mala sozinha.
Maquiagem
Segundo o relato de integrantes da excursão, sempre acompanhada de Gisele Martins dos Santos, Jacqueline embarcou para São Paulo. Estava em uma cadeira de rodas antes de entrar no avião. As amigas da jovem de São Caetano do Sul, no ABC, chegaram a dizer que Gisele teria pedido que usassem maquiagem para disfarçar o abatimento, já que outras pessoas ficaram doentes na viagem.
A Tia Augusta nega o relato. "Não é verdadeira a história sobre o uso da maquiagem ou de óculos escuros antes do embarque. A Tia Augusta tem 35 anos de história. Já levamos mais de 300 mil brasileiros à Disney e nunca tivemos uma ocorrência como essa", diz a empresa na nota.
No voo, Jacqueline acabou morrendo quando faltava pouco mais de uma hora para o desembarque em Guarulhos, na Grande São Paulo. A família só soube do óbito quando foi buscar a garota no terminal.
Fonte: Carolina Iskandarian (G1)
Governo diz que cadastro é obrigatório, mas não há punição prevista.
O Cadastur, cadastro do Ministério do Turismo no qual constam os profissionais da área registrados, não inclui o nome de Gisele Martins dos Santos, apontada pela Tia Augusta Turismo como a pessoa que acompanhou o grupo que foi à Disney no mês passado e no qual estava a estudante Jacqueline Ruas, de 15 anos. Durante a viagem, Jacqueline ficou doente e acabou morrendo no voo de volta para o Brasil.
A informação de que Gisele Martins dos Santos não consta do Cadastur foi confirmada ao G1 pela Federação Nacional de Guias de Turismo (Fenagtur) e pelo próprio Ministério do Turismo. “Com esse nome, dessa forma, ela não aparece (no cadastro)”, disse na terça-feira (11) Mariana Xavier, chefe da Divisão de Serviços Turísticos do ministério.
“Estar nesse cadastro é obrigatório. É o que confere à pessoa atuar profissionalmente”, explicou Ricardo Moesch, diretor de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico do Ministério do Turismo. “Isso é exercício ilegal da profissão”, contou ele, se ficar comprovado que Gisele e a Tia Augusta cometeram a irregularidade.
Apesar disso, segundo Moesch, o Ministério do Turismo não pode, no momento, aplicar qualquer multa ou fazer advertência em relação à Tia Augusta Turismo porque a Lei do Turismo (11.771/08), que prevê as penalidades, ainda não foi regulamentada pelo governo federal, o que deve ocorrer até o fim do ano.
O que diz a Tia Augusta
Por meio de nota, a Tia Augusta informou que Gisele é funcionária da empresa há 19 anos e, desde então, atua como “coordenadora de grupos ou ‘tour conductor’”. Segundo a agência, esse é o profissional que “acompanha, coordena e lidera o grupo”. Ainda de acordo com o comunicado, esta nomenclatura “não faz distinção entre guia, coordenador de grupos ou ‘tour conductor’ ou até mesmo monitor”.
A Tia Agusta informa que capacita seus profissionais com o chamado "Manual do Tour Conductor (coordenador de grupos)", que fala especificamente da condução de grupos para os Estados Unidos, existe desde 1980, e contém um "roteiro de procedimentos desde o embarque, passando por todas as atrações, até o retorno para o Brasil".
De acordo com a agência, o objetivo é padronizar as ações desses profissionais. A capacitação ocorre uma vez por ano e, nas excursões, a Tia Augusta diz levar sempre um coordenador principal e um auxiliar. Segundo a assessoria de imprensa da agência, a profissão de coordenador de grupo ainda não está regulamentada, o que não impediria que fosse exercida no exterior.
Questionado sobre a função de "coordenador de grupo", Moesch, do Ministério do Turismo, diz: “Não conheço essa profissão. A única função regulamentada por lei na área de turismo é a de guia”.
A informação de que Gisele não é habilitada para exercer oficialmente a profissão de guia de turismo também chegou à Federação Nacional de Guias de Turismo (Fenagtur). “Alguns guias me ligaram solicitando essa informação. Esse nome (Gisele Martins dos Santos) fornecido pela Tia Augusta não aparece no Cadastur neste momento”, disse a presidente da entidade, Cristina Baumgarten.
Regras
O Cadastur é o único cadastro do Ministério do Turismo que serve como base para consulta dos profissionais do setor, explicou Moesch. É o ministério quem fornece o crachá de guia, depois que a pessoa faz um curso profissionalizante, que precisa ter 800 horas no mínimo e ser reconhecido pelo Ministério da Educação. O crachá vale por dois anos e pode ser renovado. Para se formar nesse ofício, basta ter o ensino médio completo.
“O guia tem que ter um curso, tem que ser cadastrado. O acompanhante não faz o mesmo trabalho”, diz Mariana Xavier, do Ministério do Turismo. Entre outras coisas, os profissionais que fazem os cursos têm aulas de história, geografia, formatação de roteiros e até primeiros-socorros.
Bahia
O G1 está tentando contato com Gisele desde a semana passada. Na primeira vez que conseguiu falar com ela por telefone, ela pediu que a reportagem procurasse a assessoria de imprensa da Tia Augusta.
Na quinta-feira (6), em outro telefonema, uma mulher que se identificou como a irmã de Gisele informou que ela não estava mais em São Paulo com aquele celular e sim na Bahia, onde mora. “Ela está muito tranquila porque falou a verdade sobre o que aconteceu. Está em um lugar que não tem acesso (a meios de contatá-la)”, afirmou.
A reportagem ligou sete vezes, entre segunda (10) e quarta (12), na tentativa de falar com Gisele em um albergue no sul da Bahia do qual ela seria dona. A informação era a de que ela não estava nos momentos em que o G1 telefonou. Nas ligações, uma funcionária pedia que a assessoria de imprensa da Tia Augusta fosse procurada para qualquer esclarecimento sobre o caso.
Morte em voo
De acordo com o comunicado da Tia Augusta Turismo, divulgado no dia 3 de agosto, os problemas de Jacqueline Ruas na Disney começaram no dia 28 de julho, quando ela sentiu sintomas de gripe, como tosse e febre. Filha única, a estudante viajava acompanhada de uma amiga e de outras 27 pessoas.
No dia 28, ela foi atendida no hotel por uma médica americana, acionada pelo seguro-saúde. Segundo a agência, a mulher receitou o antiviral Tamiflu, indicado para casos de nova gripe, analgésico e um antibiótico.
Jacqueline quis continuar com os passeios, apesar de não ter melhorado. No dia 31, precisou ir a um hospital, onde ficou por seis horas. Fez exames de sangue - o teste para influenza A (H1N1), o vírus da nova gripe, teria dado negativo - e raio-x de pulmão.
Segundo a agência, o hospital liberou a adolescente para viajar. Procurado, o hospital não quis falar sobre o assunto por afirmar que a legislação americana garante a privacidade dos pacientes. A família disse que não foi avisada pela empresa sobre o diagnóstico de princípio de pneumonia.
Após a liberação, o grupo pegou o primeiro avião de volta no dia seguinte, 1º de agosto. Na escala no Panamá, Jacqueline teria piorado. Meninas que estavam com ela na viagem chegaram a dizer que a jovem, nos últimos dias, estava muito debilitada e nem tinha condições de fazer a mala sozinha.
Maquiagem
Segundo o relato de integrantes da excursão, sempre acompanhada de Gisele Martins dos Santos, Jacqueline embarcou para São Paulo. Estava em uma cadeira de rodas antes de entrar no avião. As amigas da jovem de São Caetano do Sul, no ABC, chegaram a dizer que Gisele teria pedido que usassem maquiagem para disfarçar o abatimento, já que outras pessoas ficaram doentes na viagem.
A Tia Augusta nega o relato. "Não é verdadeira a história sobre o uso da maquiagem ou de óculos escuros antes do embarque. A Tia Augusta tem 35 anos de história. Já levamos mais de 300 mil brasileiros à Disney e nunca tivemos uma ocorrência como essa", diz a empresa na nota.
No voo, Jacqueline acabou morrendo quando faltava pouco mais de uma hora para o desembarque em Guarulhos, na Grande São Paulo. A família só soube do óbito quando foi buscar a garota no terminal.
Fonte: Carolina Iskandarian (G1)
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