sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Boeing paga US$ 200 milhões por ter afirmado que 737 MAX era seguro

Empresa disse repetidas vezes que não havia risco à segurança do avião e escondeu falha de acionistas, diz SEC. Dois acidentes com aeronave mataram 346 pessoas.

Boeing 737 MAX na feira de Farnborough, no Reino Unido (Foto: Jason Alden/Bloomberg)
A Boeing concordou em pagar US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) para encerrar processo aberto pela SEC, o órgão regulador de mercado de capitais americano, no qual é acusada de não ter revelado falhas de segurança dos aviões 737 MAX. Dois acidentes com a aeronave resultaram em morte de 346 pessoas.

De acordo com a SEC, a Boeing e seu então presidente-executivo, Dennis Muilenburg, divulgaram comunicados que esconderam de acionistas os problemas detectados em um software que foram a causa dos acidentes. As tragédias envolveram um avião da Lion Air, em outubro de 2018, na costa da Indonésia, e um avião da Ethiopian Airlines, em março de 2019, que caiu no país.

Após o primeiro acidente, Boeing e Muilenburg sabiam que o software representava risco à vida dos passageiros e da tripulação, mas garantiram ao público que o 737 MAX era "tão seguro quanto qualquer avião que já tenha voado", lembrou a SEC.

O comunicado foi "editado e aprovado por Muilenburg". De acordo com o órgão regulador, a empresa já havia feito uma revisão interna de segurança do sistema de controle de voo chamados MCAS e já estava redesenhando software do sistema. Isso não foi revelado ao público na época.

Foram repetidas notas em que a segurança da aeronave era reafirmada. "Após o segundo acidente, Boeing e Muilenburg afirmaram que não havia erros nem lacunas no processo de certificação do MCAS, apesar de relatos no sentido contrário", disse a SEC.

EX-CEO paga multa de US$ 1 milhão


Nem a Boeing nem Muilenburg admitiram ou negaram os fatos elencados pela SEC. Além dos US$ 200 milhões pagos pela companhia, o acordo prevê o pagamento de US$ 1 milhão pelo executivo.

Fizemos amplas e profundas mudanças na companhia, em resposta a esses acidentes. Mudanças fundamentais que fortaleceram nosso processos de segurança e supervisão de questões de segurança e que enriqueceram nossa cultura de segurança, qualidade e transparência, disse a Boeing em nota.

O acerto com a SEC ocorre um ano e meio depois de um acordo entre Boeing e o Departamento de Justiça dos EUA, pelo qual a empresa pagou R$ 2,5 bilhões, após o fim das investigações. Muilenburg não foi localizado pela equipe da Bloomberg para comentar o acordo.

O montante envolveu uma multa criminal de US$ 243,6 milhões e US$ 500 milhões em indenizações para parentes das vítimas. Na investigação do Departamento de Justiça, foi identificado que funcionários da Boeing enganaram autoridades da aviação americana e que, por isso, o governo dos EUA não conseguiu avaliar corretamente a segurança das aeronaves 737 MAX.

Por O Globo, com agências internacionais

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