Um agente de inteligência chinês pode pegar até 50 anos de prisão nos EUA, depois de tentar obter dados sobre o GE9X, o maior motor de aviação do mundo, que impulsiona o Boeing 777X. Para atingir seu objetivo, o espião se aproximou de um funcionário da GE, cuja identidade é mantida em segredo e recebeu alguns documentos.
História de filme
O espião manteve um diário detalhado de todos os seus passos e conversas em seu IPhone, além de ter carregado todos os documentos importantes para a nuvem. Quando foi capturado, os agentes americanos tiveram acesso a tudo e o material foi incluído nos autos do processo, que será julgado em novembro.
Toda a história tem como protagonista o agente identificado como Xu, que trabalha para o serviço secreto chinês há mais de dez anos. Os documentos mostram que ele entrou em contato com as pessoas de quem esperava informações, por meio da ajuda de um colega da Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Nanjing. Um deles é um engenheiro da GE com raízes chinesas, especialista em materiais compósitos.
Esses materiais têm papel central no GE9X. As pás e a nacele do motor são feitas de materiais compósitos: fibras de carbono endurecidas impregnadas com resina de grande leveza e resistência. Motores mais leves significam que os aviões podem transportar mais passageiros ou mais carga e voar mais longe com menos combustível. Adicionado a isso está a segurança: a fadiga do material se instala mais tarde.
Jornalistas da Bloomberg Businessweek revisaram os documentos do tribunal, que certamente poderiam ser transformados em um filme de espionagem de sucesso, por revelar em detalhes como funciona industrial chinesa.
Foco no Xu
O primeiro contato de Xu com seu contato se deu através de um convite para uma palestra na China, que aparentemente se assemelharia a um compromisso normal. No entanto, rapidamente os interlocutores chineses começaram a demonstrar uma atitude suspeita, perguntando detalhes do trabalho do funcionário da GE e pedindo mais detalhes.
O engenheiro apontou repetidamente que não tinha permissão para compartilhar informações não públicas sobre sua empresa. Após a palestra, ele recebeu Xu em seu hotel, que o presenteou com duas caixas de chá, juntamente com uma taxa de US$ 3.500 pela palestra e reembolso das despesas de viagem. Os dois mantiveram contato.
Mas de repente algo mudou. Depois de inicialmente não querer revelar nenhum segredo, o engenheiro de repente se mostrou mais do que disposto a fazê-lo, mesmo perguntando o que exatamente Xu poderia precisar. O engenheiro da GE chegou a dizer que precisava “vazar” os documentos com agilidade, antes que a empresa suspeitasse de algo. Era uma isca.
A mudança repentina de opinião não deixou Xu desconfiado, mas isso era parte da estratégia do FBI, que apoiou o funcionário da GE em cada passo da comunicação com o agente chinês.
Como o FBI chegou no caso
Como tudo pode ser rastreado na era digital, ao preparar sua apresentação, o engenheiro da GE baixou cinco arquivos da empresa que estavam sob proteção de controle de exportação dos EUA para seu laptop.
Isso imediatamente fez com que os alertas de vazamento de dados soassem na área de segurança da informação da GE. Embora ele não tenha compartilhado os arquivos com mais ninguém na China, levá-los ao país violou a lei dos EUA. Ele também violou a política da empresa ao não notificar a GE Aviation sobre a palestra e, então, perdeu o emprego.
Dada a suspeita de vazamento de informações industriais, o FBI foi acionado pela empresa de aviação. Os policiais, então, organizaram a investigação e chamaram o engenheiro para uma reunião inicial, quando contratou um advogado e concordou em cooperar com a investigação. Foi assim que as autoridades conseguiram atrair o agente chinês Xu para fora da China.
Já interpretando um papel, o ex-funcionário da GE convidou Xu para uma reunião para entregar informações importantes diretamente. “Existe alguma outra informação que possa lhe interessar?”, perguntou em uma das conversas. “Quero dizer, eu posso olhar ao redor e me preparar“.
A prisão e descobertas
Na segunda-feira de Páscoa de 2018, houve uma reunião em Bruxelas e Xu foi capturado, junto com seu telefone e laptop. Em seu iPhone, Xu documentara detalhadamente por anos como ele e seus colegas trabalhavam. Para os EUA, esta informação é extremamente valiosa e um acordo de extradição firmado com a UE garantiu que o chinês fosse levado ao território americano.
Enquanto vasculhavam o celular de Xu, os investigadores também resolveram outro caso de espionagem. O motor Leap do Airbus A320neo e Boeing 737 MAX, desenvolvido pela GE em conjunto com a Safran, também foi alvo do serviço secreto chinês. Em 2013, Xu tentou obter informações do computador de um funcionário da Safran através de um arquivo Trojan. A tentativa falhou.
Julgamento
Em 5 de novembro de 2021, o júri condenou Xu por conspiração e tentativa de cometer espionagem industrial e roubar segredos comerciais. Ele enfrenta uma sentença máxima de 50 anos de prisão e uma multa de US$ 5 milhões se sua sentença for anunciada em 15 de novembro de 2022.
Via Carlos Ferreira (Aeroin)
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