Ex-piloto de táxi aéreo, o leitor Alfredo Müssnich participou do que ficou conhecido como Revoada da Confraternização ou Revoada da Invasão da Amizade;
Alfredo Müssnich foi piloto de taxi aéreo e participou da revoada de 1952 (Foto: Acervo de Luiz Felipe Schmitt Müssnich / Arquivo Pessoal) |
De Luiz Felipe Schmitt Müssnich, 48 anos, recebemos uma sugestão bacana. Disse ele em sua mensagem: "Em abril, completaram-se 70 anos de uma fantástica revoada, que levou cerca de 500 aviões do Brasil para a Argentina. O assunto é um tanto esquecido, embora tenha sido tratado no livro Asas do Passado, de 2000.
Meu pai, Alfredo Müssnich, ex-piloto de táxi aéreo, atualmente com 91 anos, participou dessa revoada, saindo do aeroclube de Estrela. Inclusive, meu pai foi um dos pilotos recebido pela Evita Perón. O pai está velhinho, mas, ainda assim, lê a ZH todos os dias e adora a coluna. Pediu para que te escrevesse; para que tu resgatasse essa história... Ele ainda voa. Eventualmente vai comigo ao Aeroclube de Belém, onde sai para voar com a gurizada".
Em abril de 1952, aconteceu a Revoada da Confraternização ou Revoada da Invasão da Amizade. Cerca de mil pessoas, entre aviadores, mecânicos de voo e convidados, participaram daquela que foi a maior prova aérea da América do Sul. Inspirado nos “raids” promovidos pelos Diários Associados, com a participação da Federação dos Aeroclubes do RS, então presidida pelo deputado estadual Leonel Brizola, o evento Alas Americanas Sin Fronteras reuniu oficialmente 430 aviões — mas, provavelmente, foram quase 500.
Alfredo Müssnich (sem máscara), aos 91 anos voando ao lado de Raphael Magri (Acervo de Luiz Felipe Schmitt Müssnich / Arquivo Pessoal) |
Brizola observou que os “raids”, idealizados por Assis Chateaubriand, despertavam grande interesse popular e repercutiam na imprensa. Espelhando-se numa revoada para o Uruguai, ocorrida em 1949, planejou a de 1952 para Buenos Aires, com o intuito de promover a Varig naquele país.
A aérea gaúcha tentava, há mais de um ano, a autorização para fazer linha para a capital argentina. O presidente Getúlio Vargas também tinha interesse político na revoada e ajudou a União Brasileira de Aviadores Civis (Ubac) a receber a assistência necessária. A federação gaúcha planejou a ação, atendendo ao convite do Aero Clube Argentino.
A partida foi de Uruguaiana, nos dias 11 e 12, onde se realizou a Sexta Convenção Anual da Ubac. Os aviões foram divididos em esquadrilhas. Decolaram, entre outras, 62 aeronaves PA 18 (Piper Club), 23 PT-19 (Fairchild), 63 CAP 4 (Paulistinha), 14 Cessna 140, 14 Aeronca, 21 Bonanza, 15 Stinson, 15 Cessna 170, 4 Cessna 195, 3 Beechcraft/Bimotor, 2 DC-3 etc.
No dia 7, partiu de Porto Alegre a Primeira Esquadrilha da Varig Aero Esporte (VAE). Um avião Curtis Commando, pilotado pelo aeronauta Portofé, transportou convidados e imprensa, entre eles o embaixador da Argentina no Brasil e o presidente da Varig, Rubem Berta.
Leonel Brizola, então piloto civil e grande entusiasta pela aviação, além de dirigir o evento, conduziu, acompanhado por dona Neusa, um Cessna 140 de dois lugares cedido por seu cunhado João Goulart.
Alfredo Müssnich com Eva Perón, em Buenos Aires (Foto: Acervo de Luiz Felipe Schmitt Müssnich / Arquivo Pessoal) |
Nelson Souza Vieira, com o Beechcraft Bonanza PP-AKA, foi o primeiro a chegar no aeroporto de San Justo (junto a Ezeiza ainda não inaugurado), recebendo uma medalha.
No dia 14 de abril, os brasileiros e o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Batista Luzardo, foram recebidos pelo presidente Juan Domingo Perón, na Casa Rosada. A primeira dama Eva Perón, que viria a falecer, aos 33 anos, em junho desse mesmo ano, também recebeu os aviadores brasileiros na residência oficial de Olivos.
Um ano e dois meses depois da revoada, a linha aérea para Buenos Aires foi, finalmente, concedida.
Fonte: Livro “Asas do Passado”, de Luiz Felipe B. de Barros via GZH
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