sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Prejuízo geral

Editorial de "O Globo"

Lerdo para executar qualquer projeto de investimento de alguma relevância, o governo Lula se torna ainda mais ineficiente quando a questão é abrir espaço para a iniciativa privada. Quase todo o primeiro mandato foi gasto para a montagem de um leilão de concessão de trechos de estradas federais. Os aeroportos, infelizmente, vão pelo mesmo caminho, e sempre devido a resistências ideológicas do comissariado no poder, que considera essencial o Estado ter presença na infraestrutura - mesmo que não haja recursos para tal. O resultado é a absoluta falta de obras essenciais.

Há dias, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a redução de voos afretados para Guarulhos, com o objetivo de reduzir o congestionamento no terminal. Má notícia. Significa que a retomada do crescimento da economia, e o consequente aumento do tráfego aéreo, faz crescer o risco de repetirem-se cenas do caos do final de 2006 e durante 2007, quando terminais se converteram em albergues lotados de passeiros impedidos de viajar devido a precariedades na estrutura de controle de voo e nos próprios aeroportos - por falta de investimentos públicos. Naquela ocasião, empossado Nelson Jobim no Ministério da Defesa, ao qual se subordina a Anac, e aberto espaço político no governo para o desaparelhamento da agência, a privatização de aeroportos entrou no discurso oficial. E ficou só nele. Diante da precariedade do terminal 1 do Galeão e da necessidade de se concluir o 2, o governador Sérgio Cabral, de bom trânsito com o presidente Lula, lhe pediu a cessão do aeroporto, a fim de o governo estadual colocá-lo em licitação. Sem sucesso.

Foi encomendada a modelagem das concessões ao BNDES. Pouca notícia se tem do estudo, cuja entrega é sempre adiada. É indiscutível que os grupos políticos com interesses na Infraero, a incompetente empresa estatal administradora dos aeroportos, têm atuado com eficiência, para manter tudo como está. A mais recente notícia é que haverá concessões, mas só para novos aeroportos. Propõe-se, ainda, que a Infraero seja dispensada de licitações, para acelerar investimentos, alega-se. Se a estatal é presença frequente em auditorias do TCU que flagram desvios de dinheiro público em toda sorte de contratos, caso a mudança seja feita ela deverá se tornar campeã de desmandos, sem rival.

Em função de cacoetes ideológicos, a infraestrutura aeroportuária é forte candidata a ser um grande gargalo na Copa de 2014 e nos Jogos de 2016. O prejuízo será de todos, com a perda de credenciais do país para continuar a atrair eventos desse porte.

Fonte: O Globo

Um comentário:

Pedro Filho disse...

E tem gente querendo um terceiro mandato. O povo não aprende mesmo né ???