No dia 8 de novembro de 1881, o paraense Júlio Cezar Ribeiro de Souza conseguiu transformar um sonho em realidade e levou consigo a solitária estrela da bandeira do Pará para voar nos céus de Paris. Na época, realizou um feito histórico e entrou para a galeria de inventores que, a exemplo de Leonardo da Vinci, preconizaram a possibilidade de o homem voar. Apesar da importância do feito, poucos conterrâneos sabem da história desse paraense de Acará. Se no Pará não conhecem, imagine no restante do Brasil? O nome de Júlio Cezar quase não é citado na literatura, muito menos nos livros de história. Mesmo no Google, as citações são muito pobres.
Pois agora, exatos 128 anos depois, o Estado do Pará quer fazer justiça à memória deste paraense ilustre e dar publicidade a isso, fazendo com que, pelo menos três milhões de pessoas que entram e saem do Estado no por ano, tendo como opção o Aeroporto Internacional Val-de-Cans, saibam quem foi e o que fez o curioso escritor, poeta e jornalista que acabou virando inventor.
Finalmente o projeto de lei que propõe alterar a denominação do atual aeroporto para “Aeroporto Internacional de Belém/Val-de-Cans/Júlio Cezar Ribeiro”, em homenagem ao grande inventor, chegou às mãos de um paraense, o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB).
O advogado recebeu a relatoria do projeto no dia 14 deste mês e, segundo informou ao bisneto do aviador Júlio Cezar, Eurico Bentes Costa, vai aprovar a proposta.
“Estou torcendo para que isso aconteça dentro do mês de novembro, que vai coincidir com o aniversário de 128 anos do grande feito do meu bisavô”, comemorou Eurico, que, aos 75 anos, luta para ver reconhecido o feito de seu bisavô, para ele um injustiçado pela história.
“Fiz questão de ir a Brasília conversar com o deputado Zenaldo e ele me garantiu que a homenagem vai ser feita”, informou, exibindo sempre a foto do aviador e de seu balão “Le Victoria”, quando levantou voo em Paris. E Eurico Costa não está sozinho. Se depender de paraenses orgulhosos, o projeto será rapidamente aprovado.
“Vou trabalhar pela aprovação do projeto na próxima semana”, ressaltou o deputado Beto Faro (PT), lembrando que a ideia partiu da governadora Ana Júlia Carepa, quando ainda era senadora. Ela apresentou o projeto de lei inicial em 2005. “Precisamos acelerar o processo. É uma justa homenagem”.
O projeto ficou quatro anos tramitando dentro do Congresso. Só no Senado ficou dois anos. Chegou à Câmara em março de 2007, na Comissão de Viação e Transportes, onde ficou mais de seis meses para ser aprovado. O relator não era paraense.
Quando chegou à Comissão de Educação e Cultura, caiu nas mãos da deputada Elcione Barbalho (PMDB). Coube a ela dar celeridade ao processo. Em seu relatório, Elcione considerou justa a homenagem e deu parecer favorável à aprovação. A deputada paraense conseguiu, em pouco mais de dois meses, colocar o projeto em votação no plenário da Comissão. Quando foi votado, foi aprovado por unanimidade. Estava vencida rapidamente mais uma etapa.
DESCONHECIMENTO
Foi então, já na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), ainda em 2007, que o projeto caiu nas mãos de relatores de outros Estados, que desconheciam a história do ilustre aviador paraense. E por lá ficou parado nos últimos dois anos, até cair nas mãos de Zenaldo Coutinho, no último dia 14.
“Foi assim que nos reacendeu a esperança”, comemorou o bisneto Eurico Costa. A presidente da OAB-PA, Ângela Sales, também comemora a chegada do momento de homenagear Júlio Cezar. “A história de um país, de uma nação e de um povo se faz pelo registro dos grandes vultos”. É o que pensa a deputada Elcione Barbalho. “Me inspirei exatamente no desejo da juventude de criar, de buscar alternativas sustentáveis, de ousar. Acredito na capacidade do jovem paraense, que precisa de bons exemplos, como o de Júlio Cezar”, observou.
O verdadeiro pai do dirigível, em Belém
Foi a paixão pela invenção e pelo Pará que fizeram de Júlio Cezar o verdadeiro pioneiro da aviação no mundo. Nascido em 1847, em Acará, o então professor serviu a escola Militar do Rio de Janeiro em 1862, de onde partiu para se integrar às forças militares brasileiras na Guerra do Paraguai. Durante a guerra, em 1867, Júlio Cezar teve a oportunidade de se familiarizar com os balões militares. Nascia no jovem de 20 anos a paixão e o desejo de inventar e de voar.
Curioso, ele passou a estudar e a desenvolver teses sobre o tema, o que o levou a publicar um trabalho sobre dirigibilidade aérea em 1880. Quem conta a trajetória do paraense aviador é o físico Luís Bassalo Crispino, professor doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA), que em 2003 lançou um livro sobre a vida do inventor.
Ele conta que aos 33 anos, o inquieto inventor lutou para provar suas teorias sobre a dirigibilidade. Sua vida passou a ser o experimento com voos em pequenos balões. Queria voar em um balão maior em sua terra natal, tentou inflar, porém o gasômetro da cidade não produziu gás suficiente para o experimento.
Mas como nem mesmo o céu era o limite, partiu para a Europa, onde outros inventores sonhavam alcançar a altura da Torre Eiffel. Já havia na época, em Paris, a respeitável e seleta Sociedade Francesa de Navegação Aérea.
Júlio Cezar alcançou seu grande feito em 8 de novembro de 1881, quando levantou o balão “Le Victoria” de dez metros de comprimento e dois de diâmetro. Após a experiência, o inventor foi aclamado pela imprensa parisiense e se tornou membro da Sociedade Francesa de Navegação Aérea.
De volta à Belém, o inquieto aviador continuava sua busca por recursos para financiar suas experiências. No Natal de 1881, Júlio Cezar repetiu os experimentos com o balão “Le Victoria”. A imprensa de Belém ficou entusiasmada. Em 29 de março de 1882, o paraense foi mais uma vez ao Rio de Janeiro, onde apresentou o “Le Victoria” para um grande público na Escola Militar. Um dos espectadores era o imperador Dom Pedro II, que era fascinado por ciências e tecnologia e poderia ser o motor definitivo para o inventor cruzar o céu brasileiro.
Após a conclusão da construção de um grande dirigível, que se chamava Santa Maria de Belém, Júlio Cezar o trouxe para a capital paraense. Em 1884, tentou realizar o experimento na terra natal, no bairro da Cidade Velha, mas fracassou: ele não conseguiu encher o balão com os três milhões de litros de hidrogênio necessários para levantar o vôo.
Além do fracasso, ainda viu sua obra ser plagiada pelos irmãos franceses Charles Renard e Arthur Krebs. O vôo do “La France” foi realizado em 9 de agosto de 1884. Os dois foram apoiados por militares franceses que negligenciaram a patente reconhecida três anos antes, na própria França, em favor de Júlio Cezar.
Indignado, o inventor paraense escreveu o artigo “A Direção dos Balões” divulgado pela imprensa paraense e encaminhado ao Instituto Politécnico Brasileiro. Foi assim que Júlio começou mais um vôo, dessa vez, em busca do reconhecimento perdido. Só que ele morreu em 1887, sem conseguir essa façanha, e ficou esquecido na História do Pará.
Parlamentares se unem pela aprovação de projeto
Os deputados federais que integram a bancada do Pará pretendem se unir em prol da aprovação do PL 410/2005. O deputado Asdrubal Bentes (PMDB) reforça a necessidade de fazer-se um ato de justiça ao segundo grande aviador brasileiro (o primeiro foi Bartolomeu de Gusmão, em 1718). Ele está acompanhando a tramitação do projeto na CCJ. “Todos nós sentiremos orgulho ao ver o nome do Júlio Cezar na entrada do aeroporto Val de Cans”.
Lira Maia (DEM) disse que, se depender do seu voto, o projeto será aprovado. “Sou daqueles que tenho orgulho de ser paraense e considero justa a homenagem”, disse.
“É legítimo e correto prestar a homenagem a essa personalidade que se destacou mundialmente”, destaca Giovanni Queiroz (PDT), lembrando que a história de Júlio Cezar deve ser mostrada a todo paraense.
“Está na hora de ser reconhecido o valor de quem ousou voar além dos horizontes da Amazônia”, festejou Bel Mesquita (PMDB). A deputada sugere que a biografia de vultos históricos como Júlio Cezar seja resgatada e faça parte da vida dos paraenses.
O historiador Geraldo Coelho comemora a possibilidade de ter dois tempos históricos do Pará em um único projeto. Ele explica que, com a manutenção do nome “Val-de-Cans”, preserva-se também a história da época da imigração portuguesa, nos séculos XII e XIII, quando a região onde está localizado o aeroporto era conhecida como “vale de cães” ou “val de cans”.
“Não perderemos a identidade histórica da área e ao mesmo tempo, projetamos outro momento importante da história do Pará.
O premiado dramaturgo paraense Carlos Correa considera justa, embora tardia, a homenagem. “Ele vivenciou uma saga para criar o primeiro dirigível do mundo. Demorou muito para que as pessoas percebessem a importância do feito de Júlio Cezar”, ressaltou.
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará – Crea/PA também rendeu homenagens ao paraense ilustre. Em 2005, o nome de Júlio Cezar foi registrado no Livro do Mérito do Conselho. O Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer), instituição que tem por finalidade principal preservar e divulgar as contribuições brasileiras para a aeronáutica, fundado em 1986, criou dez anos depois a Cadeira 17, cujo patrono é Júlio Cezar Ribeiro de Souza.
LACUNAS, TREVAS E O SOL
Além da delicada questão internacional do plágio, é possível que a falta do merecido reconhecimento das contribuições de Júlio Cezar se devesse em determinado período à escassez de documentos capazes de comprovar suas realizações. “Felizmente, nos últimos anos, estes documentos têm sido localizados no Brasil e no exterior. O que já está reunido leva ao reconhecimento de Júlio Cezar como o inventor do dirigível”, afirma o físico Luís Bassalo Crispino .
Porém, quem deixou sua marca de crença no julgamento favorável da posteridade foi o próprio Júlio Cezar. Em um texto assinado em 1887, profetizou: “Bem sei que a noite tem a propriedade de confundir as sombras com as realidades, seja ela a noite que resulta da ocultação do sol ou a que provém da ocultação da verdade, mas sei que a verdade, como o sol, acaba sempre, no momento providencial, por distinguir as realidades das sombras”.
Pois agora, exatos 128 anos depois, o Estado do Pará quer fazer justiça à memória deste paraense ilustre e dar publicidade a isso, fazendo com que, pelo menos três milhões de pessoas que entram e saem do Estado no por ano, tendo como opção o Aeroporto Internacional Val-de-Cans, saibam quem foi e o que fez o curioso escritor, poeta e jornalista que acabou virando inventor.
Finalmente o projeto de lei que propõe alterar a denominação do atual aeroporto para “Aeroporto Internacional de Belém/Val-de-Cans/Júlio Cezar Ribeiro”, em homenagem ao grande inventor, chegou às mãos de um paraense, o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB).
O advogado recebeu a relatoria do projeto no dia 14 deste mês e, segundo informou ao bisneto do aviador Júlio Cezar, Eurico Bentes Costa, vai aprovar a proposta.
“Estou torcendo para que isso aconteça dentro do mês de novembro, que vai coincidir com o aniversário de 128 anos do grande feito do meu bisavô”, comemorou Eurico, que, aos 75 anos, luta para ver reconhecido o feito de seu bisavô, para ele um injustiçado pela história.
“Fiz questão de ir a Brasília conversar com o deputado Zenaldo e ele me garantiu que a homenagem vai ser feita”, informou, exibindo sempre a foto do aviador e de seu balão “Le Victoria”, quando levantou voo em Paris. E Eurico Costa não está sozinho. Se depender de paraenses orgulhosos, o projeto será rapidamente aprovado.
“Vou trabalhar pela aprovação do projeto na próxima semana”, ressaltou o deputado Beto Faro (PT), lembrando que a ideia partiu da governadora Ana Júlia Carepa, quando ainda era senadora. Ela apresentou o projeto de lei inicial em 2005. “Precisamos acelerar o processo. É uma justa homenagem”.
O projeto ficou quatro anos tramitando dentro do Congresso. Só no Senado ficou dois anos. Chegou à Câmara em março de 2007, na Comissão de Viação e Transportes, onde ficou mais de seis meses para ser aprovado. O relator não era paraense.
Quando chegou à Comissão de Educação e Cultura, caiu nas mãos da deputada Elcione Barbalho (PMDB). Coube a ela dar celeridade ao processo. Em seu relatório, Elcione considerou justa a homenagem e deu parecer favorável à aprovação. A deputada paraense conseguiu, em pouco mais de dois meses, colocar o projeto em votação no plenário da Comissão. Quando foi votado, foi aprovado por unanimidade. Estava vencida rapidamente mais uma etapa.
DESCONHECIMENTO
Foi então, já na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), ainda em 2007, que o projeto caiu nas mãos de relatores de outros Estados, que desconheciam a história do ilustre aviador paraense. E por lá ficou parado nos últimos dois anos, até cair nas mãos de Zenaldo Coutinho, no último dia 14.
“Foi assim que nos reacendeu a esperança”, comemorou o bisneto Eurico Costa. A presidente da OAB-PA, Ângela Sales, também comemora a chegada do momento de homenagear Júlio Cezar. “A história de um país, de uma nação e de um povo se faz pelo registro dos grandes vultos”. É o que pensa a deputada Elcione Barbalho. “Me inspirei exatamente no desejo da juventude de criar, de buscar alternativas sustentáveis, de ousar. Acredito na capacidade do jovem paraense, que precisa de bons exemplos, como o de Júlio Cezar”, observou.
O verdadeiro pai do dirigível, em Belém
Foi a paixão pela invenção e pelo Pará que fizeram de Júlio Cezar o verdadeiro pioneiro da aviação no mundo. Nascido em 1847, em Acará, o então professor serviu a escola Militar do Rio de Janeiro em 1862, de onde partiu para se integrar às forças militares brasileiras na Guerra do Paraguai. Durante a guerra, em 1867, Júlio Cezar teve a oportunidade de se familiarizar com os balões militares. Nascia no jovem de 20 anos a paixão e o desejo de inventar e de voar.
Curioso, ele passou a estudar e a desenvolver teses sobre o tema, o que o levou a publicar um trabalho sobre dirigibilidade aérea em 1880. Quem conta a trajetória do paraense aviador é o físico Luís Bassalo Crispino, professor doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA), que em 2003 lançou um livro sobre a vida do inventor.
Ele conta que aos 33 anos, o inquieto inventor lutou para provar suas teorias sobre a dirigibilidade. Sua vida passou a ser o experimento com voos em pequenos balões. Queria voar em um balão maior em sua terra natal, tentou inflar, porém o gasômetro da cidade não produziu gás suficiente para o experimento.
Mas como nem mesmo o céu era o limite, partiu para a Europa, onde outros inventores sonhavam alcançar a altura da Torre Eiffel. Já havia na época, em Paris, a respeitável e seleta Sociedade Francesa de Navegação Aérea.
Júlio Cezar alcançou seu grande feito em 8 de novembro de 1881, quando levantou o balão “Le Victoria” de dez metros de comprimento e dois de diâmetro. Após a experiência, o inventor foi aclamado pela imprensa parisiense e se tornou membro da Sociedade Francesa de Navegação Aérea.
De volta à Belém, o inquieto aviador continuava sua busca por recursos para financiar suas experiências. No Natal de 1881, Júlio Cezar repetiu os experimentos com o balão “Le Victoria”. A imprensa de Belém ficou entusiasmada. Em 29 de março de 1882, o paraense foi mais uma vez ao Rio de Janeiro, onde apresentou o “Le Victoria” para um grande público na Escola Militar. Um dos espectadores era o imperador Dom Pedro II, que era fascinado por ciências e tecnologia e poderia ser o motor definitivo para o inventor cruzar o céu brasileiro.
Após a conclusão da construção de um grande dirigível, que se chamava Santa Maria de Belém, Júlio Cezar o trouxe para a capital paraense. Em 1884, tentou realizar o experimento na terra natal, no bairro da Cidade Velha, mas fracassou: ele não conseguiu encher o balão com os três milhões de litros de hidrogênio necessários para levantar o vôo.
Além do fracasso, ainda viu sua obra ser plagiada pelos irmãos franceses Charles Renard e Arthur Krebs. O vôo do “La France” foi realizado em 9 de agosto de 1884. Os dois foram apoiados por militares franceses que negligenciaram a patente reconhecida três anos antes, na própria França, em favor de Júlio Cezar.
Indignado, o inventor paraense escreveu o artigo “A Direção dos Balões” divulgado pela imprensa paraense e encaminhado ao Instituto Politécnico Brasileiro. Foi assim que Júlio começou mais um vôo, dessa vez, em busca do reconhecimento perdido. Só que ele morreu em 1887, sem conseguir essa façanha, e ficou esquecido na História do Pará.
Parlamentares se unem pela aprovação de projeto
Os deputados federais que integram a bancada do Pará pretendem se unir em prol da aprovação do PL 410/2005. O deputado Asdrubal Bentes (PMDB) reforça a necessidade de fazer-se um ato de justiça ao segundo grande aviador brasileiro (o primeiro foi Bartolomeu de Gusmão, em 1718). Ele está acompanhando a tramitação do projeto na CCJ. “Todos nós sentiremos orgulho ao ver o nome do Júlio Cezar na entrada do aeroporto Val de Cans”.
Lira Maia (DEM) disse que, se depender do seu voto, o projeto será aprovado. “Sou daqueles que tenho orgulho de ser paraense e considero justa a homenagem”, disse.
“É legítimo e correto prestar a homenagem a essa personalidade que se destacou mundialmente”, destaca Giovanni Queiroz (PDT), lembrando que a história de Júlio Cezar deve ser mostrada a todo paraense.
“Está na hora de ser reconhecido o valor de quem ousou voar além dos horizontes da Amazônia”, festejou Bel Mesquita (PMDB). A deputada sugere que a biografia de vultos históricos como Júlio Cezar seja resgatada e faça parte da vida dos paraenses.
O historiador Geraldo Coelho comemora a possibilidade de ter dois tempos históricos do Pará em um único projeto. Ele explica que, com a manutenção do nome “Val-de-Cans”, preserva-se também a história da época da imigração portuguesa, nos séculos XII e XIII, quando a região onde está localizado o aeroporto era conhecida como “vale de cães” ou “val de cans”.
“Não perderemos a identidade histórica da área e ao mesmo tempo, projetamos outro momento importante da história do Pará.
O premiado dramaturgo paraense Carlos Correa considera justa, embora tardia, a homenagem. “Ele vivenciou uma saga para criar o primeiro dirigível do mundo. Demorou muito para que as pessoas percebessem a importância do feito de Júlio Cezar”, ressaltou.
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará – Crea/PA também rendeu homenagens ao paraense ilustre. Em 2005, o nome de Júlio Cezar foi registrado no Livro do Mérito do Conselho. O Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer), instituição que tem por finalidade principal preservar e divulgar as contribuições brasileiras para a aeronáutica, fundado em 1986, criou dez anos depois a Cadeira 17, cujo patrono é Júlio Cezar Ribeiro de Souza.
LACUNAS, TREVAS E O SOL
Além da delicada questão internacional do plágio, é possível que a falta do merecido reconhecimento das contribuições de Júlio Cezar se devesse em determinado período à escassez de documentos capazes de comprovar suas realizações. “Felizmente, nos últimos anos, estes documentos têm sido localizados no Brasil e no exterior. O que já está reunido leva ao reconhecimento de Júlio Cezar como o inventor do dirigível”, afirma o físico Luís Bassalo Crispino .
Porém, quem deixou sua marca de crença no julgamento favorável da posteridade foi o próprio Júlio Cezar. Em um texto assinado em 1887, profetizou: “Bem sei que a noite tem a propriedade de confundir as sombras com as realidades, seja ela a noite que resulta da ocultação do sol ou a que provém da ocultação da verdade, mas sei que a verdade, como o sol, acaba sempre, no momento providencial, por distinguir as realidades das sombras”.
Fonte: Diário do Pará - Foto: Álbum de família
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