Da esquerda para a direita, Zé Luca entre outros familiaes das vítimas de Trancoso, Hélio e
Márcia Noleto, Garna Kfuri, Iolanda e Maximiliano, filhos da babá Norma Assunção
Morreu, nesta madrugada, no Rio de Janeiro, o empresário carioca Zé Luca Magalhães Lins, uma das figuras mais queridas da cidade, dono da rede de academia Pró-Forma e do clube de futebol Boavista. Com um sorriso franco, tiradas inteligentes e um charme arrebatador, Zé Luca, que nasceu em duas das famílias mais tradicionais do Rio, os Nabuco e os Magalhães Lins, sempre foi um dos grandes galãs da alta sociedade, namorando estrelas do naipe de Daniella Cicarelli e Leticia Birkheuer — com a façanha de ter ficado amigo de todas. Em 2010, enfrentara com dignidade o tratamento dos efeitos de um tumor no cérebro, durante o qual sobressaíram suas melhores qualidades: filho devotado, pai dedicado, um amor desmedido pela vida.
No filho, Luquinha, fruto de sua relação com a ex-modelo Jordana Kfuri, encontrou a força para vencer o câncer. Mas uma outra tragédia se abateria sobre Zé Luca: em junho do ano passado, um terrível acidente de helicóptero matou a criança, de 3 anos, e outros seis passageiros. A aeronave ia do aeroporto de Porto Seguro para o resort Jacumã, em Trancoso, na Bahia. As vítimas fatais foram, além de Luquinha, Mariana Noleto, namorada do filho do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, as irmãs Jordana e Fernanda Kfuri, o filho de Fernanda, Gabriel Gouveia, de 2, a babá de Luca, Norma Assunção, e o piloto, o empresário Marcelo Mattoso de Almeida, que estava com a habilitação vencida havia seis anos e usara o registro de outro piloto para voar.
O episódio teve repercussão política pela presença do governador do Rio. O grupo viajava a Trancoso para a festa de aniversário do empresário Fernando Cavendish, marido de Jordana Kfuri, que
tinha contratos com o Estado do Rio por meio de sua construtora, a Delta. Ao descobrir que Marcelo estava com a habilitação vencida, Zé Luca tentou sublimar a dor pela perda do filho em prol de uma batalha maior, pela moralização do espaço aéreo brasileiro, com mais rigor na fiscalização dos voos.
“Eu tive um tumor de dois centímetros no cérebro há um ano e meio e foi pelo meu filho que eu lutei para viver. Ele me ensinou o que era o amor de verdade, me ajudou no processo de cura. Foram duas pancadas seguidas, mas a primeira não chega aos pés da outra. Eu quero a Justiça quanto às regras. Vivo um dia de cada vez, e a fé tem me ajudado muito. Mas a dor é infinita, não para, é a cada segundo”, disse-me ele em entrevista a ÉPOCA no final do ano passado. “Vou fundar uma instituição com o nome do meu filho que ajude crianças carentes através do esporte”.
“O que aconteceu não foi uma fatalidade”, disse Bruno Gouveia, vocalista do grupo Biquíni Cavadão, pai de Gabriel, primo de Luquinha. “Ficou claro desde o começo, tamanha a quantidade de negligências: voo sem autorização, brevê vencido, imprudência de voo devido às condições climáticas; inocentes colocados em risco, autoridades até hoje sem dar nenhuma satisfação aos familiares”.
Zé Luca não conseguiu fundar sua entidade, pois, no início deste ano, descobriu que o câncer voltara, após o trauma. Lutou, dia após dia, para vencer mais essa batalha, e, sempre que podia, me lembrava que precisava viver para ver a justiça ser feita. Os amigos que testemunharam sua dor estão desolados. Mais que um gentleman, coisa rara nos dias de hoje, foi-se um homem transformado pela tragédia em guerreiro e cuja luta não pode ser esquecida.
MAIS SOBRE O ACIDENTE
Aeronave: Eurocopter AS 350B2 Ecureuil
Operador: First Class Group
Prefixo: PR-OMO
Homem observa destroços retirados do mar, do helicóptero que caiu em Caraíva, na Bahia
Foto: Jô Souza/Folhapress
Fonte: R7