quarta-feira, 6 de setembro de 2023

História: Um cearense desvenda a teoria que fez Santos Dumond voar

O coronel aviador Francisco Bedê lançou luz sobre uma intrigante relação matemática intuída por Santos Dumont.


Acompanhem a história a seguir, contada pelo engenheiro Joaquim Caracas, que revolucionou os processos de composição e aplicação do concreto protendido, cuja tecnologia é hoje aplicada na Europa e nos EUA. Caracas com a palavra:

“O trabalho pioneiro do cearense coronel-aviador Francisco Bedê, iniciado em 1961 e continuamente aprimorado até os dias atuais, lançou luz sobre a intrigante relação matemática intuída por Santos Dumont, isto é, do quociente entre o PMD - peso máximo de decolagem das aeronaves, em “kg”; e a respectiva motorização, POT em “hp”, tendo como resultado um valor igual e/ou menor do que 7 para um avião tentar decolar; e/ou então, igual ou menor que 6, para que um avião decole com segurança.

“Tal assertiva foi-lhe repassada por Marcos Siciliano Villares Filho, (sobrinho-bisneto de Santos Dumont, e, também, presidente do Instituto Cultural Santos Dumont-SP). Segundo Marcos Siciliano, era assim que Santos Dumont confidenciava sua formulação matemática aos seus mais chegados colegas e pilotos franceses, com destaque para Tissandier, Voisin, Farman e Bleriot.

“Essa informação chamou a atenção do coronel Bedê, que resolveu mergulhar numa análise paciente e minuciosa que englobou as especificações técnicas de cerca de 2.200 aeronaves. No decorrer dessa pesquisa cansativa, um ponto de confirmação ocorreu por volta da análise de número de 1.200 aeronaves pesquisadas, quando um padrão começou a manifestar-se de maneira inconfundível, ou seja: (1) igual ou menor que 7 para tentativa de decolar; (2) porquanto o número ideal a ser considerado deveria ser 6 para uma decolagem segura.

“A partir desse ponto, a formulação matemática da teoria começou a ganhar forma, revelando uma notável constatação, ou seja: a relação direta entre o peso do conjunto (PMD = aeronave + piloto, quantificado em kg), e a potência do motor instalado, (POT = em hp).

“Curiosamente, essa formulação não apenas encontrou respaldo em pesquisas científicas, mas, também, contou com o apoio de Marcos Siciliano Villares Filho, sobrinho-bisneto de Santos Dumont.

“Ainda que não houvesse comprovação científica na época, (1906-1907), os conhecimentos transmitidos no perpassar do tempo pela família Dumont encontraram eco nas palavras do porta-voz Marcos Siciliano, porquanto o ‘Pai da Aviação’ aconselhava aos aviadores de seu tempo para considerarem tal fórmula, isto é, “a de que um avião decola com segurança quando o resultado da divisão entre a massa em kg e a potência em hp, é igual ou menor do que 6” – (coeficiente “angular” de sustentação).

“O estudo científico meticuloso do coronel Bedê validou essa intuição. Esse alinhamento entre as intuições transmitidas pelos membros da família de Santos Dumont, as palavras de Marcos Siciliano e a pesquisa rigorosa do coronel Bedê sugerem uma convergência notável entre tradição e ciência. O próprio Santos Dumont, amplamente aclamado mundialmente como o ‘Pai da Aviação, também pode ser considerado um visionário precursor da Aerodinâmica.

“Por isso, o Coronel Bedê defende a tese de que deve ser conferida mais uma honraria a Santos Dumont, ou seja: pai da aerodinâmica a praticar voos autônomos no espaço atmosférico. Ao associar essa relação entre peso e potência em suas contas e projetos aeronáuticos, Santos Dumont demonstrou uma compreensão antecipada dos princípios aerodinâmicos que nasciam em seu tempo e que se tornariam fundamentais para o sucesso do voo. Para o coronel Bedê, a Aerodinâmica no espaço atmosférico nasceu com Dumont.


“Um exemplo emblemático que ilustra esta teoria pode ser observado no icônico 14Bis (1906), a primeira aeronave criada por Santos Dumont e que alcançou com sucesso o voo autônomo. Esse avião decolava com um peso total de 340 kg, incluindo os 50 kg correspondentes ao próprio Santos Dumont, e era equipado com um motor de 49,31 hp. Isso estava em conformidade com a fórmula confidencial compartilhada por Dumont com seus colegas franceses: PMD ÷ POT≤ 7 e/ou 6. Em outras palavras, ao calcularmos PMD ÷ POT, ou seja 340 (kg) ÷49,31 (hp) = 6,89, representando o coeficiente “angular” de sustentação.

“No entanto, nem todos os projetos seguiram esse caminho de sucesso. Por exemplo, o modelo 15 não obteve êxito porque o resultado de PMD ÷ POT era igual a 7,61 excedendo o limite 7 - como resultado, a aeronave não conseguiu decolar.

“Já com relação ao Demoiselle, suas especificações técnicas de peso e potência atenderam plenamente ao quociente esperado, ou seja: (PMD kg) 156 ÷ (POT hp) 29,59 = 5,27 (coeficiente “angular” de sustentação)

Após essas observações, houve uma revisão na potência do motor, aumentando para 29,59 hp, o que resultou em um coeficiente de 5,27 (156 kg ÷ 29,59 hp). Essa alteração foi crucial, tornando o Demoiselle o avião mais bem-sucedido desenvolvido por Alberto Santos Dumont, que, se não fosse o conhecimento empírico, não teria voado.

“Complementando estas reflexões, uma exploração minuciosa de todos os detalhes deste trabalho encontra-se disponível no site oficial. Lá, a profundidade das descobertas e a análise minuciosa conduzida por coronel Bedê podem ser investigadas em maior profundidade. Este recurso oferece uma janela inestimável para a exploração de um dos aspectos mais cativantes da história da aviação e da aerodinâmica, destacando a contribuição inestimável do Coronel Bedê e a perpetuidade do legado de Santos Dumont.”

Consequentemente, a figura icônica de Santos Dumont adquire uma nova dimensão: a de um pioneiro que não apenas desbravou os céus, mas também contribuiu substancialmente para moldar os fundamentos da aerodinâmica. Seu legado, agora enriquecido pelas revelações do Coronel Bedê, ecoa como um testemunho duradouro de sua genialidade e influência perene na história da aviação e da ciência.

Neste contexto, a afirmação popular encontra nova ressonância: mais uma vez, a ciência floresce através do trabalho de um cérebro cearense, fortalecendo a relevância da pesquisa do Coronel Bedê no cenário da aviação e da aerodinâmica.

Via Egídio Serpa (Diário do Nordeste) - Foto: Domínio Público

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