sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Especialistas detalham últimos minutos do voo AF447 no 3º dia de julgamento do acidente

Imagem do momento da descoberta das caixas-pretas do voo AF447, em maio de 2011, mostrada no documentário "A Caça ao Voo Rio-Paris", do diretor francês Simon Kessler (Imagem: Fabrice Gardel / Simon Kessler)
No terceiro dia do julgamento por homicídios involuntários da Airbus e da Air France, acusadas pela queda do voo AF447, entre Rio-Paris, nesta quarta-feira (12), quatro especialistas nomeados pela Justiça descreveram os quatro minutos e meio que antecederam a tragédia, ocorrida em 1º de junho de 2009.

Os engenheiros designados pela Justiça francesa foram encarregados de analisar o FDR (Flight Data Recorder), que traz os parâmetros do voo, e o CVR (Cockpit Voice Recorder), com a gravação do diálogo dos pilotos.

As duas caixas-pretas do A330 foram descobertas quase dois anos após o acidente, em 2011, a 3.900 metros de profundidade no oceano Atlântico.

Após um pedido das famílias das vítimas, que solicitaram a divulgação da conversa da tripulação antes da queda, a Justiça decidiu que o conteúdo sonoro do CVR será revelado na próxima segunda-feira (17). No entanto, essas gravações serão apresentadas apenas aos envolvidos no processo, sem a presença da imprensa ou do público.

O conteúdo escrito do CVR já foi divulgado quase integralmente em 2011 pelo piloto Jean-Pierre Otelli. Ele é o autor do quinto livro da série "Erros de Pilotagem: a queda do voo AF447", publicado em francês. O lançamento da obra, que traz detalhes sobre os últimos instantes do voo, provocou polêmica na época, já que as famílias nunca tiveram acesso à gravação.

Na audiência desta quarta-feira, os especialistas descreveram, com a ajuda de um mapa e gráficos, o que ocorreu após o avião entrar na Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), no meio do oceano Atlântico, área conhecida pelas chuvas e tempestade violentas que provocam fortes turbulências.

O comandante estava descansando e o avião estava sob controle dos dois copilotos. Às 2h10 GMT, três toques curtos sinalizaram a desativação do piloto automático. Um dos copilotos assumiu então o controle da aeronave e, em um intervalo de dez segundos, "seis alarmes se sucederam".

Velocidades errôneas


Os pilotos rapidamente perceberam que haviam perdido velocidade, mas as indicações eram errôneas. A altitude também estava subitamente a cerca de 122 metros abaixo dos 10.700 metros mostrados anteriormente no painel.

"Isso não correspondia à realidade", explicou o especialista. "Era um efeito do congelamento dos tubos de Pitot, que, obstruídos por cristais de gelo, deixaram de funcionar em menos de um minuto".

Em resposta, o copiloto fez com que o avião subisse, e ele passou a ganhar altitude e oscilar para os lados. O alarme de estol soou, "um primeiro elemento que desestabilizou a tripulação", indicou. Logo em seguida, soou o alarme de desvio de altitude, que já havia tocado antes, devido à falsa perda de altitude. Dessa vez, o motivo foi "altitude maior" do que o normal.

No meio da noite, "podemos imaginar que o piloto não percebe, necessariamente," essa diferença, explicou o especialista. Logo, o alarme de estol, ou perda de sustentação, voltou a tocar, por 54 segundos. O avião, após atingir uma altitude de 11.600 metros, perdeu sustentação e caiu.

"Os pilotos estavam agitados e agiam de maneira desordenada", comentou o especialista. O capitão retornou à cabine, chamado por seus colegas. "Perdemos o controle do avião", disseram a ele.

Avião caiu a 4,5 km por minuto


O aparelho "estava caindo a 4,5 km por minuto, o que é considerável", comentou o especialista. "Nos dois minutos seguintes, e até o impacto, a situação era confusa." Quando o alarme de proximidade do solo soou, os pilotos tentaram "levantar o avião." "Até o final, houve um diálogo entre a tripulação, que tentava descobrir o que estava acontecendo", destacou o especialista. A aeronave atingiu o mar a 300 km/h, quase na horizontal.

Após as explicações, os especialistas divulgaram uma reconstituição digital. Durante quatro minutos e meio, o silêncio tomou conta da sala. No restante da audiência, surgiram divergências entre um dos especialistas e os outros três em determinados aspectos do relatório. Suas conclusões, no entanto, questionam claramente o papel da Air France e da Airbus no que diz respeito ao congelamento dos tubos de Pitot.

Via RFI / UOL com informações da AFP

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