segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Há 10 anos, Austrália enterrou 23 aviões F-111 aposentados; entenda por quê

Aviões F-111 que pertenceram à Austrália foram enterrados ao invés de virarem
sucata (Imagem: Montagem/YouTube/Thiess)
Um dos aviões mais icônicos da aviação australiana, o F-111 teve um destino inusitado naquele país. Diversos de seus exemplares, após completarem o ciclo de vida, foram enterrados em vez de serem retalhados e transformados em sucata.

Isso é raro de acontecer, mas a escolha feita pela Força Aérea Australiana Real (Royal Australian Air Force - RAAF, na sigla em inglês) teve um motivo especial: diminuir os riscos de um acidente. Assim, em 2011, 23 desses aviões militares terminaram sua vida em um aterro sanitário no estado de Queensland, e não em um cemitério de aeronaves, como é mais comum.

Contaminação


F-111 que pertenceu à Real Força Aérea Australiana com as asas "abertas"
(Imagem: Sgt. Mark McIntyre/Departamento de Defesa da Austrália)
A Austrália tem um plano de eliminação de equipamentos militares especializados, no qual o F-111 se enquadra. Por conter amianto, o descarte da aeronave teria de ser feito de uma maneira especial, o que geraria custos muito elevados.

O amianto (ou asbesto) é o nome de uma família de minérios a cuja exposição relacionam-se diversas doenças, como câncer de pulmão e a asbestose, causada pela ingestão do pó deste mineral. Assim, recortar a fuselagem do avião em pedaços para serem reciclados não poderia ser feito sem riscos consideráveis de contaminação.

Como o manejo dos restos do avião se tornou uma dor de cabeça, já que eles não poderiam simplesmente ser transformados em sucata, optou-se por enterrar os F-111 inteiros no aterro. Antes disso, motores, instrumentos e materiais eletrônicos foram removidos, e as asas foram cortadas.

Exemplares remanescentes


F-111 é carregado em um avião cargueiro C-17 para ser levado para o Museu de Aviação de Pearl Harbor, no Havaí (EUA) (Imagem: Aviadora Kylie Gibson/Ministério da Defesa da Austrália)
A RAAF adquiriu 24 F-111 inicialmente, e chegou a ter 43 aviões deste modelo operacional em sua frota. Desses, oito se acidentaram em serviço e 23 exemplares foram enterrados.

Após deixarem de operar, pelo menos seis unidades permaneceram em bases militares australianas. As outras foram disponibilizadas para museus civis, e uma delas está no Museu da Aviação de Pearl Harbor, no Havaí (EUA).

O F-111


F-111 com a asa aberta, para voos em baixas velocidades, e com a asa retraída,
para voos supersônicos (Imagem: Montagem/Ministério da Defesa da Austrália) 
O F-111, ao contrário do que muitos podem pensar, não é um caça. Apesar do "F" em sua denominação (do inglês Fighter, que em português significa avião de caça), ele é considerado um bombardeiro médio. 

Esse é um avião desenvolvido pela General Dynamics a partir da década 1960 para a Força Aérea dos Estados Unidos. Sua velocidade é de até 2.336 km/h, mas pode chegar a mach 2.5, ou seja, duas vezes e meia a velocidade do som (cerca de 3.100 km/h) quando está voando em maiores altitudes.

Sua propulsão é feita por dois motores, e ele pode voar até 4.780 km sem precisar parar para reabastecer. Ele tem 22 metros de comprimento e 5,1 m de altura. 

Esse avião tem geometria variável, o que significa que suas asas mudam de posição, formando ângulos diferentes em relação à fuselagem. Isso representa uma vantagem, pois, em baixas velocidades, é interessante que a asa esteja o mais aberto possível para garantir a sustentação e, em altas velocidades, o mais recolhida, permitindo que opere o voo supersônico.

Esse bombardeiro é configurado para levar dois tripulantes lado a lado: um piloto e o oficial responsável pelo sistema de armas (Veja aqui como é a cabine do F-111). Sua capacidade de transporte é de até 24 armas convencionais ou nucleares. 

Ele foi batizado de Aardvark (que é outro nome para porco-formigueiro) pelo fabricante, e apelidado de "porco" na Austrália. Segundo o ex-ministro da Indústria da Defesa da Austrália Jason Clare, esse apelido carinhoso se deve ao fato de que esses aviões eram capazes de "caçar" seus alvos à noite e voar baixo, próximos à vegetação, graças ao seu sistema de radares. 

Veja vídeo com os aviões sendo enterrados:


Por Alexandre Saconi (UOL)

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