O oficial prussiano, nascido em 1892, nunca conquistou notas particularmente altas, a não ser em ginástica e esgrima. Esta era uma personalidade incompatível com a falta de ação das trincheiras, que conheceu quando o seu regimento foi colocado na frente francesa no início da guerra, em 1914.
Em maio de 1915, não resistiu e pediu transferência para a Força Aérea. Mas os primeiros tempos não foram fáceis. Após uma curta aprendizagem, em 10 de outubro de 1915, Richthofen realizou o primeiro voo solo. "Realizei várias manobras, como me foi pedido para fazer, aterrissei e decolei com sucesso várias vezes. Senti-me orgulhoso de tudo o que tinha feito. Contudo, para minha surpresa, foi-me comunicado que fui reprovado. Não havia nada a fazer a não ser voltar a repetir o exame", recordou no seu livro "O Piloto Vermelho" ("Die Rotte Kampffliger").
Como piloto teve um início indiferente. Jovem impetuoso, não se contentou com a monotonia da frente leste. Pediu transferência para a frente ocidental, onde o seu irmão mais novo, Lothar, iria juntar-se a ele no início de 1916, também proveniente da arma de Cavalaria.
Foi em 1916 que chegou a consagração. Em agosto estava na esquadrilha de Oswald Boelcke, um dos primeiros e mais famosos ases da aviação, que iria desaparecer em combate em 28 de outubro.
O piloto que, na época da morte de Boelcke, tinha ultrapassado largamente o seu mentor em número de aviões abatidos, nunca deixando de lhe prestar homenagem e de o considerar melhor piloto do que ele próprio. "De madrugada, bateram em minha porta e ao abri-la, vi diante de mim o grande homem, com a sua 'Pour le Mérite' [medalha correspondente à ordem militar prussiana do mesmo nome, criada por Frederico II, em 1740; a designação em francês corresponde à língua da corte prussiana]. Não conseguia imaginar o que poderia querer. É verdade que o conhecia, mas nem por um momento me ocorreu que vinha me convidar para ser seu discípulo", escreve Richthofen em suas memórias.
Foi como membro da esquadrilha de Boelcke que o Piloto Vermelho abateu o primeiro avião. Inspirando-se numa tradição vigente, a cada nova vitória, Richthofen iria encomendar uma pequena taça de prata com a inscrição "1 Vickers 2 17.9.16" - o primeiro número corresponde ao número da sua vitória (a palavra identifica o modelo de avião; o segundo número corresponde aos membros da tripulação, a que se segue a data do combate). Foi nesta época que mandou pintar de vermelho todo o avião - "a partir daí, todos sabiam quando eu estava nos ares", em especial os inimigos, que iriam cunhar apelidos como Diabo Vermelho ou Barão Vermelho.
Mais tarde, teve de suspender a encomenda dos troféus, devido à escassez de prata. Richthofen tinha abatido 61 aeronaves. Antes, em janeiro de 1917, foi a sua vez de receber a 'Pour le Mérite'. Em abril, ultrapassou Boelcke em número de vitórias e o comando militar ordenou-lhe que deixasse de voar. Parou durante dois meses; escreveu suas memórias. Ao regressar, quase se confirmam os piores receios do Alto Comando: foi alvejado, mas conseguiu sobreviver.
O Fokker Dr.I, 425/17, do Barão Vermelho
Quando voltou a voar, em pouco mais de oito meses, abateu 40 aviões inimigos. Foi o ás dos ases. Nenhum outro piloto conseguiria alcançar o seu recorde de 80 vitórias. Mas a sorte das batalhas estava para mudar para a Alemanha e para a Áustria-Hungria.
Em 21 de abril de 1918, Richthofen levantou voo para enfrentar um grupo de aviões canadenses; não imaginava, decerto, que iria revelar-se fatal a caça a um avião em fuga, tripulado por um novato envolvido em seu primeiro combate.
Pilotado por Wilfred May, o avião põe-se em fuga ao ficar com as metralhadoras travadas. Richthofen perseguiu-o, não se apercebendo que, por sua vez, estava sendo perseguido pelo comandante do grupo canadense, capitão Arthur R. Brown. Já sobre território aliado, May voou o mais baixo possível para tentar afastar Richthofen; não conseguiu, mas o prussiano estava agora sendo alvejado por Brown - e a partir das trincheiras. O vermelho do seu Fokker tornou-o um alvo perfeito.
O seu corpo foi devidamente autopsiado no hangar do 3º esquadrão aéreo australiano, situado em Poulainville, onde, além de uma fratura no maxilar, constatou-se que uma bala fatal penetrara-lhe no lado direito do peito, na altura da nona costela. Com o desaparecimento dele, o seu jovem sobrinho Wolfram von Richthofen, companheiro e integrante do celebre esquadrão de caças alemão Jagdstaffel, ou Jasta 11, uma das mais temidas da aviação germânica, tentou inutilmente encontrá-lo. Somente dois meses mais tarde souberam do destino do herói, inteirando-se das cerimônias honrosas com que os seus inimigos o sepultaram.
Embora permaneça alguma controvérsia sobre quem matou o ás dos ases, tudo indica que o Barão Vermelho tenha sido morto por um disparo feito por um soldado a partir das trincheiras. As mesmas trincheiras que enfastiavam o Richthofen de 1914.
Fontes: Abel Coelho de Morais (DN) / Terra via Blog Notícias sobre Aviação - Fotos: WaffenHQ.de / Getty Images
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