Passagem de aviões da CIA pelo país 'teria contado com conivência portuguesa'.
Um relatório que será divulgado na segunda-feira pela ONG britânica Reprieve aponta Portugal como principal passagem dos vôos da CIA (agência de inteligência americana) para transportar acusados de terrorismo para a base de Guantánamo.
Segundo o relatório, dos 744 prisioneiros que chegaram ao centro de prisão americana, 728 teriam passado antes por Portugal.
O relatório apresenta uma lista com nomes de prisioneiros, local e a data de partida dos vôos. Os aviões teriam feito escala em dois aeroportos do arquipélago português dos Açores, Santa Maria e Lajes, localizados no meio do Atlântico Norte.
A base militar que os Estados Unidos operam em Lajes, na Ilha Terceira, é uma das principais bases aéreas americanas fora dos Estados Unidos.
Os vôos teriam começado em 2002 e o mais recente data de 7 de maio de 2006.
Clive Smith, diretor geral da Reprieve, afirmou ao jornal português Diário de Notícias que "nenhum dos prisioneiros poderia ter chegado a Portugal sem a cumplicidade portuguesa".
Escândalo político
A divulgação do caso está provocando um escândalo político em Portugal. Os partidos da esquerda, os Comunistas e o Bloco de Esquerda, pedem a formação de uma investigação para apurar as denúncias.
O acordo entre Portugal e os Estados Unidos para a utilização da base das Lajes prevê que a passagem, pelo aeroporto, de pessoas que não sejam militares norte-americanos, precisa de autorização do governo português.
Os prisioneiros de guerra não são considerados pessoal militar.
Os vôos teriam ocorrido durante o governo de quatro primeiros-ministros portugueses, de governos socialistas e de centro-direita.
A passagem de prisioneiros de Guantánamo por países europeus já foi motivo de uma comissão de inquérito no Parlamento Europeu em setembro de 2006, que recomendou que fossem apurados todos os casos.
Na época, a deputada do parlamento europeu Ana Gomes afirmou ter recebido uma carta do então ministro das Relações Exteriores, Diogo Freitas do Amaral, confirmando que aviões de empresas usadas como fachada pela CIA fizeram mais de cem escalas em território português.
Em entrevista à rádio portuguesa TSF, Ana Gomes disse nesta terça-feira que os dados da ONG Retrieve são novos para a comissão de inquérito do Parlamento Europeu.
Questionado pela imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Luís Amado, afirmou que ainda não tinha visto o relatório da ONG e por isso não poderia comentá-lo.
O secretário de Estado dos de Assuntos Europeus, Manuel Lobo Antunes, contradisse o que afirmou a ONG britânica. "Este relatório não reflete a realidade da passagem dos vôos pelo território português. Os dados foram tratados de forma leviana", afirmou à agência de notícias Lusa.
A justiça portuguesa está realizando há um ano um inquérito sobre os vôos da CIA, mas ainda não apresentou conclusões.
Fonte: G1
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