Em 1932, uma dupla de aviadores iniciou uma aventuras que terminou sufoco na Austrália, carregando cicatrizes eternas.
Era 29 de fevereiro de 1932 quando um grupo de quatro aviadores, formado pelo piloto Hans Bertram, o co-piloto Thom, o mecânico Adolph Klausmann e o cinegrafista Alexander von Lagorio decidiu sair da cidade de Colônia, na Alemanha, em busca de uma aventura.
Eles pretendiam dar a volta ao globo com o objetivo de encontrar novos mercados para a indústria de aviação da Alemanha, além de aproveitar a viagem para visitar comunidades alemãs da qual passariam durante o percurso. E lá foram eles, equipados em um hidroavião Junkers W 33 denominado Atlantis, sem saber da confusão que estava por vir.
Tragédia anunciada?
As primeiras dez semanas seguiram conforme o planejamento. O grupo alcançou voo passando por diversos países da Europa e chegando então à Ásia, onde decidiu parar em Jacarta, Capital da Indonésia.
Por lá, o quarteto decidiu se separar: Bertram e Klausmann continuariam voando pelo arquipélago indonésio, seguindo a rota para a Austrália, enquanto Thom e von Lagorio foram direto para Xangai, China, onde todos eles deveriam se encontrar após as navegações.
Porém, para Bertram e Klausmann o destino seria outro. Eles pararam em uma baía perto Koepango para buscar combustível, na parte ocidental de Timor holandês, de onde partiram para Darwin, Austrália, à meia-noite em 14 de maio.
A viagem que propuseram a fazer levaria cerca de 5 ou 6 horas, e eles chegariam no local ao amanhecer do dia seguinte, mas não foi bem isso que aconteceu. Em meio ao Mar de Timor, enfrentaram uma tempestade brusca e, com pouco combustível, a única opção seria aterrar o hidroavião na primeira baía que avistassem, que consequentemente era a costa de Kimberley, há centenas de quilômetros do destino esperado.
No momento, eles impuseram que estavam em algum lugar perto da Ilha de Melville, mas, na verdade, se encontravam no Cabo St Lamber, cerca de 370 quilômetros a sudoeste do lugar que acreditavam estar.
Verdadeiro inferno
Por lá eles ficaram por muitas horas, apenas com a companhia um do outro e dos arbustos do deserto australiano. No período noturno, foram encontrados por um homem aborígine, mas que os deixou após não conseguir se comunicar.
Em uma tentativa falha, os aviadores, com apenas 15 litros de combustível, decidiram decolar e seguir à oeste, onde pensavam que avistariam Darwin, todavia, a ideia foi um fracasso. Após ficarem sem combustível, com pouca água e comida, decidiram voltar para a bacia inicial em que estavam e procurar o homem aborígene, que poderia fornecer sustentos para sobrevivência.
O caminho de volta foi um inferno. Tiveram que encarar a sede, fome e enxames de moscas, além de terem tentado nadar em uma enseada, no qual foram atacados por um crocodilo. O sofrimento pela procura de rotas que poderiam salvá-los durou treze dias.
Não suportando as provações, a dupla drenou o radiador da água restante e removeu um dos flutuadores do hidroavião para construção de uma canoa improvisada, que seria usada para remar na direção oeste, todavia, nada deu certo e voltaram para a costa, onde se abrigaram sob uma de rocha no Cabo Bernier, e permaneceram até serem resgatados.
Sem sinais
A canhoneira holandesa HNLMS Flores saiu de Surabaya quatro dias após o desaparecimento da dupla em uma busca ao longo da rota do Mar de Timor. O governo da Austrália Ocidental também iniciou uma busca por terra, mar e ar entre os possíveis lugares em que poderiam ter pousado. Sessenta pessoas estiveram envolvidas na busca, que já havia recebido certa visibilidade.
O hidroavião foi localizado por uma aeronave em 15 de junho, mas não acharam sinal dos homens. Vários dias depois, o lançamento da Wyndham Meat Works, Kimberley, encontrou uma nota com os dizeres: "27 de maio de 1932. Austrália. Hoje deixamos o avião flutuando como um barco na direção oeste. Bertram", essa pista foi essencial para dar os próximos passos.
Em 22 de junho, os homens finalmente foram encontrados em uma caverna perto do Cabo Bernier, em estado de choque e gravemente doentes. A polícia chegou uma semana depois e eles foram levados para o hospital, chegando em 6 de julho.
Toda essa aventura durou 53 dias e custou a saúde mental de Klausmann, que após o trauma acabou desenvolvendo demência. Já Bertram escreveu um livro sobre a experiência chamado Flug in die Holle (Flight into Hell), que mais tarde também virou adaptação para série de TV.
Fonte: aventurasnahistoria.uol.com.br - Fotos: Wikimedia Commons