sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Por que a primeira classe está desaparecendo dos aviões?

Uma das opções de luxo da Qatar Airways, uma das poucas que ainda oferece
 serviço de primeira classe (Imagem: Divulgação)
Antes de apresentar em grande parte das empresas aéreas do mundo, a primeira classe vem desaparecendo mundo afora. Até meados da década de 2000, ela era observada em quase todos os voos internacionais, mas a sua presença foi decaindo com o passar dos anos.

No Brasil, com o fim da Varig e com a Latam deixando de oferecer o serviço na metade da década passada, esse serviço se tornou mais raro ainda. Azul e Gol, companhias mais novas, nunca chegaram a oferecer esse tipo de serviço a bordo.

Fato é que a primeira classe tem sido substituída por outros tipos de serviço e experiência. Qual a razão para isso estar associado?

A ascensão da classe executiva


Para Rahsaan Johnson, diretor de comunicação internacional da Delta Airlines, a redução na oferta da primeira classe é um movimento comum em todo o mundo.

"A Delta é uma das inúmeras empresas mundo afora que investe na melhoria das aulas executivas em busca de oferecer um nível de serviço superior ao que as pessoas tiveram nas primeiras aulas há 20 anos", afirma o executivo.

Hoje, segundo Johnson, as experiências são muito semelhantes, com assentos que reclinam totalmente e viram camas, serviço de refeição diferenciada, proporção maior de comissários por passageiros, entre outros.

Delta One, opção de executivo da Delta (imagem: Chris Rank)
A Delta, por exemplo, possui assentos de algumas de suas classes executivas que se transformam em uma suíte, totalmente fechada, permitindo maior privacidade durante os voos, chamados de Delta One. Esse tipo de experiência oferecida, não só na empresa, hoje é superior às primeiras aulas nas décadas passadas.

A Qatar Airways possui uma cabine executiva específica, chamada de QSuite, que não é considerada como primeira classe pela empresa, embora tenha muita semelhança com essa categoria. Nela é possível transformar quatro assentos em um espaço privativo para a família, e algumas poltronas ainda reclinam até formar uma cama de casal.

Uma das opções da Qatar Airways, a Qsuite tem foco em famílias viajantes (Imagem:  Divulgação)

O preço nem sempre compensa


Se antigamente o que importava era ter uma refeição personalizada, poltrona reclinável até virar cama, espaço maior e privacidade, grande parte das classes executivas de hoje já oferece esse serviço. E, nelas, o preço é bem menor em vários momentos.

Motorista, concierge e embarque


Em voo, a experiência da primeira classe para um executivo pode se diferenciar quanto aos assentos do avião, muitas vezes, maiores ou mais reservados em relação aos demais passageiros.

Primeira classe da British Airways dá acesso a lounge, embarque prioritário (Imagem: Divulgação)
Em alguns casos, as refeições podem ser preparadas especialmente para o cliente, com um menu personalizado, além da maior quantidade de comissários, permitindo um atendimento mais exclusivo.

Em solo, pode ser feito o embarque prioritário, um transporte diferenciado de bagagens, kits de conforto exclusivos, serviços de concierge e de motorista particular. Entretanto, algumas classes executivas também oferecem alguns desses serviços, o que torna a linha que as separa é muito tênue.

Kit de itens para o voo também é diferencial das companhias; na imagem,
uma versão da Qatar (Imagem: Divulgação)

Menos oferta


Com a concorrência direta com os serviços oferecidos pelos executivos, há uma redução nas primeiras aulas. Segundo o site Simple Flying, a British Airways possuía 560 mil assentos de primeira classe em seus aviões em 2008, caindo para 100 mil na década seguinte.

Cingapura chegou a reduzir de 150 mil assentos para 90 mil de primeira classe na última década.

Por que algumas empresas ainda têm?


Primeira classe da Emirates a bordo do Boeing 777-300ER (Imagem: Divulgação)
Grande parte de empresas do Oriente Médio, como Emirates, Qatar e Etihad, e outras asiáticas, como Singapore e All Nippon Airways e Korean Air, são os mais fortes em oferecer primeiras classes em volume de assentos.

Embora o modelo venha se tornar obsoleto, para alguns é importante mantê-lo devido à sua lucratividade. Um avião inteiro com classe econômica pode ter um retorno financeiro menor do que um com primeira classe, que cobra mais do que as outras classes.

Suíte da Singapore Airlines a bordo de um A380 (Imagem: Divulgação)
Mesmo ocupando um espaço maior, o assento de primeira classe cobra, proporcionalmente, mais do que a quantidade de lugares da econômica no mesmo lugar. Com isso, ajude a tornar o voo mais lucrativo.

Ela também se mostra uma exigência do passageiro: voos que partem de algum dos emirados árabes tendem a cumprir longas rotas, de mais de dez horas muitas vezes.

Kit de itens para o voo também é diferencial das companhias;
na imagem, uma versão da Qatar (Imagem: Divulgação)
Com isso, os clientes optam por serviços mais luxuosos, como suítes com cama, para poderem chegar descansados ​​e aproveitar mais um dia nos seus destinos.

E um avião inteiro? Não fica mais barato?


Os passageiros que optam por pagar até cerca de R$ 90 mil na passagem de ida e volta para a Europa em um voo comercial de primeira classe no fim de ano podem cogitar fretar um voo.

Fretar um jatinho pode ser a opção mais barata do que algumas opções de primeira classe (Imagem: Getty Images)
Alugar um avião exclusivo para dez pessoas nessa rota pode custar R$ 1 milhão, até ficar a sensação de ficar.

Para o Oriente Médio, um voo na QSuite da Qatar Airways para uma família de quatro pessoas custa cerca de R$ 280 mil na cabine privativa da empresa. Fretar um avião com capacidade de até 14 pessoas para o mesmo destino no fim do ano custa R$ 2 milhões, com um preço unitário de R$ 140 mil.

Air France tem opção de primeira classe: La Première (Imagem: Divulgação)

E no Brasil?


Apenas poucas empresas oferecem a primeira classe em voos para o Brasil atualmente. Uma delas é a Air France, que opera sua primeira classe, a La Première, para apenas 12 destinos ao redor do mundo, e São Paulo é um deles.

A KLM, que antes oferecia o serviço por aqui, deixou de fazê-lo desde a década de 1990. A Lufthansa oferece a opção de primeira classe em seu site, mas não respondeu sobre o serviço até o fechamento dessa matéria.

A Emirates ainda oferece o serviço em voos ao Brasil no avião A380. O modelo conta com cabines individuais, ducha para banho e kits de comodidades da Bulgari.

Via Alexandre Saconi (Nossa/UOL)

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