Um vídeo registrado por uma câmera acoplada na farda de um policial militar que trabalhou no resgate dos corpos do avião bimotor Beechcraft King Air C90A, que caiu na sexta-feira matando a cantora Marília Mendonça, aos 26 anos, e mais quatro pessoas, mostra que, no início do socorro, um dos agentes chegou a dizer que uma das vítimas apresentava sinal de vida.
— Dá para ver o braço, só o antebraço ali — afirmou um policial militar ao se aproximar da aeronave.
— Tá mexendo? — questionou outro.
O agente respondeu: — A princípio, sim! Tremendo, tremendo muito.
Nas imagens, não é possível identificar o passageiro. A esperança foi desfeita quando os policiais entraram no avião, onde o cenário era de devastação.
— De longe era uma coisa; de perto, parecia que tinha passado um furacão. O assoalho estava todo destruído, os bancos fora do lugar... Tudo foi arrancado dentro do avião. Não tem como não pensar no que as pessoas passaram. Fiquei atordoado — lembra Amadeu Alexandre, de 55 anos, dono de uma empesa de guinchos há 35, que foi acionado no sábado pela manhã para retirar o avião que caíra na véspera no Córrego do Lage, dentro de um condomínio de Caratinga (Minas Gerais).
O legista responsável disse que as vítimas sofreram politraumatismo, mas a polícia aguarda a finalização dos laudos sobre a causa das mortes.
Amadeu nunca tinha guinchado uma aeronave. Seu dia a dia de trabalho consiste na retira de carros e ônibus acidentados. Naquele sábado, embarcou na caminhonete e seguiu rumo ao cenário que já tinha visto pela TV: um avião que parecia, a olhos leigos, quase intacto. O trabalho de remoção mobilizou oito pessoas e dois caminhões — um guincho de 200 toneladas e outro de 40. O acesso à cachoeira era difícil, o tempo não estava bom, as ruas do condomínio não foram projetadas para a passagem de veículos pesados. E o avião pesa 8 toneladas.
— A parte mais complicada foi a remoção de um dos motores. Ele se desprendeu do corpo do avião e foi lançado a cerca de 300 metros, numa região íngreme e escorregadia, com muito limo — conta ele.
Cada motor do avião pesa 100kg. O segundo estava perto da aeronave e foram resgatados com cabos de aço e um caminhão-guincho. A polícia local afirma que um cabo foi encontrado enrolado à hélice de um motore. Ainda não é possível afirmar que ele seria da torre de transmissão de energia da Companhia Energética de Minas.
No sábado e no domingo, a aeronave foi deslocada para um terreno onde ficavam os caminhões para transportá-la. Para ser embarcada, ela foi dividida em quatro partes. Na manhã de ontem, um caminhão levou os destroços da fuselagem para um galpão em Caratinga. O trabalho foi acompanhado por investigadores do Seripa, órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos e por policiais civis. A Aeronáutica investiga o motivo de o piloto estar voando a baixa altitude, o que causou a colisão com o cabo de energia. A empresa que guinchou o bimotor planejava enviar o material, durante a noite, para o Rio, onde os destroços serão periciados. A Polícia Civil de Minas abriu inquérito para apurar responsabilidades pela queda.
Via Extra
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