sábado, 5 de setembro de 2020

O menino que caiu do 'céu': a tragédia de Keith Sapsford

Sapsford pensava que estava prestes a embarcar em uma aventura, mas seus atos imprudentes acabaram resultando em sua própria morte.

Fotografia de Keith Sapsford no exato momento em que caía do avião - Crédito: John Gilpin

Keith Sapsford era um apaixonado por aventuras. Ele não parecia ter sido feito para uma ‘vida normal’: mesmo com os pais o levando para feriados no exterior, o menino sempre acabava fugindo de casa para ter um pouco mais do gostinho de liberdade. Ele queria viajar o mundo, e nada seria capaz de impedi-lo de tentar. 

Em 1970, o ano fatídico de sua morte, Keith realizou mais uma fuga. Na época, ele estudava em um colégio interno para garotos, e tinha apenas 14 anos de idade. Seu plano para realizar uma viagem envolvia pegar carona clandestinamente em um avião.

As buscas atrás do garoto foram infrutíferas, e três dias depois, o jovem realizou a façanha de burlar a segurança do aeroporto de Sydney, na Austrália, e se infiltrou em um avião com destino a Tóquio, no Japão. 

A aventura, no entanto, acabou sendo não só muito breve, mas também sua última: isso porque o esconderijo escolhido pelo menino tinha sido o trem de pouso do avião, uma porção do veículo que é aberta no momento da decolagem, quando as rodas são recolhidas. Assim, quando aquele avião abriu a porta de seu trem de pouso, o adolescente foi lançado em uma queda de 46 metros, cujo impacto o matou de forma instantânea. 

Registro acidental 

Enquanto Keith vivia seus últimos momentos - embora ainda não soubesse disso -  um fotógrafo amador tirava fotos em outro ponto do aeroporto de Sydney. Esses dois fatos a princípio não tinham absolutamente nada a ver um com o outro, no entanto, uma ironia do destino os conectou. 

John Gilpin estava testando as lentes de sua câmera, quando acidentalmente capturou o garoto de 14 anos no exato momento de sua queda fatal do avião. Mais impressionante que essa coincidência, é que o fotógrafo sequer percebeu o que havia acontecido. Só viria a descobrir o que tinha capturado quando foi revelar as fotos. 

Outros cenários onde a aventura de Keith poderia ter terminado, caso ele tivesse conseguido se manter dentro do avião, oferecem destinos igualmente dramáticos: Um deles seria o esmagamento pelas rodas do avião, outro a falta de oxigênio e um terceiro o congelamento devido à grande altitude do voo. 

Segundo estatísticas, apenas uma entre quatro pessoas que se esgueiram para dentro de voos de forma clandestina conseguem sobreviver à viagem. Os sortudos costumam se infiltrar em viagens de curta duração e baixa altitude, mas mesmo assim enfrentam grande perigo: alguns chegam ao destino em estado grave de hipotermia, por exemplo, e podem morrer mesmo depois de fazer o pouso com vida. 

Em uma ironia dramática, Keith Sapsford já inclusive tinha ouvido falar sobre casos de pessoas que faleceram tentando fazer exatamente o que ele tentou. Meses antes de sua fatídica fuga, o pai do garoto, que era professor universitário de engenharia mecânica e industrial, contou a ele a história de um menino espanhol que morreu tentando voar escondido no chassi de um avião. Infelizmente, o adolescente não deu ouvidos ao pai, ou talvez só tivesse decidido tentar sua sorte mesmo assim. 

Outros casos

Segundo Deborah Harris, ex-chefe de operações do Conselho de Refugiados, que deu uma entrevista à BBC no ano de 2012, moradores de regiões em conflito “são frequentemente forçadas a tomar medidas extremas para fugir de seus países”. 

Ela complementa ainda que essas situações geralmente envolvem um prazo de tempo muito curto para escapar, e por vezes sem tanto acesso a dinheiro e outros bens, de forma que métodos de fuga pouco seguros são motivados pelo desespero dessas pessoas. 

Situações extremas como essa seriam, portanto, a regra para quem costuma tentar viagens clandestinas em aviões, enquanto um caso como o de Keith Sapsford seria uma exceção.

Fonte: Ingredi Brunato (aventurasnahistoria.uol.com.br)

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