O presidente mundial da Air France explica por que as inovações tecnológicas no setor de aviação hoje não são tão espetaculares quanto as do século 20
A evolução tecnológica da aviação comercial no século 20 foi “a jato”. Foram 70 anos entre a primeira aparição do 14 Bis, de Santos Dummont, em 1906, e o voo inaugural do Concorde. Na última década, o setor lançou novidades, como o gigante Airbus A380, que comporta 800 passageiros, mas a impressão geral é que estamos vivendo uma época de estagnação tecnológica.
O francês Alexandre de Juniac, presidente da Air France, mostra que as evoluções continuam acontecendo, mas em partes do avião que o passageiro não vê.
1) EXAME - Com exceção dos sistemas de entretenimento, parece que a evolução tecnológica dos aviões está estagnada. O senhor concorda?
Alexandre de Juniac - A indústria aeroviária deu um grande salto tecnológico nos anos 70 e 80. Tecnologias que chegaram recentemente aos carros, como o GPS, estão nos aviões há quatro décadas. Nos últimos anos, a maioria das inovações ocorreu em partes não visíveis, como nas turbinas e na fuselagem. As novidades não são tão espetaculares quanto as dos anos 80, mas são úteis para melhorar a segurança dos voos.
2) EXAME - O que veremos nos próximos anos?
Alexandre de Juniac - O foco é melhorar a eficiência dos aviões no consumo de combustível, responsável por 40% dos custos de um voo. As fabricantes estão fazendo estudos em aerodinâmica para reduzir o atrito das aeronaves com o ar. Há uma geração de turbinas mais eficientes. Um motor similar ao do Boeing 737 de anos atrás opera hoje um 777, que tem um porte maior.
3) EXAME - E dentro das aeronaves?
Alexandre de Juniac - As agências de aviação estão estudando uma padronização técnica para o uso de aparelhos conectados durante o voo. Ninguém provou que eles interferem nos sistemas de navegação, mas também não garantem o contrário. Muitas companhias aéreas estão oferecendo wi-fi em seus voos. É uma nova forma de gerar receita.
4) EXAME - Por que os aviões supersônicos de passageiros, como o Concorde, foram aposentados?
Alexandre de Juniac - Os voos supersônicos não são comercialmente viáveis por causa do alto consumo de combustível. Gasta-se energia também com os sistemas de resfriamento da fuselagem, pois o avião se aquece mais em alta velocidade. Não consigo enxergar nada nesse sentido antes de 2040.
5) EXAME - O biocombustível é uma alternativa mais barata?
Alexandre de Juniac - É um bom complemento, uma espécie de aditivo, mas a tecnologia ainda precisa evoluir para se tornar viável como matriz energética de um avião. A última gota de óleo do mundo será usada por uma aeronave.
6) EXAME - Como o senhor avalia a infraestrutura de aeroportos no Brasil?
Alexandre de Juniac - Conheço a estrutura de diversos países e a dificuldade de ampliar aeroportos. No caso brasileiro, a estrutura existente, com certeza, não condiz com o tamanho da economia. Há muito a ser feito. Como estamos a menos de dois anos da Copa do Mundo, não há espaço para atrasos.
7) EXAME - O senhor acredita que as obras serão feitas?
Alexandre de Juniac - Se o Brasil quiser ter capacidade de receber mais tráfego e aviões de maior porte, como o A380, as mudanças têm de estar prontas antes da Copa. O Brasil está correndo atrás disso com as parcerias público-privadas, um modelo que funcionou em muitos países, como a China.
Fonte: Bruno Ferrari (Exame) - Foto: Miguel Medina/AFP
O francês Alexandre de Juniac, presidente da Air France, mostra que as evoluções continuam acontecendo, mas em partes do avião que o passageiro não vê.
1) EXAME - Com exceção dos sistemas de entretenimento, parece que a evolução tecnológica dos aviões está estagnada. O senhor concorda?
Alexandre de Juniac - A indústria aeroviária deu um grande salto tecnológico nos anos 70 e 80. Tecnologias que chegaram recentemente aos carros, como o GPS, estão nos aviões há quatro décadas. Nos últimos anos, a maioria das inovações ocorreu em partes não visíveis, como nas turbinas e na fuselagem. As novidades não são tão espetaculares quanto as dos anos 80, mas são úteis para melhorar a segurança dos voos.
2) EXAME - O que veremos nos próximos anos?
Alexandre de Juniac - O foco é melhorar a eficiência dos aviões no consumo de combustível, responsável por 40% dos custos de um voo. As fabricantes estão fazendo estudos em aerodinâmica para reduzir o atrito das aeronaves com o ar. Há uma geração de turbinas mais eficientes. Um motor similar ao do Boeing 737 de anos atrás opera hoje um 777, que tem um porte maior.
3) EXAME - E dentro das aeronaves?
Alexandre de Juniac - As agências de aviação estão estudando uma padronização técnica para o uso de aparelhos conectados durante o voo. Ninguém provou que eles interferem nos sistemas de navegação, mas também não garantem o contrário. Muitas companhias aéreas estão oferecendo wi-fi em seus voos. É uma nova forma de gerar receita.
4) EXAME - Por que os aviões supersônicos de passageiros, como o Concorde, foram aposentados?
Alexandre de Juniac - Os voos supersônicos não são comercialmente viáveis por causa do alto consumo de combustível. Gasta-se energia também com os sistemas de resfriamento da fuselagem, pois o avião se aquece mais em alta velocidade. Não consigo enxergar nada nesse sentido antes de 2040.
5) EXAME - O biocombustível é uma alternativa mais barata?
Alexandre de Juniac - É um bom complemento, uma espécie de aditivo, mas a tecnologia ainda precisa evoluir para se tornar viável como matriz energética de um avião. A última gota de óleo do mundo será usada por uma aeronave.
6) EXAME - Como o senhor avalia a infraestrutura de aeroportos no Brasil?
Alexandre de Juniac - Conheço a estrutura de diversos países e a dificuldade de ampliar aeroportos. No caso brasileiro, a estrutura existente, com certeza, não condiz com o tamanho da economia. Há muito a ser feito. Como estamos a menos de dois anos da Copa do Mundo, não há espaço para atrasos.
7) EXAME - O senhor acredita que as obras serão feitas?
Alexandre de Juniac - Se o Brasil quiser ter capacidade de receber mais tráfego e aviões de maior porte, como o A380, as mudanças têm de estar prontas antes da Copa. O Brasil está correndo atrás disso com as parcerias público-privadas, um modelo que funcionou em muitos países, como a China.
Fonte: Bruno Ferrari (Exame) - Foto: Miguel Medina/AFP
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