quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acordo para crédito de jatos está mais próximo

Os governos dos maiores países industrializados do mundo estão perto de fechar um acordo sobre os subsídios para a exportação de aviões comerciais, segundo pessoas a par das negociações.

Mas oponentes do acordo dizem que o complexo plano não soluciona questões importantes e pode criar novos problemas no bilionário negócio de financiamento de aviões.

O acordo cobre os créditos de exportação, uma forma de apoio governamental que está por trás de muitos empréstimos comerciais para companhias aéreas quando elas compram aeronaves. As garantias, que os Estados Unidos e alguns governos europeus usam para promover as exportações de aviões, podem reduzir bastante o custo de financiamento de uma aérea e melhorar seu acesso a crédito.

Desde que a crise financeira se abateu sobre o mundo, em 2008, a fatia das vendas de aviões da Boeing Co. e da europeia Airbus que conta com essas garantias subiu para quase 35%, ante uma média histórica na faixa de 20%. O valor das garantias de créditos de exportação atingiu ano passado um recorde de US$ 20 bilhões e pode atingir o mesmo valor este ano, dizem pessoas do setor aéreo.

As fabricantes de aviões alegam que o financiamento subsidiado sustentou a demanda e a produção de jatos durante a crise financeira mesmo quando os mercados financeiros congelaram.

Já os oponentes dizem que esses financiamentos inflaram a produção de jatos durante a recessão e distorceram a concorrência.

As aéreas dos países em que a Airbus e a Boeing têm operações também dizem que os termos das garantias as discriminam, porque regras antigas impedem que tirem proveito delas. Em outubro, 24 grandes companhias aéreas dos países que sediam as fabricantes — como American Airlines, da AMR Corp., British Airways PLC, Delta Air Lines Inc. e Deutsche Lufthansa AG — se uniram para fazer lobby perante seus governos para restringir as garantias de exportação.

Mês passado, um grupo rival de companhias aéreas que se beneficia significativamente das garantias iniciou uma campanha para defender o financiamento estatal. O grupo, que se chama Aliança da Aviação, é formado por 11 aéreas que vão da barateira Ryanair Holdings PLC para as mais sofisticadas Emirates Airline e Etihad Airways, dos Emirados Árabes Unidos.

Nenhum dos dois grupos está inteiramente satisfeito com o novo acordo.

"Em vez de criar um mercado novo, aberto, vai criar um mercado distorcido", disse Howard Millar, diretor financeiro da Ryanair, a maior beneficiária das garantias do Exim Bank dos EUA e uma das principais defensoras do aumento do acesso a elas.

Como tem sido discutido, o novo acordo faria o oposto, tornando as garantias de exportação para compra de jatos mais caras e menos atraentes, segundo um rascunho do documento ao qual o Wall Street Journal teve acesso. Millar disse que o custo da Ryanair para conseguir esses financiamentos dobraria para quase 4% dos custos operacionais de acordo com o novo plano. "É uma péssima notícia para as aéreas, os fabricantes e os viajantes", disse ele, prevendo uma escalada nos preços como resultado.

Os termos em discussão também podem tornar o preço das garantias muito mais volátil e dificultar o uso delas durante uma crise financeira, afirmam as fabricantes de avião, que também discordam da proposta.

"Como um fabricante e representante de uma base enorme de fornecedores, alertamos a nossos governos que a incapacidade de um sistema simples, funcional e barato durante crises pode colocar em risco nossa produção e os empregos criados por ela", disse um porta-voz da Airbus, uma divisão da European Aeronautic Defence & Space Co. A Airbus calcula que a eliminação de metade de seus subsídios de créditos de exportação custaria mais de 5.000 empregos na Airbus e 10.000 nos fornecedores. Os representantes da Boeing não estavam disponíveis para comentar, mas pessoas a par da posição da empresa dizem que ela concorda com a Airbus em termos gerais.

As negociações estão ocorrendo esta semana na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, em Paris, mas ainda é preciso acertar muitos detalhes e continua incerto se o acordo vai ser mesmo finalizado.

As negociações tomaram como ponto de partida um acordo fechado pelos governos dos EUA e da Europa em 1986 e atualizado em 2007. As negociações recomeçaram em janeiro, para reconciliar diferenças nos termos do financiamento de aviões maiores da Boeing e da Airbus e dos jatos regionais menores da canadense Bombadier Inc. e da Empresa Brasileira de Aeronáutica SA.

A Bombardier está desenvolvendo uma nova família de jatos, a C-Series, que pela primeira vez a põe em concorrência direta com modelos menores da Boeing e da Airbus. Estas se queixaram de que a Bombardier estava tentando obter condições de financiamento de exportação mais favorável do que elas conseguem.

Fonte: Daniel Michaels (The Wall Street Journal)

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