segunda-feira, 3 de maio de 2010

Técnica que extrai DNA de ossos carbonizados facilita trabalho de peritos

A análise de DNA em ossos carbonizados é realizada geralmente em casos de acidente aéreo, automobilístico ou homicídio, quando não há outros materiais passíveis de investigação. O material genético é obtido pela coleta da região do corpo que se encontrar melhor preservada.

Nova técnica desenvolvida na França e validada recentemente no Brasil aumenta as possibilidades de identificação do material genético e promete facilitar o trabalho dos peritos.


O exame de DNA é uma das maneiras mais eficazes desenvolvidas pela ciência para identificar uma pessoa, sendo muito usado em investigações criminais — quando são comparados vestígios, como sangue ou cabelo, à genética de vítimas e de suspeitos —, na identificação de corpos ou na determinação do parentesco ou não entre dois indivíduos. Por isso, há uma preocupação constante da ciência forense (*) em desenvolver novas formas de determinar essa marca registrada de cada um. É o caso de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Positivo de Curitiba, que validou no Brasil uma técnica de extração de DNA a partir de ossos carbonizados, em decomposição ou esqueletizados.

A nova metodologia, que promete resultados num curto espaço de tempo, obteve sucesso em 85,7% das amostras analisadas, todas extraídas de material com alto grau de degradação. Foram analisados oito ossos dos quais o DNA não pôde ser obtido pelas técnicas tradicionais. Em sete deles, o método obteve sucesso.

O estudo foi conduzido pelo coordenador do curso de farmácia da universidade, Hemerson Bertassoni Alves, com a participação de duas alunas. O trabalho serviu para validar no país um equipamento desenvolvido pela empresa francesa Bertin. Os resultados positivos deram origem a um protocolo internacional forense. Isso significa que a partir de agora qualquer laboratório poderá utilizar a metodologia.

“Havia feito alguns contatos anteriormente com representantes da empresa e recebi o convite para validar o equipamento aqui no Brasil. Fui o primeiro a desenvolver a técnica e fazer os primeiros testes. No momento, estamos aguardando a publicação do trabalho numa revista internacional”, afirma Alves. A pesquisa contou com apoio do Instituto de Criminalística de Curitiba, que concedeu a ossada para a investigação.

Segundo Alves, a extração do material genético de ossos humanos é um dos grandes problemas da ciência forense. “Realizar essa extração não é nada fácil, pois os ossos são matrizes minerais e as células ficam incrustradas nelas”, explica o especialista, que também é perito criminal no Paraná. O especialista explica que o maior aliado da nova técnica é o movimento de precessão, também realizado pela Terra. “No geral, o fenômeno nada mais é do que a mudança gradual da direção do eixo de rotação da Terra. No nosso caso, o DNA é extraído a partir da colisão de esferas de aço e porcelana movidas em diversas direções, que destrói as células presentes mesmo em ossos carbonizados”, destaca.

Além dos resultados significativos, a máquina apresentou resultados em um espaço de tempo bem menor do que o método conhecido como fenol-clorofórmio. Segundo o especialista, o que era feito em 24 horas pode ficar pronto em cerca de 50 segundos. “Com isso, há uma velocidade maior na conclusão de inquéritos policiais e obviamente na identificação do cadáver”, afirma.

Outros materiais

O professor da Universidade Positivo diz que alguns casos muito complicados para os peritos, como o acidente com o avião da TAM que explodiu depois de não conseguir pousar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2007, teriam sido mais simples se a tecnologia já existisse. “Com certeza, a técnica seria de grande utilidade para a identificação dos corpos das vítimas”, afirma. Inicialmente, foram testados apenas ossos no equipamento francês, mas Alves acredita que ele poderá ajudar na extração do DNA de outros materiais, como sêmen e manchas de sangue.

Aluna do curso de farmácia na época da pesquisa, Daphne Toledo investigou a máquina exaustivamente. “Esse novo aparelho é fundamentado no movimento de precessão, realizando alguns ciclos com alta velocidade. Ele certamente pode ser útil na investigação de vários tipos de materiais, pois além dos ciclos com velocidades diferentes, possui vários tamanhos e tipos de esferas, podendo ser ajustados a qualquer outro material”, destaca.

* Investigação

A ciência forense consiste na aplicação de técnicas científicas inseridas dentro de um processo legal. Os vestígios encontrados por profissionais, nem sempre vistos a olho nu, podem ajudar na solução de crimes e no auxílio de vítimas, entre outros casos. Recentes avanços da ciência têm contribuído bastante para o aperfeiçoamento da prática, a exemplo do teste de DNA — avaliação e identificação do material genético.

Fonte: Gisela Cabral (Correio Braziliense) - Foto de Eugenio Goulart (Diário de S.Paulo)

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