segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quando um vulcão retira aviões do ar

Prejuízo diário de US$ 250 milhões

Seguradores que cobrem passagens de pessoa física terão prejuízos "incalculáveis"

A nuvem de cinza vulcânica na Islândia que cancelou diversos vôos na Europa desde a última quinta-feira (15), deve gerar impacto na indústria aérea maior que os ataques do 11 de setembro nos Estados Unidos. A Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) revisou os custos diários em termos de receita perdida de US$ 200 milhões para US$ 250 milhões.

O fechamento do espaço aéreo já começou a levantar preocupações sobre o impacto na economia da região. O temor é de que o caos se prolongue, com prejuízos para o turismo e os negócios. Ainda é difícil calcular qual seria exatamente o efeito dessa paralisação no setor aéreo sobre a economia e ainda não há previsão para a normalização total das operações nos aeroportos.

O presidente da Iata, Giovanni Bisignani, criticou a forma como as autoridades européias estão lidando com a situação, classificando-a como "embaraçosa" para a Europa. Já de acordo com o comissário de Transportes da União Européia, Siim Kallas, "as companhias aéreas não estão prontas hoje para enfrentar essas perdas", mas que a UE não pode comprometer a segurança dos passageiros.

As companhias aéreas insistem que as restrições estabelecidas até o momento, que levaram ao cancelamento de mais de 63 mil vôos, precisam ser reavaliadas depois que diversos vôos de teste bem-sucedidos feitos durante o final de semana indicaram menor risco de danos às aeronaves do que o que se temia antes. "É embaraçoso, porque eles tomaram a decisão sem fatos ou números, apenas usando um modelo matemático teórico, e isso não faz sentido", disse Bisignani, destacando que os governos não tentaram avaliar a quantidade de cinzas vulcânicas corrosivas na nuvem, o que é "inaceitável".

Bisignani pediu que os governos e as autoridades da aviação civil permitam que as aeronaves operem em corredores específicos e implementem procedimentos especiais de pouso e decolagem. Até a nuvem desaparecer, as companhias aéreas podem levar de três a seis dias para que voltem a operar normalmente, o que significa enfrentar pelo menos 10 dias de turbulência.

Previsões

Segundo o Goldman Sachs, a queda das torres gêmeas do World Trade Center significou perda de US$ 1,4 bilhão para as companhias aéreas norte-americanas, que precisaram de um pacote de resgate de US$ 15 bilhões do governo. O economista-chefe para a Europa do Goldman Sachs, Erik Nielsen, calcula que, se a interrupção dos vôos durar até a próxima quarta-feira, quando então completaria uma semana, o impacto sobre a economia será mínimo, até porque a situação acaba compensada pelo aumento de viagens por meios alternativos de transportes.

"Mas se o cancelamento dos vôos se estender por semanas (ou meses), então esperamos ver um impacto muito sério sobre o PIB do segundo trimestre antes que as conferências de negócios e as férias sejam remarcadas para lugares mais próximos de casa", prossegue Nielsen.

Outro problema apontado, desta vez pelo estrategista-chefe do Deutsche Bank, Jim Reid, é o abastecimento de produtos (como remédios e frutas) por vias aéreas. "O efeito do vulcão está certamente começando a se tornar um evento macroeconômico, principalmente se a erupção continuar". A última erupção do Eyjafjallajökull durou de dezembro de 1821 a janeiro de 1823.

Corredores

O ministro de Ecologia da França, Jean-Louis Borloo afirmou que a França pretende abrir corredores de tráfego aéreo na Europa o mais rápido possível, de forma a permitir alguma movimentação. As autoridades francesas decidiram deixar o espaço aéreo aberto no sul do país, medida que está permitindo às companhias repatriarem viajantes que estavam bloqueados no exterior.

Em erupções vulcânicas anteriores nos Estados Unidos, destacou Borloo, a Administração Federal de Aviação enviou diversos aviões para avaliar o risco e desviou os aviões comerciais da nuvem de cinzas provocada pelo vulcão. "Você não fecha toda a Europa sem fazer testes apropriados", criticou o ministro, afirmando que a decisão de fechar o espaço aéreo foi tomada "por provedores de serviços de navegação sem consultar as companhias aéreas e sem uma avaliação de risco, coordenação ou liderança".

Cinzas preocupam seguradoras

A Munich Re e a Allianz afirmaram que a indústria não terá muitos prejuízos, pois as companhias aéreas não contratam seguros de lucros cessantes ("business interruption"). No entanto, aquelas que têm seguros viagem celebrados com pessoas físicas que garantem esse tipo de evento, como a Tokio Marine, terão prejuízos "incalculáveis".

Apenas para efeito de comparação, o professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg) e especialista em aeronáutica, Gustavo Cunha Mello, ao lembrar a recente greve de pilotos da British Airways, disse que para cada dia de greve as perdas chegaram a 13 milhões de libras esterlinas e que, dependendo do que ocorrer com as cinzas — se vão se dissipar na atmosfera ou se depositar sobre plantações e ativos em solo — os prejuízos podem aumentar.

O risco de voar com este tipo de nuvem foi revelado com um caso concreto. No dia 15 de abril, um caça da Força Aérea da Finlândia sobrevoou a nuvem de cinzas, a uma altitude acima de 50 mil pés, teve suas turbinas danificadas e apagadas em vôo. O piloto só conseguiu ligar os motores graças a perícia. Em solo analisaram e perceberam os danos pela selagem das partes internas do motor.

Fonte: Monitor Mercantil Digital - Imagem: blog.campe.com.br

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