Equipamento registra entre 50 a 100 últimas horas de dados sobre avião.
Memória do dispositivo plugada em computador gera vídeo de simulação.
As caixas-pretas dos aviões ficam instaladas na cauda das aeronaves e possuem todos os dados das últimas 100 horas de voo e 36 horas de gravação de voz e sons da cabine dos pilotos, segundo Jorge Barros, piloto e especialista em segurança de voo. A localização, nesta segunda-feira (11), da cauda do Airbus A-330 que caiu com 228 pessoas em 2009, no Oceano Atlântico, pode permitir que autoridades descubram as possíveis causas do acidente.
Os restos do avião foram encontrados a 3.900 metros de profundidade no Oceano Atlântico, em uma área relativamente plana, com 600 metros de extensão. A informação foi confirmada pela Associação de famílias das vítimas, que foram informados pelo BEA (sigla que em francês significa o Escritório de Investigação e Análises).
“O robô localizou a cauda onde ficam localizadas as caixas-pretas”, disse Marinho. Ele explicou que a previsão é que nas próximas três semanas uma nova empresa entre nos trabalhos de buscas com uma espécie de guindaste para retirar a cauda e, nela, as caixas-pretas.
Segundo Barros, a cada projeto de avião posiciona as caixas-pretas em lugares diferentes. "Na grande maioria, as empresas colocam esse equipamento na cauda do avião, sob o leme, perto dos estabilizadores horizontais. Este é o local que menos sofre danos em um acidente aéreo. As equipes de resgate, normalmente, quando fazem buscas, procuram pela cauda do avião."
Ele disse que, no Ocidente, todos os aviões têm caixa-preta na cauda, na parte traseira do avião. "Pelo menos a Boeing e a Air-France, desde que começaram a instalar esses equipamentos nas aeronaves, têm colocado as caixas-pretas na cauda."
Dados de voo e voz dos pilotos
O especialista disse ainda que, dependendo do tipo da caixa-preta, cada avião pode ter até dois desses equipamentos. "Uma é ativa e a outra é de back up. Uma mantém a mesma informação em dois lugares diferentes. O Flight Data Recorder (FDR) é o gravador de dados de voo, que registra cerca de 600 parâmetros de voo, como velocidade, pressão, potência de motor, tensão elétrica, altitude, consumo de combustível. Depedendo do fabricante, esse equipamento pode ter duas unidades, que gravam em duas memórias na mesma caixa-preta ou grava os dados em duas peças separadas, posicionadas em locais diferentes no avião."
Barros afirmou que Cockpit Voice Recorder (CVR) é o gravador de voz na cabine e captura, por meio de diversos microfones instalados na cabine. "Os sons que se passam na cabine, sejam ruídos ou vozes são gravados digitalmente em módulos na cauda."
Ele explicou ainda que a equipe de resgate deve encontrar duas fontes de informação do FDR e outras duas memórias do CVR. "É bem provável que ela tenha acesso a informações preservadas, pois são gravadas em memória flash, dentro de cilindros de titânio, que resiste a fogo, impacto e são cápsulas muito resistentes, que parecem couraças de submarino."
Segundo Barros, o FDR engloba os dados do CVR. "Se for encontrada a caixa-preta da cauda será suficiente para ter todas as informações do voo."
Simulação do acidente
Barros disse que a memória da caixa-preta é plugada em um computador que tem um software, que vai ler esses dados e reproduzir o que ocorreu com o avião. "Vai gerar uma simulação de voo na tela do computador, comk o avião voando. As panes vão sendo apresentadas na tela e, ao mesmo tempo, é possível ouvir a voz dos pilotos durante o voo."
Essas informações podem vir em tabelas para análise técnica. E a equipe de investigação será multidisciplinar e cada uma fará um relatório de acordo com cada especialidade. "Ao final, eles terão um vídeo de simulação, uma animação, que mostra se o avião gira para a direita, se a asa cai, dando para saber se o avião caiu de bico ou planou, a sequência de eventos catastróficos, qual o primeiro evento que aconteceu para o evento ocorrer", disse o especialista em segurança de voo.
"Os dados de voz da cabine gravam as últimas 36 horas continuamente. O FDR grava entre 50 a 100 horas de voo antes do evento. Dá para saber se a aeronave apresentou algum tipo de problema em outros vôos. Dá para saber se a pane que derrubou o avião já tinha aparecido em outros voos, dá para saber se uma peça específica vinha apresentando vícios e os padrões de manutenção da empresa aérea", disse Barros.
Fonte: Glauco Araújo (G1)