O lobby das companhias aéreas, que calculam as perdas em 200 milhões de dólares por dia, foi o estopim das críticas, questionando ainda os argumentos científicos sobre o perigo das partículas que fundamentaram a decisão de manter em terra os aviões e, com isso, centenas de milhares de passageiros.
"Os europeus ainda utilizam um sistema baseado em um modelo teórico, ao invés de adotar uma decisão baseada em fatos e em uma análise dos riscos", declarou em Paris o diretor da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata), Giovanni Bisignani, que manifestou a insatisfação das companhias com a gestão dos governos ante a crise.
Com a nuvem de cinzas expelida pelo vulcão da geleira de Eyjafjallajojkull, sul da Islândia, 63.000 voos foram cancelados no espaço aéreo europeu desde quinta-feira.
Passageiro aguarda no aeroporto Fiumicino, perto de Roma
As dúvidas sobre as medidas rígidas europeias surgiram no fim de semana, depois que duas companhias aéreas alemãs realizaram voos domésticos sem passageiros e afirmaram que as aeronaves não apresentaram nenhum dano.
"As companhias aéreas e os transportes europeus consideram que a segurança é uma prioridade absoluta, mas questionam a proporcionalidade das restrições impostas atualmente", advertiu a AIEA, principal associação das linhas aéreas europeias e dos administradores aeroportuários.
Aos questionamentos sobre a pertinência de fechar o espaço aéreo europeu, com um alcance sem precedentes desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, se somaram outros sobre a falta de coordenação na resposta dos países europeus, que mantêm a soberania na área de gestão aérea.
Alguns países como a República Tcheca decidiram reabrir nesta segunda-feira o espaço aéreo, mas outros mantêm as restrições.
"É um problema para a Europa. É um caos europeu. Foram necessários cinco dias para organizar uma teleconferência entre os ministros dos Transportes da União Europeia (UE)", reclamou um indignado Bisignani à BBC.
A Iata reúne 230 companhias aéreas, que representam 93% do tráfego comercial internacional.
O presidente da Fundação Schuman, um centro de pesquisas sobre assuntos europeus, Jean Dominique Giuliani, falou de uma "decisão mais motivada pelo medo do que pela ciência".
"O verdadeiro culpado seria este famoso princípio de precaução, este símbolo do medo que aterroriza os que tomam decisões e transfere toda a responsabilidade a uma potência pública?", questionou.
O recurso crescente deste princípio, que já fez os governos adotarem medidas de proibição em casos de dúvidas para não criar problemas, em particular nas áreas da saúde e meio ambiente, já provocou várias polêmicas na Europa.
Um exemplo recente foi a gestão da pandemia de gripe suína (H1N1) em 2009, que resultou em, por exemplo, campanhas de vacinação gigantescas que se mostraram inúteis em muitos casos, já que o vírus era menos contagioso que o previsto.
A crise do mal da vaca louca ou do perigo dos alimentos transgênicos também já passaram por este tipo de debate.
No caso do vulcão islandês, as autoridades justificam a decisão.
"Não acredito que as precauções sejam demasiadas. Aplicamos um método regulamentar, mas antes de mais nada de segurança", afirmou Patrick Gandil, da Direção Geral de Aviação Civil da França.
Um oficial americano informou nesta segunda-feira, em Bruxelas, que foram encontrados restos de vidro na turbina de um avião de combate F16 da Otan durante um voo na Europa ao ser indagado sobre o impacto da nuvem de cinzas vulcânicas na aviação militar.
Fonte: Yacine Le Forestier (AFP)