No dia 9 de julho de 1997, o voo 283, realizava a rota diária entre Vitória e São Paulo, em voo operado pelo Fokker 100, prefixo PT-WHK, da TAM (foto abaixo), pilotado pelo comandante Humberto Ângelo Scarel e pelo copiloto Ricardo Della Volpe. No total, estavam a bordo da aeronave 55 passageiros e cinco tripulantes.
O Fokker 100 decolou às 06h55 do Aeroporto de Vitória, com destino a São Paulo. Fez uma escala em São José dos Campos, onde 25 passageiros, entre eles o engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, entraram no avião.
A aeronave decolou às 8h30 de sua escala prevista em São José dos Campos para São Paulo-Congonhas. O trecho entre São José e São Paulo é curto e o voo dura apenas 20 minutos.
Quando atingiu nível de voo 080 (aproximadamente 2.400 metros), após 10 minutos de voo, sofreu uma súbita explosão na cabine dos passageiros, na fileira 18, poltrona 18D. A explosão abriu um buraco na fuselagem de 2 metros de diâmetro, entre os assentos 18 e 20.
O engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, que estava sentado na poltrona 18E logo ao lado, foi ejetado imediatamente para fora do avião de uma altura de 2.400 metros, a uma velocidade de 160 m/s e ao atingir o solo o impacto fez uma falha de 1 metro de diâmetro e 30 cm de profundidade, na zona rural da cidade de Suzano, onde foi encontrado.
O piloto contou que ouviu a explosão, quando apareceu no painel do avião aviso de que a porta do compartimento de bagagem estava aberta e ocorrera a despressurização da aeronave. Imediatamente, pediu aos passageiros que permanecessem sentados e com os cintos afivelados. E, seguindo os procedimentos recomendados para situações como essa, começou a operação de descida.
"Todos os passageiros se deram as mãos no avião. Todos na verdade esperando que o avião fosse cair né", contou uma passageira que presenciou o acidente.
"O que se via era terror né, os cabelos sendo puxados pra porta, pessoas grudadas na cadeira", disse outra passageira que estava no avião”, disse um dos passageiros à época.
"Passageiro segurando passageiro pra não ser sugado, pra não cair. O pessoal tava segurando uma moça que era quem tava mais próxima aí seguraram ela, mas o cabelo dela chicoteou o rosto dela o tempo todo, chegou cortar assim, o rosto dela", contou outra passageira.
Às 8h45, o comandante Scarel comunicou à torre do aeroporto de Congonhas que pousaria no nível 2 de emergência.
Apesar dos substanciais danos na fuselagem, a tripulação da aeronave conseguiu de forma bem-sucedida realizar o pouso de emergência em São Paulo-Congonhas, cerca de 11 minutos após a explosão. Os feridos foram levados a hospitais da região sul de São Paulo. Nenhum deles corria risco de vida.
"Em torno de dez minutos, aproximadamente. como eu tava no nivel 80, 2,4 mil metros, simplesmente o procedimento foi feito correto , simplesmente a aeronave estava despressurizada, não tinha o problema de cair as máscaras, por falta de ar pro passageiro, que isso é nível normal que qualquer avião voa. e efetuamos o pouso normalmente da aeronave", disse o piloto à imprensa à época.
Porém, no momento da explosão nem os passageiros nem a tripulação se deram conta de que o passageiro havia sido jogado para fora da aeronave, só tomando ciência cerca de 1h após o pouso.
O engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos era dono da Amix Integração de Sistemas, de São José dos Campos. Seu corpo foi encontrado às 8h40 da manhã numa fazenda no bairro de Tijuco Preto, município de Suzano, a 35 km de São Paulo, pela agricultora Maria Aparecida da Costa, 44 anos, que colhia repolhos a cem metros do local da queda.
Vítima caiu em plantação do bairro Tijuco Preto, em Suzano, após explosão na aeronave (Foto: TV Diário/Reprodução) |
"Parecia uma bomba. Olhei para o céu e vi alguma coisa caindo de um avião. O objeto desceu fazendo um grande chiado e se espatifou a poucos metros de onde eu estava", conta ela. "Quando em aproximei, pensei que fosse um boneco, não havia sangue em volta", acrescenta.
Maria Aparecida chamou imediatamente a polícia de Suzano que enviou uma equipe do 17° Batalhão da Polícia Militar. Às 9h10m a PM chegou ao local. "Eles desviraram o corpo que estava de bruços. Me deu até dor de barriga. As pernas haviam penetrado no corpo e havia muito sangue no chão", conta a agricultora.
O médico Renato de Macedo Pereira, legista do Instituto Médico Legal de Suzano, afirmou que o empresário pode ter morrido na queda ou no impacto. Pelo funcionamento normal do organismo, o coração funciona no ar normalmente e ele pode ter chegado vivo ao chão, como um paraquedista. Politraumatismo foi diagnosticado.
Nenhum membro foi arrancado. O corpo apresentava quadro de afundamento craniano e as fraturas mais fortes ocorreram nas costas e na região do glúteo. Não havia marcas do cinto de segurança.
Reportagem do jornal O Diário de Mogi foi uma das primeiras a chegar ao local no dia do fato (Foto: TV Diário/Reprodução) |
O Corpo de Bombeiros teve a missão de recolher todo o material para ajudar na investigação. Na época, o primeiro tenente Jean Carlos, que atuava em Suzano, foi o responsável por esse trabalho e levar o material para o Grupamento dos Bombeiros de Mogi das Cruzes para ser catalogado.
Hoje coronel da reserva aposentado, Jean, que tinha 31 anos na época do acidente, relembra detalhes daquele dia.
“Chegando lá, me ambientei pra tentar mais ou menos entender o que aconteceu junto com as guarnições, com as informações que eles já tinham lá. E daí acredito que gente já tinha recebido a informação que não havia mais vítimas, que só havia uma vítima. Naquela época era um pouco mais difícil. E aí coube então a gente começar a procurar o que caiu do avião, o que caiu de destroços, esse tipo de coisa recorrente dessa explosão. Tinha banco, o banco estava lá. Tinha partes de janela, fuselagem, metais de todo tipo, peças que eu acredito ser parte do banco, de outros bancos, não sei se mais, pedaço da fuselagem, interna, externa, pedaço de forração. Uma série de peças”, explicou o coronel da reserva.
No bolso do empresário, o Corpo de Bombeiros encontrou um bilhete da TAM, comprado com um cartão Diners Club nesta quarta para o trecho São José dos Campos São Paulo, no valor de R$ 41,79. Ele estava indo para o Rio a negócios, segundo informou o funcionário da Amix, e tomaria uma Ponte Aérea no Aeroporto de Congonhas.
A vítima da explosão, o engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, morador de São José dos Campos, era diácono de uma igreja evangélica e dono de uma empresa de tecnologia.
Destroços do avião foram recolhidos pelos bombeiros no dia da explosão (Foto: TV Diário/Reprodução) |
Segundo o capitão Falcone, do Grupamento Aéreo da Polícia Militar, que pilotou o helicóptero de busca Aguia 4, destroços do avião se espalharam num raio de três mil metros, nos arredores da fazenda onde o corpo de Campos foi achado.
A investigação da Polícia Federal e do Ministério Público descobriu que uma bomba foi colocada de forma criminosa no avião. Após investigações, apontaram como o autor do artefato explosivo e da explosão dentro da aeronave o então professor Leonardo Teodoro de Castro.
O suspeito do atentado, o professor Leonardo Teodoro de Castro |
Contudo, três dias após sobreviver à explosão, o professor foi atropelado por um ônibus na zona sul de São Paulo, perdendo substancial quantidade de massa encefálica e tendo passado quase um ano em coma na UTI do Hospital São Paulo.
Após sair da UTI ele ficou em um estado de quase demência, tendo posteriormente declarado incapaz de responder pelos seus atos na Justiça. Atualmente o professor Leonardo Teodoro de Castro vive com uma irmã em Divinópolis, Minas Gerais.
O processo pela autoria da explosão foi suspenso por tempo indefinido. Em março de 2021, a Justiça Federal declarou extinta a punibilidade do professor, por ele ter sido declarado portador de doença mental.
Por Jorge Tadeu (Site Desastres Aéreos) com Wikipedia, TV Diário, g1, ASN e Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário