O avião mais vendido no Brasil não é nem da Boeing e nem da Airbus. Apesar desses fabricantes dominarem a aviação comercial, o setor do agronegócio depende de um tipo de aeronave específica, e não são os jatinhos dos artistas sertanejos.
Cabine do Ipanema, o avião mais vendido do Brasil. Modelo é o favorito do agronegócio (Imagem: Divulgação/Embraer) |
Aviões agrícolas, dedicados ao trabalho em plantações, já ultrapassam as 2.000 unidades no país segundo dados do Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola). Entre eles, o principal é um projeto 100% brasileiro fabricado pela Embraer, o Ipanema.
Top 10
Veja o ranking das aeronaves com maior presença no Brasil:
- IPAN (Família Embraer Ipanema): 1.042 unidades
- PA34 (Piper PA-34 Seneca, EMB-810 Seneca, e outras variantes do modelo): 596 unidades
- SR22 (Cirrus SR-22): 377 unidades
- AT5T (Air Tractor AT-502, AT-503 e AT-504): 350 unidades
- BE9L (Beechcraft King Air 90, T-44 Pegasus e Jetcrafters Taurus 90): 319 unidades
- BE58 (Beechcraft Baron 58): 317 unidades
- AS50 (Helicóptero AS-350, H-125 e AS-550, o 'Esquilo'): 300 unidades
- C182 (Cessna 182 e variantes do modelo): 260 unidades
- C172 (Cessna 172 e variantes do modelo): 234 unidades
- BE36 (Beechcraft Bonanza e variantes do modelo): 211 unidades
O ranking conta apenas com os aeronaves em situação aeronavegável de acordo com dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Esses dados podem mudar diariamente conforme elas são exportadas, sofrem acidentes ou seus certificados expiram.
A lista é separada por tipo de aeronave segundo a OACI (Organização da Aviação Civil Internacional). Um mesmo designador costuma abranger diversas variantes de um mesmo modelo devido, poe exemplo, a licenciamento para outro fabricante e adaptações do projeto inicial.
O queridinho do agro
Avião Ipanema durante pulverização sobre plantação (Imagem: Divulgação/Embraer) |
Como deu para ver, o avião mais vendido no Brasil é o Ipanema. Essas aeronaves de pulverização agrícola, embora desempenhem outras funções, se tornaram uma das principais ferramentas de trabalho para o setor do agronegócio.
Hoje, quase metade da frota agrícola do país é composta pelo Ipanema. Em seguida no segmento, estão aeronaves da concorrente norte-americana Air Tractor, de maior porte.
Pedido do governo originou o Ipanema
Durante a segunda metade da década de 1960, o Brasil passava por um momento de modernização no setor rural. Não existiam muitas opções no país de aeronaves para pulverização de agrotóxicos (também chamados de defensivos agrícolas) e fertilizantes sobre as plantações.
No ano de 1969, diante desse cenário, o Ministério da Agricultura pediu ao CTA (o então Centro Técnico de Aeronáutica) que desenvolvesse uma nova aeronave para atender às necessidades que estavam surgindo. À época, o Brasil já tinha o SP-18 "Onça", desenvolvido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), mas ele não atendia às demandas do momento.
O ministério aceitou financiar o projeto, e as especificações iniciais foram definidas: Teria de ser um avião monomotor, com reservatório para produtos a serem pulverizados (também chamado de hopper) para até 580 litros e cabine fechada para o piloto não se intoxicar.
Com a fundação da Embraer, o projeto passou para as mãos da então estatal. Ali, recebeu a denominação EMB 200.
Ipanema: Avião atingiu a marca de 1600 unidades entregues desde o início de sua fabricação há 50 anos (Imagem: Divulgação/Embraer) |
Em 1973, a Embraer entregou os primeiros cinco aviões Ipanema para o Ministério da Agricultura. Em 1975, foi fechada a venda de cinco Bandeirantes e dez Ipanemas para o governo uruguaio, a primeira exportação de uma aeronave pela empresa.
Hoje, o avião é o mais longevo em produção pela fabricante brasileira. São 50 anos ininterruptos de produção, atualmente localizada em Botucatu (SP) onde antes ficava a fabricante Neiva, que foi adquirida pela Embraer na década de 1980.
Além de pulverização agrícola, ele tem outras finalidades: É usado para reboque de planadores, aplicação de fertilizantes, combate a incêndios, lançamento de alevinos em rios e lagos, semeadura, entre outros.
Nome não vem da praia
Avião Ipanema, da FAB (Força Aérea Brasileira) usado para reboque de planadores (Imagem: Alexandre Saconi) |
Desde o início, o avião foi batizado de Ipanema. O nome era uma alusão à Fazenda Ipanema, uma região localizada entre as cidades de Iperó e Sorocaba, em São Paulo.
Hoje, o local integra a Floresta Nacional de Ipanema. Ali estavam um centro de pesquisas e a primeira escola de aviação agrícola do Brasil, ambos mantidos pelo governo.
Recorde de entregas
A Embraer já entregou mais de 1.600 Ipanemas em toda história. Neste ano, a empresa espera entregar 70 unidades.
Em 2023, foram 65 aviões do modelo entregues. O recorde histórico ocorreu em 2011, com 67 Ipanemas saindo da fábrica.
Movido a álcool
Avião Ipanema, da Embraer: Modelo é o mais vendido do Brasil, com mais de 1600 unidades entregues até hoje (Imagem: Divulgação/Embraer) |
O primeiro Ipanema movido a álcool foi certificado no fim de 2004. Enquanto as versões EMB 200, 201 e 202 eram movidas a gasolina de aviação, os EMB 202A e EMB 203 saem de fábrica movidos a etanol.
Unidades mais antigas podiam receber kits para serem convertidas para propulsão a álcool. Hoje, mais de 750 Ipanemas são movidos a álcool.
Ele foi o primeiro avião a etanol a ser certificado e produzido em série no mundo. Em 2005, o modelo foi considerado uma das 50 principais tendências e uma das principais invenções do planeta pela revista norte-americana Scientific American.
Demonstrador elétrico
O modelo elétrico é uma adaptação do avião agrícola Ipanema, com mudanças nas asas para receber as baterias (Imagem: Divulgação) |
Nos últimos anos, a Embraer equipou um exemplar do Ipanema com motor elétrico e baterias de lítio. Essa aeronave serve como demonstradora e foi desenvolvida em cooperação com a catarinense Weg, empresa do ramo da fabricação e comercialização de motores elétricos.
A fabricante não pretende produzir um avião agrícola elétrico. O exemplar é utilizado para testar novas tecnologias que podem ser usadas em outros aviões.
Acidentes
Desde 2014, o avião registrou 48 acidentes com fatalidades em todo o país. Os dados são do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à FAB (Força Aérea Brasileira).
A maior parte foi em meio a plantações, em operações a baixa altitude ou em colisões com obstáculos durante a decolagem e o pouso. O tipo de operação do modelo, geralmente, em terrenos sem preparo, voando baixo e perto de algum tipo de barreira influenciam neste número de ocorrências.
Ficha técnica
- Modelo: Ipanema 203
- Combustível: Etanol
- Comprimento: 8 metros
- Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 13,3 metros
- Peso: 1.900 kg
- Capacidade do tanque de combustível: 292 litros
- Consumo: 98,4 litros de combustível por hora de voo
- Velocidade: Cerca de 210 km/h
- Alcance: Até 938 km
Via Alexandre Saconi (Todos a Bordo/UOL)
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