sábado, 29 de outubro de 2022

Brasileiro conta como é voar na 'pior’ e na ‘melhor’ companhia aérea

Apaixonado pela aviação e por viagens, Mike Weiss já passou por 158 países e relata sua percepção de viajar na ‘pior’ e na ‘melhor’ companhia aérea do mundo.

Mike na área do Neko Harbour, na Antártica e com o Ocean Endeavour ao fundo
(Imagem: Reprodução/Instagram @mikeweissaonde)
O catarinense Mike Weiss, de 39 anos, já viajou para mais de 150 países e tem "currículo" suficiente para dizer exatamente qual é a pior e a melhor companhia aérea para voar. Ele iniciou sua trajetória de mochileiro na juventude, aos 17 anos, em países da América do Sul, como Peru, Bolívia, Argentina e Chile. Ao iG Turismo , ele aborda um pouco como foi a experiência de viajar na "pior" e na "melhor" empresa do mundo, de acordo com a Skytrax.

A Skytrax é uma empresa de consultoria do Reino Unido, responsável por divulgar um ranking em que aponta as melhores e as piores companhias aéreas do mundo. Em diversos anos, a empresa aérea estatal da Coreia do Norte, a Air Koryo , ocupou a última posição dessa lista e até hoje foi a única a receber apenas uma estrela na avaliação, em uma escala que vai até cinco. Isso fez com que a companhia fosse reconhecida como a “pior do mundo".

A pesquisa é feita com um especialista que vira um “simples cliente” da companhia aérea avaliada e considera, por exemplo, a qualidade dos serviços de bordo e a estrutura de seus aviões.


Neste ano, a companhia Air Koryo não apareceu no ranking, mas segue na história como sendo a única com uma estrela.

Weiss, apaixonado pela área da aviação — tanto que trabalha na mesma área —, relembra que quando viajou pela Air Koryo, não sentiu que ela fosse de fato a pior, como diziam. Isso porque ele já realizou duas viagens com a empresa norte-coreana, com uma passagem de ida e volta entre a China e Pyongyang, a capital do país.

Em seu trajeto, teve a rota de ida entre Pequim e Pyongyang, com o voo realizado em uma aeronave Tupolev fabricada na Rússia em 2009. E o voo de volta foi entre a capital norte-coreana e Xangai, em um avião Antonov fabricado na Ucrânia em 2013. Tendo como duração cada voo de, aproximadamente, duas horas.

Como é apaixonado pela aviação, ele decidiu “se arriscar” na Air Koryo, pois poderia ter ido à Coreia do Norte de trem desde a China, como muitos viajantes. Mas, preferiu adquirir esta experiência em sua bagagem de mochileiro, visto que já viajou para 158 países.

“Estou envelhecendo um mochileiro. Acho que, independentemente, se uma pessoa viaja com mala ou uma mochila, ou com qualquer outro tipo de bagagem, ser mochileiro é um estilo de viagem, é um estilo de vida. Então viajo, sim, de uma forma econômica e que me força ter contato com as pessoas dos lugares por onde passo. Acredito que o fator importante da viagem e que para mim conta muito, é conhecer as diferentes culturas, conhecer o ‘mindset’ das pessoas, o que elas pensam, por que elas pensam dessa forma? Então, para mim, ser mochileiro, não é só visitar um lugar”, explica.

A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece 193 países internacionalmente, ou seja, faltam apenas 35 países para que Mike tenha passado por todos. Mas, ele enfatiza que “já passei por todos os países que gostaria de ir antes de morrer” brinca.

Porém, entre os que faltam, ele cita três que ainda tem vontade de ir: Papua-Nova Guiné , Congo e Palau , um arquipélago no oceano Pacífico.

Air Koryo é a pior do mundo?


Em sua experiência com a Air Koryo, ele destaca os pontos que mais marcaram e que, embora fossem ruins, não foi nada imperdoável. “Não posso dizer que a Air Koryo é a pior companhia aérea do mundo, acho injusto. Mas, posso dizer que tive experiências péssimas em companhias aéreas em pequenas regiões da África, mas não gosto dessa palavra ‘pior’, porém sinto que algumas companhias áreas dessa região estão menos preparadas”.

Ele cita alguns lugares, como Djibouti, Moçambique e o interior de Zimbábue. Mas, para ele, a sua pior experiência foi em uma empresa de Djibouti , enquanto viajava na Somália.

“Tive uma experiência ruim porque, primeiro, eles só aceitavam a compra em moeda local, não aceitava um cartão, então aí já começou a ser uma experiência atribulada, depois no aeroporto a fila do check-in era totalmente desorganizada. Chegavam pessoas que pulavam a fila, talvez pela importância por serem políticos, não sei. Mas isso já demonstrou uma falta de organização. Depois, o embarque foi muito desconfortável, não tinha uma ponte direto para o avião. Então, todo mundo andava no meio da pista com pouca segurança, algumas pessoas nem sabiam para onde estavam indo. Além disso, tinha gente passando por debaixo da asa do avião, a qual é uma área que deve ser isolada por questão de segurança, depois a própria escada do avião não estava muito firme”, explica.

A aeronave em que ele viajou era um Fokker 100 , um antigo avião utilizado pela TAM, que hoje é conhecida como Latam . A mesma aeronave foi usada no acidente que matou mais de 95 pessoas no Brasil, no voo 402 em 31 de outubro de 1996. Enquanto decolava de São Paulo, o reversor de empuxo de um dos motores foi acionado, fazendo com que a aeronave perdesse velocidade e sustentação, caindo na Rua Luís Orsini de Castro.

Enquanto viajava na Somália, ele percebeu que o avião mantinha ainda alguns símbolos da TAM na fivela de cinto de segurança. E era um avião muito utilizado, no final da vida dele.

“Tinha partes do interior que não estavam cobertas, as paredes já expunham alguns fios e cabos, os acentos também já estavam completamente deteriorados e não estavam firmes. A questão da segurança foi o que mais me preocupou, não foi nem o conforto em si. Porque eu realmente não sabia como havia sido feita a manutenção daquela aeronave, e não sabia das condições que os motores estavam, pois se estivessem na mesma condição que a estrutura interna, poderia virar uma catástrofe. E eles também armazenaram as malas em frente da saída de emergência, elas estavam empilhadas lá como se realmente fosse um espaço adequado, o que me deixou bastante preocupado”, narra.

Além disso, em outra experiência, dessa vez na companhia aérea de Moçambique, ele recebeu sua bagagem despachada encharcada de sangue de cabra.

Todavia, ele retoma com os pontos que mais marcaram ele em sua experiência na Air Koryo, que iniciou antes mesmo da viagem.

A passagem aérea da empresa foi adquirida junto com um pacote turístico completo para a Coreia do Norte, que também incluía o visto de entrada no país, hospedagem, traslados, alimentação e serviço de guia no destino.

Visto para a Coreia do Norte de Mike (Imagem: Reprodução/Instagram @mikeweissaonde)
Porém, alguns dias antes do embarque, a Air Koryo cancelou, sem nenhuma explicação, o voo de volta de Mike, entre Pyongyang e a China.

Isso gerou uma grande preocupação, pois ele não conseguiria entrar no país se não tivesse uma passagem para ir embora de lá depois que sua viagem terminasse. Mas, por sorte, isso foi resolvido três dias antes do embarque.

Após passar por um check-in rápido, o brasileiro se dirigiu ao avião da Air Koryo que o levaria à Coreia do Norte. Na entrada, os passageiros podiam pegar, gratuitamente, exemplares em inglês do "The Pyongyang Times" , jornal controlado pelo governo norte-coreano e que deveria ser manuseado com muito cuidado.

Ele descobriu na hora que não se deve dobrar o jornal nas páginas onde figuras importantes da Coreia do Norte aparecem. Muito menos jogar a publicação no lixo, porque isso pode ser visto como um ato desrespeitoso contra os representantes do país.

Para sua surpresa, o avião estava limpo e tocava uma música clássica de trilha sonora. Além disso, as comissárias eram todas mulheres e estavam com blazer vermelho, camisa branca, cabelos presos e maquiagem discreta.

Mike enfatiza que o avião era confortável, mas que as luzes de leitura individuais e o botão para chamar as comissárias não funcionavam. Além disso, sempre havia a atmosfera em prol do governo norte-coreano, que adota o socialismo, e seu representante Kim Jong-un.

Mike no Grande Monumento da Colina Mansu, o principal ícone de Pyongyang
(Imagem: Reprodução/Instagram @mikeweissaonde)
Na hora da refeição, foi servido aos passageiros um misterioso hambúrguer, que era formado por duas fatias de pão insossas, uma única folha de alface escuro, três fios de repolho roxo e uma carne fria sem sabor. Para ajudar a engolir o hambúrguer misterioso, Mike recebeu um copo de água e talheres de plástico, além de uma toalhinha umedecida.

Como é viajar na melhor companhia aérea?


Neste ano, a Skytrax nomeou a Qatar Airways como a “melhor” companhia aérea do mundo. E, como Mike tem um enorme currículo de viagens, ele também já viajou nela, além de outras que estão sempre na frente , como a Singapore Airlines e a Emirates.

“Fiz vários voos a trabalho e a lazer com a Qatar. Inclusive, no começo da pandemia, foi a Qatar quem me resgatou do Paquistão, fiz uma viagem do Paquistão para Doha e de Doha voltei para minha casa, em Lisboa. A minha experiência com eles foi muito boa. Mas, sinto que a Qatar tenha pecado um pouco na pandemia e pós-pandemia na organização, na questão de bagagens. Vejo um declínio na qualidade da Qatar e de várias outras companhias aéreas que estão vivendo um momento muito difícil, porque eles perderam vários funcionários que eram qualificados, ou até mesmo demitiram, e agora estão readmitindo muitas pessoas e esse novo ciclo está sendo refletido na qualidade”.

Para ele, todas as empresas classificadas como melhores do mundo, ele acha boa, até na classe econômica. Porém, ele defende que a diferença entre a “melhor do mundo” com as outras companhias aéreas medianas na classe econômica não é tão gritante.

“A classe econômica está cada vez mais restrita, independentemente da companhia, e a gente tem cada vez um serviço mais básico. Então, para mim, a diferença entre a "melhor do mundo" para as medianas não é tão absurda. Por isso, gosto muito das companhias aéreas de baixo custo, as ‘low cost’, que entregam o que prometem, ou seja, um valor muito baixo, e se você quiser alguma comida ou qualquer outro luxo no voo, você paga para isso, mas se você não quiser você não precisa pagar”.

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