No projeto, o copiloto auxilia do solo. Aviões comerciais voam hoje com dois pilotos. No passado, eram exigidos três.
Diante de uma potencial escassez de pilotos de avião e de importantes avanços na automação, pesquisadores do setor aéreo e do governo americano começaram a considerar seriamente o desenvolvimento de jatos capazes de operar com apenas um piloto.
Todos os grandes aviões comerciais de passageiros e serviços de carga hoje voam com pelo menos dois pilotos na cabine de comando. Um novo estudo da Nasa, a agência aeroespacial americana, e da Rockwell Collins Inc. se concentra na ideia provocadora de que os copilotos devem permanecer no chão, ajudando remotamente aviadores solitários na cabine de comando durante os trechos mais difíceis do voo, diz John Borghese, vice-presidente do Centro de Tecnologia Avançada da Rockwell.
O sucesso do conceito vai depender não só de sua viabilidade técnica, mas também de disposição política e aceitação social. Os pesquisadores não estão endossando o conceito ou desenvolvendo planos específicos para a operação de grandes aviões comerciais com um único piloto. Eles estão, na verdade, buscando analisar as mudanças na tecnologia e nas operações que podem tornar o conceito viável no futuro — mesmo que seja tão distante quanto 2030.
Dos elevadores sem operador lançados há mais de meio século aos avanços dos carros que não precisam de motoristas, a mobilidade humana está se tornando cada vez mais automatizada. O estudo da Nasa reflete não só uma ambição tecnológica, mas preocupações mais práticas: muitas autoridades do setor aéreo temem que a oferta mundial de pilotos se reduzirá nos próximos 20 anos, enquanto o volume de viagens aéreas deve dobrar.
A redução da tripulação na cabine de grandes aviões de carga ou de passageiros — ou mesmo a eliminação total de um piloto — têm sido tópicos de discussões teóricas entre autoridades do setor e pesquisadores por muitos anos. A iniciativa da Nasa é significativa porque eleva a importância do conceito e sinaliza que os técnicos da agência aeroespacial estão convencidos de que ele é digno de mais pesquisa.
O contrato de quatro anos e cerca de US$ 4 milhões foi dado à Rockwell no início do ano, mas a primeira fase só será anunciada hoje. Ela inclui a realização de simulações, a definição de onde a tecnologia é necessária e até testes de voo. A Nasa prevê que os testes da Rockwell devem gerar novos estudos por uma gama de outras empresas e especialistas.
Dentro do conceito estudado pelos pesquisadores, aviadores no solo poderiam ser responsáveis por auxiliar pilotos solitários na cabine de comando de vários aviões, dando assistência virtual durante os períodos mais necessários num espaço aéreo congestionado, durante as manobras de aproximação e aterrissagem ou se algo sair errado.
O estudo sobre como esse conceito pode ser aplicado em grandes aviões “é uma área razoavelmente nova”, diz Parimal Kopardekar, gerente do programa, que está sendo desenvolvido pelo centro de pesquisa Ames da Nasa, na Califórnia.
Uma mudança radical não deve acontecer em breve, e há um consenso de que a redução da tripulação para aviões de passageiros não será considerada até que ela seja lançada primeiro no setor de cargas. Segundo especialistas e autoridades do setor, é improvável que isso ganhe força muito antes do fim da próxima década.
Os aviões hoje são desenhados para ter dois pilotos nos controles, e reformular aviões existentes “pode ser muito caro e talvez muito difícil” para se obter aprovação regulatória, diz Kopardekar, da Nasa. Autoridades do setor dizem que seriam necessários aviões totalmente novos com cabines de comando criadas com apenas um piloto em mente.
O sistema internacional de aviação atingiu níveis incomparáveis de segurança e confiabilidade, em parte devido à maior automação e a padrões globais amplamente aceitos de comportamento e cooperação na cabine.
Estudos iniciais de voos com um só piloto no ar e outro no solo revelaram que a separação frequentemente gera confusão sobre o que o outro está fazendo.
A Boeing Co. e a Airbus Group desenharam aviões nos anos 70 cada vez mais automatizados, eliminando um terceiro membro da tripulação de cabine, que costumava ser responsável pelo monitoramento da navegação e dos vários sistemas da aeronave.
Avanços contínuos na automação da cabine e uma melhoria das habilidades de aeronaves não tripuladas transformaram as tecnologias necessárias para operações de companhias aéreas com um menor número de pilotos.
“Fundamentalmente, não é mais uma questão de engenharia”, diz Richard Healing, ex-membro do Conselho Nacional de Segurança do Transporte dos Estados Unidos. “O debate real é sobre como os reguladores e a opinião pública reagirão a essas mudanças, antes impensadas.
Há cerca de 10 anos, a FedEx Corp. abordou informalmente a ideia de reduzir a tripulação de seus aviões de carga de três para dois pilotos em rotas de mais de oito horas sobre águas.
A empresa abandonou a ideia, disseram autoridades do governo na época, basicamente por causa da oposição do sindicato. A Associação dos Pilotos de Companhias Aéreas e a FedEx não quiseram comentar.
A discussão inicial nasceu de um desejo de cortar custos, mas o estudo mais recente da Rockwell é parcialmente inspirado na estimativa de uma escassez de pilotos. A Boeing calcula que serão necessários 533 mil novos pilotos de aviões comerciais nos próximos 20 anos, à medida que o número de milhas voadas dobra. A fabricante de aviões vem alertando que a disponibilidade de pessoal pode não ser suficiente.
Analistas, grupos de trabalho e acadêmicos argumentam que qualquer escassez de pilotos é resultado da falta de disposição do setor de pagar bons salários a eles. A Boeing não quis comentar o estudo da Nasa com a Rockwell.
Fonte: Jon Ostrower e Andy Pasztor (Bloomberg News) - Imagens: Reprodução
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