domingo, 10 de janeiro de 2010

Atentado frustrado: o que os EUA sabiam sobre a conspiração da Al-Qaeda

Agentes americanos haviam reunido nos últimos meses indícios sobre a preparação de um atentado da Al-Qaeda fora do Iêmen e se dispunham a agir, mas não obtiveram a informação mais relevante.

A Inteligência informou que desde agosto de 2009, quando a Agência de Segurança Nacional (NSA) começou a interceptar conversações entre agentes da Al-Qaeda e o Iêmen, houve uma série de sinais reveladores sobre o frustrado atentado de 25 de dezembro contra um avião comercial.

A Agência captou, então, uma conversação na qual se mencionava o recrutamento de um nigeriano para praticar um atentado, informou o New York Times.

No mesmo mês, a Al-Qaida mostrou sua força no Iêmen, enviando de lá para a Arábia Saudita um camicase para matar o encarregado da luta contra o terrorismo, o príncipe Mohammed ben Nayef ben Abdel Aziz.

O atentado fracassou, então, mas o governo saudita teria informado ao principal conselheiro da luta contra o terrorismo do presidente Barack Obama que o homem teria escondido um poderoso explosivo em sua roupa íntima, o mesmo método utilizado pelo jovem nigeriano em pleno voo, no dia 25 de dezembro.

Em setembro, Michael Leiter, diretor do Centro Nacional de Luta contra o Terrorismo (CNTC), advertiu durante uma audiência no Parlamento que a rede de Osama bin Laden estava solidamente instalada no Iêmen.

Semanas mais tarde, o pai de Umar Faruk Abdulmutallab, o nigeriano acusado de tentar fazer explodir o avião entre Amsterdã e Detroit, alertou a diplomacia americana sobre a radicalização de seu filho e de seus vínculos extremistas no Iêmen.

Foi transmitido, então, seu nome às agências de Inteligência americanas, entre estas a CNTC, que o inscreveram numa ampla lista de pessoas suspeitas de vínculo com o terrorismo, afirmam os encarregados.

No entanto, em virtude de o pai de Abdulmutallab não ter mencionado a possibilidade de um atentado, o nome de Umar Faruk não foi acrescentado à lista de pessoas a quem se proíbe de voar aos Estados Unidos. Ninguém reagiu ao fato de que possuía um visto.

Enquanto isto, Washington se preocupava cada vez mais com as ameaças de atentado procedentes do Iêmen. A meados de dezembro, os Estados Unidos ordenaram dois ataques com mísseis contra acampamentos de treinamento da Al-Qaeda nesse país, informou a imprensa.

Mas, as autoridades americanas não tinham, então, informações sobre Umar Faruk Abdulmutallab que teriam contribuído para impedir sua tentativa de atentado.

No mesmo período, o jovem comprou sua passagem de avião com dinheiro vivo em Gana.

No dia 25 de dezembro, embarcou em Amsterdã a bordo do voo 253 da companhia Northwest com destino a Detroit.

Quando o avião já havia decolado, a polícia americana de fronteiras viu seu nome numa base de dados de suspeitos, da que fazem parte outras 500.000 pessoas, segundo uma autoridade. Os Estados Unidos pretendiam interrogar Abdulmutallab quando chegasse a seu território, seguindo o procedimento padrão.

Para a Casa Branca, o problema não é a falta de informação, em si, mas a incapacidade de estabelecer um vínculo entre os desígnios da Al-Qaeda e as inquietudes despertadas por Abdulmutallab.

A Inteligência "não é uma ciência, é uma arte", opina Bruce Riedel, quem trabalhou na CIA e é especialista em antiterrorismo do instituto Brookings.

"Passado o assunto, sempre aparece como lógico. Os indícios convergem. Mas, no mundo real, não é tão simples", afirma.

Fonte: AFP

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