quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A400M, projeto militar europeu, em risco

Os líderes europeus são desafiados a intervir, impedindo os crónicos adiamentos do maior projecto militar europeu, o avião de transporte pesado A400M. Em causa estão as ambições militares dos “27” e cerca de 30 mil empregos.

O alerta partiu de senadores franceses, que estão preocupados com os custos de novos adiamentos no projecto, orçado em 20 mil milhões de euros.

Os membros do Senado francês já mostraram a intenção de enviar um relatório de 90 páginas ao Presidente Nicolas Sarkozy, com a situação detalhada do programa liderado pela Airbus.

“Se queremos salvar o avião, os Governos têm de se envolver, para além dos Parlamentos. Pedimos ao Presidente que se empenhe neste dossier”, explica Josselin de Rohan, senadora do UMP.

O relatório aponta o dedo à EADS, parceira da Airbus, pelos atrasos, motivados pelo empenho noutro projecto: o do chamado Superjumbo, o A380. Por outro lado, desmente o argumento da empresa de que os atrasos estão relacionados, apenas, com o fornecedor de motores.

A EADS diz que o A400M está atrasado três a quatro anos e que a produção inicial deverá ser desacelerada, com uma maior partilha dos riscos do projecto.

O relatório não explica quanto custaria um novo adiamento, mas lembra que já foram gastos 5 mil milhões de euros no desenvolvimento do projecto por parte dos sete países da NATO que apostaram forte no A400M: França, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Bélgica, Luxemburgo e Turquia.

E acabar com o projeto?

O presidente da Comissão Financeira do senado francês, o ex-ministro das Finanças Jean Arthuis, diz que seria “impensável” dar uma machadada no projecto, numa altura em que se dão apoios extra à banca e à indústria automóvel. Teria um “impacto desastroso ao nível social e económico”.

Londres já ameaçou abandonar o projecto do A400M a menos que seja apressada a entrega dos seus aviões, mas a França não parece disposta a abdicar de algumas das suas unidades em favor dos britânicos, numa altura em que se prepara para regressar ao comando da estrutura da NATO.

De acordo com uma fonte ligada ao projecto, está previsto no acordo que os Governos destes sete países podem cancelar as suas encomendas se os primeiros voos forem feitos mais do que 14 meses após a data prevista. O problema é que essa data nunca foi revelada, apesar de a Airbus já terá avançado publicamente que teria o aparelho a voar em Janeiro de 2008, o que não aconteceu.

O relatório contradiz o argumento da indústria de que o projecto se atrasou irremediavelmente com a recusa em equipar o A400M com os motores canadianos Pratt & Whitney, escolhidos pela Airbus.

Os britânicos da Rolls-Royce, em conjunto com os franceses da Safran e outras empresas espanholas e alemãs foram convidados a criar e produzir o maior motor de avião construído no Ocidente para preservar milhares de empregos, em detrimento da proposta da Pratt & Whitney.

A Airbus diz que o consórcio falhou na entrega de software para o motor, embora os construtores do motor neguem.

O relatório enumera também problemas noutros componentes básicos, considerados tão importantes como a questão dos motores. É citada a questão do Sistema de Gestão de Voo, o “cérebro” do avião, fornecido pelo grupo francês de electrónica militar Thales, bem como o sistema de GPS, fornecido pela Safran através da sua filial Sagem. Ambos têm de ser simplificados, diz o relatório.

De acordo com o Financial Times, os atrasos crónicos já motivaram desentendimentos entre os espanhóis na EADS (que até agora controlava o projecto do A400M) e a direcção da Airbus em Toulouse, que tomaram entretanto o rumo do projecto.

Fonte: Rádio Renascença (Portugal)

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