quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

CIA: Dinamarca pede explicações aos EUA sobre vôos

O ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês vai pedir explicações aos Estados Unidos sobre numerosas escalas de aviões da CIA na Gronelândia, território dinamarquês ultramarino, reveladas quarta-feira à noite num documentário da principal cadeia de televisão dinamarquesa, DRI.

Segundo este programa, "as ligações dinamarquesas da CIA", a central de espionagem norte-americana utilizou secretamente durante anos o espaço aéreo e os aeroportos da Gronelândia como ponto de trânsito para os seus aparelhos.

Estes aviões, explorados por sociedades fictícias, terão participado no programa de transferência de pessoas suspeitas de terrorismo, raptadas e enviadas à margem de qualquer legalidade para o Egipto, Jordânia, Roménia e Afeganistão.

"Há neste filme indícios que eu não vi antes e que mostram que os norte-americanos utilizaram aviões privados como aviões de Estado, é claro que é inaceitável, e vamos falar como os norte-americanos sobre este assunto", declarou à DR1 o ministro dos Negócios Estrangeiros, Per Stig Moeller.

"O que podemos dizer aos americanos é que eles fizeram promessas (de respeitar as convenções aéreas internacionais) que aparentemente não respeitaram. E queremos ter explicações sobre este ponto", acrescentou.

"Nem o espaço aéreo dinamarquês nem o espaço da gronelandês podem ser utilizados em violação das convenções" internacionais, sublinhou.

Um dos dois representantes da Gronelândia no parlamento dinamarquês, Lars Emil Johansen, do partido Siumut no poder, exigiu quarta-feira na televisão "uma investigação profunda" às violações do território gronelandês.

Todos os partidos do centro e de esquerda do parlamento dinamarquês exigiram desde o ano passado uma investigação independente aos voos da CIA na Dinamarca.

Mas o governo liberal-conservador e o seu aliado o Partido do Povo dinamarquês (extrema-direita) que lhe assegura uma maioria, sempre se opuseram a isso.

Johansen declarou que não confiava no governo de Copenhaga, um dos fiéis aliados de Washington, para fazer luz sobre todo este caso.
"A história mostra que a Dinamarca nos enrola quando se trata da utilização da Gronelândia na sua política de segurança", disse.

As estatísticas da aviação civil gronelandesa indicam que um terço dos 35 aviões privados operados por conta da CIA e suspeitos de transporte de prisioneiros pelo Conselho da Europa aterraram durante anos no aeroporto de Narsarsuaq, no sul da Gronelândia.

Entre finais de 2001 e fim de 2005, aviões operados pela CIA efectuaram mais de um milhar de escalas, essencialmente logísticas, fora de qualquer controlo, nos aeroportos europeus, segundo uma contagem provisória do relator do parlamento europeu, Claudio Fava, divulgada em 2007.

Enquanto isto, em Lisboa, o primeiro-ministro José Sócrates, garantiu quarta-feira na Assembleia da República que o governo português nunca foi consultado ou autorizou a passagem por Portugal de aviões dos serviços secretos norte-americanos que transportaram prisioneiros suspeitos de terrorismo.

Respondendo a uma pergunta feita no hemiciclo pelo deputado do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, José Sócrates afirmou ter consultado "todos os membros do Governo com responsabilidade neste domínio" e concluído que "o Governo português nunca foi consultado sobre essa possibilidade ou autorizou" o sobrevoo do espaço aéreo nacional ou aterragem na base das Lajes de aviões transportando prisioneiros.

Francisco Louçã aludia ao relatório de uma organização de direitos humanos que há dias foi divulgado e acusa o Estado português de ter permitido o transporte de prisioneiros para a base norte-americana de Guantanamo, em Cuba, onde são mantidos os suspeitos de terrorismo.
Sócrates repudiou o relatório, afirmando que "não ajuda à verdade e é profundamente mistificador".

"Eu rejeito e refuto em absoluto a acusação infundada ao nosso país, de que Portugal ajudou ou apoiou qualquer transporte de prisioneiros", declarou o primeiro-ministro.

Sócrates acrescentou que no Ministério dos Negócios Estrangeiros "não há nenhum registo que nos dê ideia de que tal tivesse acontecido".

Fontes: Diário Digital / Lusa

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