A restrição ao crédito no mercado internacional começa demonstrar seus efeitos em empresas de perfil exportador no Brasil. Uma delas é a Embraer, que sentiu uma redução da demanda por aeronaves depois de setembro. Apesar disso, a companhia considera que teve um bom ano de vendas e vai encerrar 2008 com mais de 200 unidades entregues. Segundo o presidente da companhia, Frederico Curado, a Embraer fechou contratos para vendas de aviões cujo valor chega a US$ 7 bilhões, soma superior à previsão feita pela companhia no início deste ano.
Para 2009, disse o vice-presidente de aviação executiva da Embraer, Luiz Carlos Affonso, a empresa espera vendas menores e conseqüentemente redução no backlog, ou seja, os pedidos que estão em carteira. Segundo dados da companhia, até esses contratos até o final do terceiro trimestre de 2008, somavam US$ 21,6 bilhões.
Curado afirmou que há clientes pedindo adiamento de entrega. O executivo explicou que seus clientes estão predominantemente no exterior e que são empresas que dependem de acesso a crédito de longo prazo, capital que não estão encontrando em função da recessão já detectada em países da União Européia e nos Estados Unidos, mercados que responderam, até o terceiro trimestre de 2008, por 17,23% e 45,11% da receita obtida pela companhia, respectivamente. "Houve casos de clientes que já haviam feito depósitos e tiveram que desistir da aquisição", revelou.
Apesar desse cenário, o presidente da Embraer afirmou que a empresa não inclui financiar seus clientes em seus planos para 2009. Segundo ele, o trabalho se dá com análise individual de cada caso e dependendo da decisão, poderá realizar empréstimo-ponte de curto prazo.
Curado diz que olha com muita preocupação para o cenário externo e as fontes de financiamento. Segundo ele, existiam cerca de 30 instituições financeiras que trabalhavam com aviação e que agora esse número não passa de oito.
Cenário positivoPara o analista de transporte do Santander, Caio Dias, o ano que vem será desafiador para a empresa, já que a atividade aeronáutica é sensível à conjuntura econômica mundial. "Apesar disso, a perspectiva para a Embraer é positiva, em tempos de crise as empresas aéreas buscam mais eficiência operacional, que pode ser obtido pela renovação de frota", disse ele.
"A crise chegou em uma hora positiva para a empresa, pois a carteira de pedidos é confortável e como a receita é contabilizada apenas na entrega da aeronave, a empresa tem muita gordura para queimar", afirmou. A receita da empresa deverá cair um pouco já que a previsão de entregas foi reduzida e a Embraer contabiliza nos resultados apenas quando há a entrega da aeronave, pois o pagamento é feito nessa ocasião.
Outro fato citado pelo analista é o tipo de produto da Embraer, cuja capacidade está situada em 100 lugares por aeronave. Dias explica que a retração da economia gera uma queda natural na demanda por assentos. Aeronaves Boeing ou Airbus que cuja capacidade é mais elevada aumentam os custos operacionais, o ideal para essas empresas seria lançar modelos menores no mercado.
Porém, essa não é uma atividade simples. Segundo, o vice-presidente de Aviação Comercial para a América Latina da Embraer, Alex Glock, que assumirá a partir de 2009 a regional que atua no Sudeste Asiático, é mais fácil para uma empresa desenvolver um avião e aos poucos aumentá-lo do que o caminho inverso. "Foi assim que conseguimos aumentar nosso portfólio de produtos e alcançar essa posição confortável com aeronaves que permitem melhor custo de operação", disse.
Outro assunto que Curado abordou durante o encontro com jornalistas foi a possibilidade de demissões em função da retração de pedidos. Ele disse que a Embraer não está pensando nesse assunto atualmente, mas há o monitoramento da situação e que se for necessário, em 2009, para garantir a sobrevivência da empresa no longo prazo, isso será feito.
Para 2009 o orçamento demorou cerca de 45 dias para ficar pronto, mesmo sem revelar os números, o executivo disse que os investimentos serão mantidos, pois a empresa pensa também em longo prazo. No início de 2008 a empresa havia divulgado que investiria cerca de US$ 1 bilhão até 2009. Até setembro, a empresa já havia aplicado US$ 244 milhões em pesquisa e desenvolvimento e US$ 163 milhões em imobilizado.
Fonte: DCI