segunda-feira, 28 de julho de 2014

Perito brasileiro diz que há elementos do voo MH17 que nunca serão recuperados

Bloqueio prejudicou trabalho na Ucrânia, diz perito brasileiro.



O perito brasileiro da Interpol Carlos Eduardo Palhares, do grupo de identificação das vítimas do voo MH17, afirmou nesta segunda-feira (28) à Folha que o bloqueio do acesso ao local dos destroços prejudicou a identificação dos corpos e, em tese, a investigação da tragédia no leste ucraniano.

"Se do lado do corpo é encontrado um passaporte e isso é anotado, o corpo pode estar até numa condição ruim, mas é possível fazer uma vinculação com uma biografia. Mas isso não ocorreu; não veio nada que vincule os passageiros", explicou.

Membro da Polícia Federal, Palhares preside a coordenação do DVI (Identificação de Vítimas de Desastres) da Interpol e integra a força-tarefa internacional para investigar a queda do voo da Malaysia Airlines, no dia 17. É a primeira vez que ele fala sobre o assunto.

"Em teoria, do ponto de vista de investigação, perderam-se vários elementos que nunca vão ser recuperados. Quais são? Não sei, porque se perderam", disse.

Embora sua função seja ligada à identificação dos corpos (há um grupo específico para investigar a causa da queda), o perito disse que, em teoria, seu trabalho pode ajudar na apuração do que levou à derrubada do Boeing. Os rebeldes pró-Rússia são acusados de derrubar o avião com um míssil.

"O corpo no geral pode trazer informação referente às causas do acidente. Por suposição, se foi uma explosão, os corpos que estavam mais próximos vão sofrer mais na pressão. Pelo exame dos corpos, em teoria, é possível tirar algumas conclusões a respeito da dinâmica do acidente", explicou o brasileiro. 

Segundo ele, é fundamental a preservação da área da queda de qualquer avião por se tratar, num primeiro momento, da "cena do crime". "E só há uma chance de fazer um trabalho bem feito, que é a primeira vez. Se num primeiro momento você não faz, já é ruim. E aquela informação que você não pegou não pega nunca mais", disse.

São cerca de 200 especialistas hoje atuando em Amsterdã –o voo saiu de lá para Kuala Lumpur (Malásia) e tinha 193 holandeses. Nas palavras do perito brasileiro, a operação montada na Holanda é "fora do comum".

Os corpos dos passageiros, 298 no total, foram recolhidos pelos separatistas pró-Rússia que controlam a área dos destroços. Investigadores internacionais, inclusive os peritos, foram impedidos de chegar ao local, na região de Torez, a 70 km de Donetsk.

"Esse recolhimento dos corpos deveria ter sido sistematizado. O acesso à cena num primeiro momento teria sido muito importante, mas isso não ocorreu. A identificação vai acontecer, mas vai demorar mais tempo. Isso não é irremediável", ressaltou Palhares, 38, que trabalhou em recentes acidentes no Brasil: o da TAM em 2007 e o da Gol, um ano antes.

O perito brasileiro e outros especialistas tiveram de aguardar a chegada dos corpos na cidade de Kharkov, sob poder do governo ucraniano. "Fui para lá para uma missão de diagnóstico, analisar a cena, o que vai ser necessário para recolher os corpos com segurança, armazená-los, para depois identificar, mas isso não foi feito. Então só preparamos os corpos para ir para Amsterdã, onde estão sendo examinados", contou.

Para ele, porém, apesar de todos os problemas, a identificação das vítimas vai ocorrer, mesmo que demore meses. A Interpol trabalha com três metodologias: DNA, arcada dentária e impressão digital. Ele destaca o sucesso na identificação dos 154 passageiros do voo 1907 da Gol, que caiu em 2006 no Brasil, como exemplo de trabalho de identificação, o que ajudou a levar o país a presidir o grupo da Interpol.

Fonte: Leandro Colon (UOL Mundo) - Foto: Reprodução

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