quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ônibus espaciais: o fim de uma era

Dia 26 de maio passado o ônibus espacial Atlantis pousou no Centro Espacial Kennedy, na Flórida (EUA) depois de uma bem sucedida missão de 12 dias à Estação Espacial Internacional. Esse foi o 32º voo do Atlantis ao espaço. A menos que tenhamos uma emergência espacial nos próximos meses, o Atlantis não mais deverá voar. A Nasa (Agência Espacial Norte Americana) está aposentando os ônibus espaciais. Em setembro se dará o último voo do Discovery e em novembro o último voo do Endeavour. O Atlantis voará novamente apenas em caso de emergência nessas duas últimas missões programadas. Estamos chegando ao fim da “era dos ônibus espaciais”.

As missões dos ônibus espaciais, nos primeiros anos de funcionamento, objetivaram colocar sondas e satélites no espaço (incluindo o Telescópio Espacial Hubble); fazer a manutenção do “Hubble”; etc. Nos últimos anos os ônibus espaciais se concentraram em levar suprimentos; astronautas e peças à estação Espacial Internacional.

O primeiro ônibus espacial a atingir o espaço foi o Columbia, lançado em 12 de abril de 1981. De lá pra cá já foram realizadas 132 missões, assim distribuidas: Columbia 28; Challenger 10; Discovery 38; Atlantis 32 e Endeavour 24. Contando com as duas missões futuras, os ônibus espaciais serão aposentados após 134 missões; nem todas bem sucedidas.

A história dos ônibus espaciais foi marcada por duas grandes tragédias. Dos cinco ônibus espaciais construidos (sem contar outros dois de testes, que não tinham capacidade para atingir o espaço), dois se desintegraram na atmosfera, matando todos os seus ocupantes. Em janeiro de 1986, devido a um vazamento de combustível, o Challenger explodiu no ar, pouco mais de um minuto após o seu lançamento e em fevereiro de 2003, devido a uma fissura em uma de suas asas, o Columbia se desintegrou ao reentrar na atmosfera terrestre.

A idéia de um veículo reutilizável; lançado por foguetes; capaz de orbitar nosso planeta como uma aeronave; reentrar na atmosfera e pousar como um avião é bem antiga; anterior mesmo ao programa Apolo e à própria NASA. A NACA (National Advisory Committee for Aeronautics; precursora da NASA) desenvolveu na década de 50 o projeto do X-15, aquele que podemos apontar como o precursor dos ônibus espaciais. O X-15 foi uma aeronave impulsionada por foguetes que no início da década de 60 bateu os recordes mundiais de velocidade e altitude. Treze dos vôos do X-15 atingiram altitude superior a 80 km, sendo que dois deles foram além dos 100 km (o que deu a seus pilotos o status de astronautas).

Acredito que os aprendizados mais importantes que tivemos com o programa dos ônibus espaciais vieram com os erros cometidos. A começar pela concepção de “imensas” naves. Ainda não era a hora. Para os propósitos a que os ônibus espaciais têm se prestado, as pequenas Soyouz russsas têm se mostrado muito mais eficientes, seguras e baratas.

Será que os ônibus espaciais foram desenvolvidos com propósitos também bélicos? Em princípio um ônibus espacial poderia levar armas nucleares ao espaço, manobrar e atingir o inimigo de surpresa. Aparentemente foi essa possibilidade bélica dos ônibus espaciais que levou a antiga União Soviética a desenvolver o seu programa de naves espaciais reutilizáveis.

Poucos se lembram, mas a União Soviética também teve os seus ônibus espaciais. Como uma resposta ao programa dos ônibus espaciais norte americanos, o governo Soviético, em 1976, determinou o desenvolvimento de um projeto semelhante. Foram dois os ônibus espaciais construídos por eles: O Buran (nevasca em russo) e o Ptichka (ave pequena).

O Buran foi ao espaço apenas duas vezes. Em abril de 1983 ele realizou um vôo suborbital e em novembro de 1988 completou duas órbitas em torno da Terra, chegando à altitude de 256 km. Nesses vôos o Buran foi controlado remotamente, uma vez que o sistema de sustentação da nave ainda não havia sido testado e temia-se uma tragédia semelhante à que havia acontecido recentemente com o Challenger. Apesar de não tripulado o desempenho do Buran foi um grande sucesso, trazendo otimismo ao pessoal envolvido com o programa espacial soviético.

O segundo ônibus espacial construído pela União Soviética não chegou a ser concluído. De concepção semelhante ao Buran, o Pitichka teve a sua construção iniciada em 1988, com previsão de um primeiro vôo à Estação Espacial Mir em 1992; voo este que nunca aconteceu.

O programa dos ônibus espaciais soviéticos foi cancelado oficialmente em 1993, mas já não contava com liberação de verbas para o seu desenvolvimento desde 1991, com o fim da União Soviética.

Fonte: Renato Las Casas/Olhar longe (Colunista do Portal Uai)

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