terça-feira, 15 de setembro de 2009

Programa da BBC explica acidentes no Triângulo das Bermudas

Documentário conclui que queda de dois aviões na década de 40 teria sido resultado de problemas técnicos e falta de combustível.

O misterioso desaparecimento, na década de 1940, de dois aviões na região conhecida como o Triângulo das Bermudas pode ter sido resolvido.

Ao longo de muitas décadas, várias embarcações e aviões teriam desaparecido sem deixar traço na área, situada entre pontos imaginários na Bermuda, Flórida e Porto Rico.

Entretanto, uma investigação feita como parte de uma série de documentários da BBC encontrou explicações possíveis para o desaparecimento de duas aeronaves comerciais britânicas no local, resultando na morte de 51 pessoas.

Um avião teria sofrido uma pane técnica resultante de falhas estruturais e o outro teria ficado sem combustível, concluíram especialistas.

Jornada Perigosa

Há 60 anos, voos comerciais entre Londres e a ilha Bermuda, no Caribe, eram recentes e perigosos.

A jornada requeria um pouso para reabastecimento nos Açores. Depois, o avião teria de cobrir a distância de 3.200 km até a ilha, o que fazia deste o mais longo voo comercial transoceânico daquela época.

Os aviões operavam no limite de sua capacidade. Hoje em dia, aeronaves que pousam na minúscula ilha têm reservas suficientes de combustível para, em caso de emergência, alcançar a costa leste dos Estados Unidos, a cerca de 1.100 quilômetros de distância.

Os aviões do pós-guerra eram muito menos confiáveis do que os de hoje.

E os padrões de segurança da companhia britânica British South American Airways (BSAA, na sigla em inglês), que operava aquela rota, eram famosamente ruins: em três anos a empresa tinha sofrido 11 acidentes sérios e perdido cinco aviões, resultando na morte de 73 passageiros e 22 tripulantes.

No dia 30 de janeiro de 1948, um avião Avro Tudor IV da BSAA - o Star Tiger - carregando 25 passageiros e 6 tripulantes desapareceu sem deixar pistas. Nenhum destroço ou corpo foi encontrado.

Uma investigação oficial feita no período concluiu que "nunca se saberá o que aconteceu neste caso e o destino do Star Tiger deverá permanecer um mistério sem solução".

Entretanto, uma série de pistas incluídas no relatório oficial sobre o acidente revelam que o Star Tiger havia apresentado problemas técnicos antes de chegar aos Açores.

O aquecedor do avião, conhecido por sua baixa confiabilidade, havia falhado durante a jornada e uma das bússolas não estava funcionando.

Os especialistas concluíram que, para manter o avião aquecido, o piloto tinha decidido voar toda a jornada sobre o Atlântico em altitudes muito baixas - a cerca de 600 metros - queimando combustível muito mais rápido.

Ao se aproximar de Bermuda, o Star Tiger estava um pouco fora de curso e havia voado uma hora a mais do que o planejado.

Os relatórios do Ministério da Aviação Civil britânico também observam que os ventos enfrentados pelo avião podem ter sido muito mais fortes do que o previsto. Isto também teria acelerado a queima do combustível.

"Voando a 600 metros eles teriam usado muito mais combustível", disse Eric Newton, investigador de acidentes do Ministério da Aviação Civil, à BBC.

"E a 600 metros você deixa muito pouca altitude para manobras. Em qualquer emergência séria, eles teriam perdido altura em segundos e caído no mar".

O que quer que tenha acontecido ao avião, foi repentino e teve consequências catastróficas - o piloto não teve tempo de enviar um alerta de emergência.

Segundo Acidente

Quase um ano depois do desaparecimento do Star Tiger, outro Avro Tudor IV da BSAA desapareceu entre Bermuda e Jamaica.

Uma hora após decolar da Bermuda no dia 17 de janeiro de 1949, o piloto do Star Ariel enviou uma mensagem de rotina comunicando sua posição, mas o avião desapareceu sem deixar traços a uma altitude de 5.500 metros.

Mais uma vez, não foram encontrados destroços ou corpos.

Neste caso, o design ruim da aeronave pode ter sido o responsável, segundo Don Mackintosh, ex-piloto de aviões Tudor IV da BSAA.

E o principal suspeito seria o aquecedor da cabine, situado sob o piso, embaixo do assento do co-piloto.

Naquele período, as tecnologias de aquecimento de aeronaves eram precárias.

"O aquecedor jogava combustível dentro de um cano quente", disse Mackintosh. "E ficava bem perto dos tubos hidráulicos".

O capitão Peter Duffey, ex-piloto da BSAA que mais tarde pilotou o Concorde da British Airways também acredita que a proximidade entre aquecedor e os canos hidráulicos foi crucial.

"A minha teoria é que por causa de um vazamento, vapores hidráulicos escaparam (do cano) e entraram no aquecedor, causando uma explosão".

O relatório de Newton concluiu algo semelhante: "Se o aquecedor pegou fogo embaixo do piso, o problema pode ter atingido proporções catastróficas antes de que a tripulação pudesse fazer qualquer coisa a respeito".

"Não havia, como há hoje, extintores automáticos de incêndio para apagar o fogo. Não havia alarme (de fumaça) onde estava o aquecedor. Então ninguém teria sabido do problema, até que fosse tarde demais".

Teorias Conspiratórias

O relatório sobre o desaparecimento do primeiro avião, o Star Tiger, sugeriu na época que talvez "alguma causa externa possa ter vencido ambos homem e máquina".

As palavras dos investigadores, que permitem inúmeras interpretações, abriram as portas para todo tipo de teorias, contribuindo para a criação do mito do Triângulo das Bermudas.

Ou pelo menos isto é o que concluiu a série de programas da Rádio 4 da BBC intitulada Inside The Bermuda Triangle - The Mysteries Solved, que começou a ser transmitida na segunda-feira.

Fonte: BBC Brasil via Estadão.com.br

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