A omissão continuada das autoridades tem sido mais nociva ao Aeroporto Internacional Salgado Filho do que os nevoeiros causadores de atrasos e cancelamentos de voos. Há 15 anos que o governo federal, o Estado e a prefeitura de Porto Alegre adiam a instalação de um equipamento indispensável para reduzir os efeitos da neblina. Enquanto transferem suas responsabilidades entre si, impõem prejuízos a passageiros, companhias aéreas e empresas de comércio exterior.
Oproblema que emperra o Salgado Filho está corporificado em 2.978 famílias, das vilas Dique, Nazareth e Floresta, que invadiram áreas junto à cabeceira do aeroporto. Elas impedem a ampliação da pista em mais 920 metros. A obra é necessária para que seja instalado o equipamento ILS categoria 2 (Instrumental Landing System), que facilita pousos e decolagens em dias de pouca visibilidade.
Especialistas alertam que a atual pista – de 2.280 metros de comprimento por 42 metros de largura – não comporta o ILS 2 devido aos obstáculos à volta. Avaliado em R$ 5 milhões, o aparelho está com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), mas o Salgado Filho segue operando com o ILS categoria 1.
O professor de Engenharia Aeronáutica da Universidade de São Paulo (USP) James Rojas Waterhouse compara a situação à de um navio com um furo no casco. Observa que os tripulantes – presidentes da República, governadores e prefeitos – não se interessam em tapá-lo. Cada um achou que a tarefa era do outro. Ao final, todos se eximiram:
– Não se dão conta de que o furo, as três vilas na cabeceira da pista, não tem lado, é responsabilidade de todos.
Professor de Homologação Aeronáutica da USP, Waterhouse ressalta que o Salgado Filho reflete dois sintomas típicos de administradores brasileiros. Primeiro, o da omissão: não evitaram que as famílias ocupassem a cabeceira da pista. Segundo, o da falta de planejamento: os gestores da União, do Estado e da prefeitura não tiveram capacidade de resolver o imbróglio.
Demora amplia os prejuízos
Remover as famílias no início, reassentando-as em áreas estruturadas, teria saído mais barato do que os transtornos provocados pelo nevoeiro.
– Países desenvolvidos partem do pressuposto de que quem ocupa não tem direito a reclamar – cita.
O professor aposentado do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP), Protógenes Pires Porto, sugere planejamento já na construção do aeroporto. A escolha de amplas áreas, com reservas laterais para a pista e os terminais de passageiros, previne o assédio da cidade.
No caso do Salgado Filho, “assediado” por três vilas, o professor Waterhouse, da USP, acrescenta que as autoridades federais, estaduais e municipais se aproveitaram da “responsabilidade difusa” para se esconder.
– Lavaram as mãos, houve um jogo de empurra. Autoridades gostam de inaugurar obras, mas tendem a rejeitar os filhos feios – destaca.
Fonte: Nilson Mariano (Zero Hora) - Foto: Exame
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domingo, 30 de agosto de 2009
A omissão apequenou o aeroporto Salgado Filho
Impasse de 15 anos entre União, Estado e prefeitura adia a ampliação da pista, necessária para solucionar atrasos em voos
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