quinta-feira, 7 de março de 2024

'Oficinas do crime': operação revela esquema de pilotos e mecânicos de helicópteros a serviço do tráfico de drogas e do garimpo ilegal

O Fantástico teve acesso a áudio e vídeos que mostram como funcionava o esquema. Oficinas clandestinas guardavam peças, faziam manutenção e até montavam helicópteros a serviço do crime.


Uma operação da Polícia Federal em cinco estados desmantelou uma quadrilha que atuava em garimpos ilegais e transportava drogas para o tráfico internacional.

O Fantástico teve acesso a áudio e vídeos que mostram como funcionava o esquema. Oficinas clandestinas guardavam peças, faziam manutenção e até montavam helicópteros a serviço do crime. 


A descoberta do esquema

Em um vídeo, um homem, identificado como o piloto Silvio Sant'Anna oferece voo ilegal para as crianças indígenas. De acordo com a polícia, a gravação foi feita na região Norte do Brasil, em uma área de garimpo ilegal. 

As imagens foram encontradas no celular do piloto, depois que ele foi preso em uma operação, no dia 22 de fevereiro. Segundo as investigações, Sílvio faz parte de uma organização criminosa que atua em garimpos ilegais e transporta drogas para o tráfico internacional.

“Pilotos dedicados a esse transporte da cocaína. E contando com a estrutura em solo, contando com o apoio logístico”, ressalta Edmar Rogério Dias Caparroz, delegado da Polícia Civil-SP.

Os planos dessa quadrilha começaram a dar errado em agosto do ano passado, quando a polícia apreendeu mais de 600 quilos de cocaína no interior de São Paulo e em Goiás, pertencentes ao grupo criminoso PCC.

Construção e negociação de aeronaves

Segundo a Polícia Federal, além das atividades de manutenção, a organização criminosa utilizava uma empresa de metalurgia em Goianira, na região metropolitana de Goiânia, como fachada para uma oficina clandestina que também construía aeronaves. No local, a PF encontrou um helicóptero que ainda estava sendo montado e apreendeu várias peças.

Durante as investigações os agentes descobriram a existência de outra oficina clandestina a serviço do crime organizado, equipada com um hangar e um heliponto, operando sem autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

“São aeronaves que já há a suspensão da documentação pela ANAC ou está avariada ou está abatida, ela não pode estar em voo", afirma.

Quase todos os sinais de identificação foram removidos ou foram raspados para evitar rastreamento. Além disso, a quadrilha realizava gambiarras, como a instalação de galões de combustível nas aeronaves para voarem por mais tempo e mais longe, sem a documentação adequada.

Um áudio revelou uma negociação feita pelo piloto Silvio Sant'Anna. Um modelo de helicóptero que custa em média R$ 2,9 milhões é vendido por um valor inferior ao mercado.

Silvio: "O cara quer quanto? R$ 1,4 milhão?"

Homem não identificado: "R$ 1,4 milhão, o mecânico me passou aqui."

Silvio Sant'Anna foi preso quando pousava no aeroporto de Macaé, no Rio de Janeiro.

Apreensões de helicópteros e prisões de suspeitos

Desde o início da investigação, a polícia já apreendeu 8 helicópteros usados pela organização, incluindo uma aeronave que foi furtada no interior do Paraná e apreendida dias depois no Paraguai.

"A cor vermelha que é a cor que ele se encontrava no momento do furto, mais acima características de uma cor azul, que é a cor do fabricante e por sua vez ele já estava todo pintado de branco acinzentado, na semelhança de nuvens para dissimular o seu voo no céu", ressalta Adriana - delegada da Polícia Civil/SP.

Por nota, a defesa do piloto Silvio Sant'Anna diz que ele não praticou e não tem ciência de nenhuma conduta criminosa, alegando que Silvio tem emprego fixo e conduta reconhecida perante a sociedade.

A defesa do mecânico Junior Batista de Oliveira diz que Junior não mantém qualquer vínculo com a organização criminosa, apenas presta serviços de reparação mecânica nas aeronaves.

Na operação realizada há 10 dias, 240 agentes da Polícia Civil e da Polícia Federal foram para as ruas de 13 cidades, em cinco estados do Brasil. Dos 18 mandados de prisão, 16 foram cumpridos. Duas pessoas ainda estão foragidas. Entre elas, o piloto que teria roubado e adulterado um helicóptero.

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