sábado, 16 de abril de 2022

Guerra na Ucrânia: qual o potencial risco do uso de armas nucleares?

A Rússia tem muitas armas nucleares táticas. De acordo com o Boletim dos Cientistas Atômicos, há 1.588 ogivas nucleares russas, sendo 812 em mísseis terrestres, 576 em submarinos e 200 em bombardeiros.

Aeronave Blackjack (Tu-160), da força nuclear estratégica da Rússia em foto sem data
(Foto: Reprodução/Tupolev/Arquivo)
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse nesta sexta-feira (15) que "o mundo inteiro" deveria estar "preocupado" com o risco de que Vladimir Putin, em resposta aos reveses militares na Ucrânia, possa recorrer a uma arma nuclear tática, reforçando o alerta já feito pelo diretor da Inteligência dos EUA (CIA). O precedente seria extremamente perigoso e quebraria um tabu existente desde 1945.

O chefe da CIA, William Burns, declarou nesta quinta-feira (14) que a ameaça representada pelo “uso potencial de armas nucleares táticas" ou de "baixa potência" pelo presidente russo, Putin, em caso de desespero diante dos fracassos de seu exército, deveria ser levada a sério.

Mas Burns acrescenta que "nós realmente não vimos nenhum sinal concreto, como deslocamentos ou ações militares que possam aumentar nossas preocupações".

Questionado pelo canal americano CNN se compartilhava dessa preocupação, o presidente Zelensky respondeu: "Não só eu, acho que o mundo inteiro, todos os países deveriam estar preocupados".

Ele explicou que essa preocupação dizia respeito a "armas nucleares" ou "armas químicas". "Eles podem fazer isso", acrescentou, "para eles, a vida das pessoas não vale nada", insistiu Zelensky na entrevista que será transmitida na íntegra, no domingo (17), mas que a CNN já publicou um trecho.

"Não fiquemos preocupados, estejamos preparados", acrescentou o presidente ucraniano. "Mas esta não é uma questão da Ucrânia", diz respeito “ao mundo inteiro", insistiu.

A hipótese foi levantada logo após o início das hostilidades, quando Vladimir Putin indicou que havia ordenado a seus generais para que "colocassem as forças de dissuasão do exército russo em alerta especial de combate".

Arsenal


A Rússia tem muitas armas nucleares táticas, menos poderosas do que a bomba de Hiroshima, por exemplo. Menor em carga explosiva do que uma arma nuclear estratégica, a arma nuclear tática é teoricamente destinada ao campo de batalha, sendo transportada por um vetor com alcance inferior a 5.500 km.

A tática russa de "escalada-desescalada" consistiria em primeiro usar uma arma nuclear de baixa potência, para ganhar vantagem em caso de um conflito convencional com o Ocidente.

“Eles precisam desesperadamente conquistar vitórias militares para transformá-las em alavancagem política", explicou à AFP Mathieu Boulègue, do instituto de análises britânico Chatham House, no final de março.

"As armas químicas não mudariam a guerra. Uma arma nuclear tática, que destruísse uma cidade ucraniana, sim. É improvável, mas não impossível. E seria o colapso de 70 anos da teoria da dissuasão nuclear", ele acrescenta.

Míssil é lançando por tropas ucranianas perto de Luhansk, na região de Donbass
no domingo, 10 (Foto: Anatolii Stepanov/AFP)
Para Pavel Luzin, analista do Instituto Riddle, com sede em Moscou, a Rússia poderia usar uma arma nuclear tática “para desmoralizar um adversário, para impedir que o inimigo continue lutando”. O objetivo é antes de tudo "demonstrativo", acrescenta o especialista à AFP. "Mas se o adversário ainda quiser lutar depois, a arma pode ser usada de forma mais direta."

Tecnicamente, Moscou está equipada. De acordo com o respeitado Boletim dos Cientistas Atômicos, "1.588 ogivas nucleares russas estão implantadas", sendo 812 em mísseis terrestres, 576 em submarinos e 200 em bombardeiros.

Outros observadores preferem acreditar que o tabu absoluto permanece. Se Vladimir Putin decidir destruir até mesmo uma aldeia ucraniana para mostrar sua determinação, a área seria potencialmente barrada à vida humana por décadas.

"O custo político seria monstruoso. Ele perderia o pouco apoio que lhe resta. Os indianos recuariam, os chineses também", afirma à AFP William Alberque, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). "Eu não acho que Putin faça isso", conclui.

Para os especialistas, a Rússia não desfrutaria da estatura militar que tem hoje sem o seu poderio nuclear. O país não constituiria uma ameaça de tal magnitude apenas com suas forças convencionais, que mostram uma imensa capacidade de destruição na Ucrânia, mas, também, fraquezas táticas, operacionais e logísticas.

Via RFI

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