domingo, 5 de dezembro de 2021

Marília Mendonça: 1 mês após acidente, Cemig ainda não foi ouvida pela polícia

Segundo delegado Ivan Lopes Sales, há a possibilidade de que a queda tenha sido causada por colisão contra linhas de torres de distribuição da Cemig. Acidente aconteceu no dia 5 de novembro.


Exatamente um mês após o acidente aéreo que matou a cantora Marília Mendonça, a Polícia Civil continua com as investigações para apurar as causas do acidente, mas a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) disse que ainda não foi ouvida.

O acidente aconteceu no dia 5 de novembro, em Caratinga, na Região do Vale do Rio Doce de Minas Gerais. O piloto, Geraldo Medeiros; o copiloto, Tarciso Viana; o produtor Henrique Ribeiro; e o tio e assessor de cantora, Abicieli Silveira Dias Filho, também morreram.

Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é justamente a possibilidade de a aeronave ter caído após colisão contra linhas de torres de distribuição da Cemig.

Em coletiva de imprensa no último dia 25, o delegado Ivan Lopes Sales disse que o piloto estava a apenas um minuto do pouso e que todos os exames para uso de álcool ou para doenças preexistentes nas vítimas deram negativo.

Assim, segundo ele, a Polícia Civil trabalha com duas linhas de investigação para explicar a queda do avião:
  • a hipótese de que as linhas de distribuição de uma torre da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) teriam provocado o acidente;
  • a possibilidade de pane nos motores, o que depende de investigação do Cenipa, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
"A gente avançou com essa oitiva. Não descartamos nenhuma possibilidade. Mas há fortes indícios que as linhas de transmissão teriam sido as causadoras do acidente", disse o delegado Ivan Lopes Sales no dia.

O g1 procurou a Polícia Civil na tarde da última sexta-feira para ver se houve atualização nas investigações e para ver quem já foi ouvido até o momento, mas a única resposta foi que "a investigação encontra-se em andamento e mais informações serão repassadas após a conclusão do inquérito policial".

Já a Cemig disse que "nenhum representante da Companhia foi chamado para prestar depoimento".

A Cemig também enviou a seguinte nota:

"A Cemig esclarece que a Linha de Distribuição atingida pela aeronave prefixo PT-ONJ, no trágico acidente do dia 5/11, está fora da zona de proteção do Aeródromo de Caratinga, nos termos de Portaria específica do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), do Comando da Aeronáutica Brasileiro (como mostra imagem já divulgada pela Cemig).

Imagem enviada pela Cemig mostra o posicionamento da linha de distribuição (Imagem: Cemig)
Reiteramos que a Cemig segue rigorosamente as Normas Técnicas Brasileiras e a regulamentação em vigor em todos os seus projetos.

A sinalização por meio de esferas na cor laranja é exigida para torres em situações específicas, entre elas estar dentro de uma zona de proteção de aeródromos, o que não é o caso da torre que teve seu cabo atingido.

A Cemig informa ainda que os obstáculos que constam no NOTAM não se referem à torre de distribuição que teve o cabo atingido. Um desses obstáculos é de outra torre que pertence à Cemig e que consta com esferas de sinalização na cor laranja, por estar dentro da zona de proteção do Aeródromo, conforme Normas Técnicas Brasileiras e a regulamentação em vigor.

As investigações das autoridades competentes irão esclarecer as causas do acidente. A Companhia mais uma vez lamenta esse trágico acidente e se solidariza com parentes e amigos das vítimas".

Cenipa segue com apurações


Motor foi resgatado em mata fechada (Foto: Fervel Auto Socorro/Divulgação)
Os motores da aeronave estão sendo analisados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Segundo nota da Cenipa, enviada ao g1 na quinta-feira (3), "está em andamento a investigação do acidente envolvendo a aeronave de matrícula PT-ONJ ocorrido em Caratinga (MG). O objetivo das investigações realizadas pelo CENIPA é prevenir que novos acidentes com características semelhantes ocorram".

O Centro disse ainda que "a conclusão das investigações terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes".

Nenhum outro detalhe sobre o andamento das apurações foi informado pelo órgão.

MPF em sigilo


O Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais também acompanha as investigações sobre a queda do avião. O órgão instaurou procedimento um dia após o acidente.

Procurado, o MPF disse ao g1 que "o procedimento corre sob sigilo" e não passou mais detalhes.

Testemunha


Um piloto que pousou 20 minutos depois do acidente envolvendo a cantora Marília Mendonça disse que não ouviu no rádio qualquer problema vindo da aeronave que ela estava. A afirmação foi feita em depoimento à Polícia Civil, que investiga as causas do acidente.

Ele vinha de Viçosa, na Zona da Mata, com destino ao Aeroporto de Ubaporanga, em Caratinga. Os dois pilotos chegaram a conversar pelo rádio.

Violão da cantora Marília Mendonça é retirado de aeronave (Foto: Carlos Eduardo Alvim/ TV Globo)
Segundo o delegado Ivan Lopes Sales, a testemunha disse que o avião da cantora estava em procedimento de pouso.

"O piloto já estava em procedimento de pouso. A estimativa é que o piloto que se acidentou estava a um minuto, um minuto e meio do pouso”, disse o delegado.

Politraumatismo


O médico-legista Thales Bittencourt de Barcelos disse, em entrevista no dia 25 de novembro, que a cantora Marília Mendonça morreu vítima de politraumatismo.

Além da artista, o piloto, Geraldo Medeiros; o copiloto, Tarciso Viana; o produtor Henrique Ribeiro; e o tio e assessor de Marília, Abicieli Silveira Dias Filho também foram vítimas de politraumatismo.

Segundo ele, todos os ocupantes morreram em consequência do choque da aeronave com o solo. Ou seja, as mortes aconteceram apenas depois que todos já estavam no chão.

Ele também disse que, por segurança, foi coletado material para exames complementares "para identificar outras causas que poderiam concorrer de alguma forma com o óbito": exames toxicológicos, de teor alcoólico e anatopatológicos (para ver se as vítimas tinham alguma doença prévia que poderia contribuir com a morte). Todos esses exames deram negativo.

A aeronave


O avião que caiu era um Beechcraft King Air C90a, um bimotor bastante utilizado na aviação executiva no mundo inteiro, da companhia de táxi aéreo PEC.

A aeronave fabricada em 1984 tinha capacidade para 6 passageiros e estava em situação normal de aeronavegabilidade, ou seja, estava dentro dos parâmetros para fazer esse tipo de transporte, e autorizado para a aviação executiva.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que o avião não tem caixa-preta.


Por Maria Lúcia Gontijo, g1 Minas — Belo Horizonte

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