quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Mais segurança em Congonhas

Quase 15 anos após acidente com Airbus da TAM, aeroporto em São Paulo ganhará em 2022 sistema emergencial de frenagem de avião.


Há pouco mais de 14 anos, as imagens do Airbus A320da TAM cruzando a pista do aeroporto de Congonhas antes de ser chocar com o prédio da própria companhia na avenida Washington Luis, em São Paulo, rodaram o mundo. O acidente com o voo JJ 3054, proveniente de Porto Alegre, tornou-se o mais grave da aviação comercial brasileira, com 199 mortos – 187 pessoas a bordo, além de outras 12 em solo. 

Desde então, medidas de segurança foram adotadas no setor, para tentar evitar ou ao menos minimizar a gravidade de outras possíveis ocorrências. A mais recente delas é a instalação de áreas de escape em Congonhas, o terceiro aeroporto mais movimentado do País, atrás apenas de Brasília, o vice-líder, e de Cumbica, em Guarulhos. As obras tiveram início em fevereiro e já ultrapassaram 51% de execução. O Ministério da Infraestrutura pretende entregar o sistema emergencial de frenagem de aviões em março de 2022, ao custo de R$ 122,5 milhões.

A tecnologia Emas (Engineereed Material Arresting System) – sistema de materiais de engenharia para detenção de aeronaves, em português – consiste em uma estrutura formada por blocos de concreto que se deformam e ajudam a desacelerar uma aeronave que avançar o limite final da pista. 

O método já é utilizado em aeroportos na Europa, Ásia e nos Estados Unidos, especialmente onde não existe espaço suficiente para uma área de segurança de fim de pista, conhecida como Runway Safety Area. Congonhas é dos mais críticos nesse sentido. A proposta do sistema é similar às das áreas de escape implantadas em algumas rodovias para utilização de veículos com falhas nos freios.

O aeroporto da Zona Sul de São Paulo será o primeiro da América Latina a ter o sistema, que suportará velocidade de até 50 nós (cerca de 90 km/h). Um dos benefícios do modelo é oferecer segurança sem causar grandes avarias nos aviões, que normalmente podem voltar às atividades após reparos. Congonhas já havia recebido algumas melhorias recentemente. No ano passado, foi recuperado o asfalto da pista principal, que recebeu camada porosa de atrito, o que aumentou a aderência dos jatos e pôs fim ao problema de aquaplanagem. A obra custou R$ 11,5 milhões.

Projeto vai exigir obras complementares no entorno da pista do aeroporto de Congonhas
Ao término das intervenções coordenadas pela Infraero, a pista principal de Congonhas terá duas novas áreas de escape – uma de 70m x 45m na cabeceira 17R e outra de 75m x 45m na cabeceira 35L. As duas estruturas serão sustentadas por pilares e vigas capazes de suportar o peso das aeronaves. O projeto prevê ainda obras complementares nas pistas de taxiamento nas regiões próximas ao Emas. “Há harmonia entre a execução das obras e a operação do aeroporto”, disse Tarcísio Gomes de Freitas, ministro de Infraestrutura. O que significa que elas não prejudicaram o movimento.

Apesar de a iniciativa do governo federal ter demorado, tendo em vista que o acidente da TAM ocorreu em 17 de julho de 2007, a construção das áreas de escape em Congonhas é elogiada por Paulo Nicatti. Com 37 anos de carreira, o comandante acredita que a implantação da tecnologia Emas é essencial. “É uma decisão muito importante, já adotada em várias partes do mundo e que vai trazer mais segurança para as operações.” 

Ele afirmou que após o acidente com o avião da TAM, as companhias, sob recomendação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), passaram a atuar em Congonhas com redução virtual da pista. “Você tem 1.800 metros [são 1.940], mas corta 200m. Decola como se ela tivesse 1.600m, para deixar uma área livre”, disse. A decisão limitou o peso máximo da aeronave tanto para decolagem como para pouso no aeroporto.

Com experiência de oito anos na ponte aérea Rio-São Paulo, à época da tragédia no comando de aviões da Gol, Nicatti cobra a adoção do Emas no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, ao destacar que a rota entre as duas capitais é a segunda mais movimentada da América Latina – atrás apenas de Bogotá –Medellín, na Colômbia. O equipamento para o terminal carioca passará por concessão em 2022. “A situação do Santos Dumont é mais crítica em relação a São Paulo por estar situado em uma área de proteção ambiental”, afirmou ele, ao destacar que, no Brasil, os aeroportos de Ilhéus (BA), Porto Seguro (BA), Joinville (SC) e Navegantes (SC) também não possuem área de escape.

Por Angelo Verotti (IstoÉ) - Fotos: Divulgação

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